Neste último domingo, 7 de julho, o portal Brasil 247 publicou uma coluna de título “Não avacalham o trabalhismo inglês. Vive la France!”, assinada por Vivaldo Barbosa. A matéria, continua, ainda que mais criticamente, uma exaltação às supostas vitórias da esquerda na Inglaterra e na França nas últimas eleições.
“A derrota do conservadorismo na Inglaterra é uma coisa de grande e boa repercussão na política mundial. Enfraquece, sem dúvida, algumas ondas conservadoras e fascistas que se verificam por aí. Até Trump vai sentir o impacto, assim como esse maluco da Argentina, o Milei.
“A vitória do trabalhismo inglês impôs um fim a esta política ultra liberal de prioridade do chamado ‘equilíbrio fiscal’, impondo cortes em políticas sociais, arrocho nos ganhos dos mais pobres e vantagens para os mais ricos e outros absurdos.”
Em primeiro lugar, a chamada derrota do conservadorismo, da direita tradicional, foi orquestrada para garantir a vitória da chamada centro-esquerda, a ala direita do Partido Trabalhista, que compõe o mesmo setor político que o Partido Conservador, ou seja, o imperialismo. Nesse sentido, o que haverá é não uma distensão da crise, ou um avanço da classe operária, mas um aprofundamento da crise, especialmente conforme se torne mais clara a farsa operada.
O teor da figura política de Keir Starmer já foi exposto de maneira aprofundada por este Diário no seguinte artigo: ‘É um golpe!’, diz jornalista sobre ascensão de Keir Starmer. O que houve foi um adiamento muito breve do desenrolar da crise. Assim sendo, o fortalecimento contra a extrema direita é na realidade um fortalecimento não da esquerda, mas do bloco central do imperialismo. Este bloco, é importante que fique claro, é o principal articulador de golpes de Estado e ditaduras por todo o mundo.
A sequência então é também uma farsa, sobre a política econômica da Inglaterra. A crise econômica internacional se mantém e o governo eleito, é mais um subordinado ao capital financeiro. Nesse sentido, não haverá mudança alguma na política econômica do país. Pelo contrário, a tendência é de intensificação dos ataques à classe operária, inclusive por meio da política de guerra, já publicamente apoiada por Starmer, por exemplo, no caso da Ucrânia. O próprio autor em parte o admite:
“O primeiro-ministro, Starmer, é uma figura controversa. Como Chefe do Ministério Público dos governos anteriores, teve grande influência na prisão de Julian Assange. Foi feito líder do Labour Party, expulsou os setores mais à esquerda, inclusive o líder anterior, Jeremy Corbyn, grande figura do trabalhismo, que apresentou excelente programa de governo, mas foi derrotado, dizem que por causa de massiva atuação nas redes dizendo que seu programa era antissemita.
[…]
“No seu discurso de posse, ele defendeu a OTAN, esta aliança militar espúria que parece querer dominar militarmente o mundo, sob a liderança dos Estados Unidos.”
As acusações de antissemitismo direcionadas a Jeremy Corbyn partiram da ala direita, que operou um golpe dentro do Partido Trabalhista, e vieram de setores ligados ao sionismo. Assim, o país terá um governo não alinhado à Palestina, como os protestos de rua pela Inglaterra exigem, e sim um governo profundamente alinhado ao sionismo, ao Estado de “Israel”.
Starmer é ligado umbilicalmente ao imperialismo, e os dois casos citados o tornam evidente. Sendo o imperialismo a força política mais reacionária do planeta, não há o que comemorar.
O autor ainda afirma categoricamente que o governo será “mais conservador do que trabalhista. Assim aconteceu com o Tony Blair, que traiu o trabalhismo.” Contraditoriamente, porém, conclui dizendo:
“Saudamos a vitória como derrota dos conservadores, mas seremos observadores vigilantes.”
Cabe observar a consequência de tal política: a desmobilização das bases de esquerda e dos trabalhadores. Se não há o que esperar de bom, é preciso dizê-lo claramente às massas. Elas o perceberão inevitavelmente, e se insurgirão contra essa política.
Conforme reine a confusão, o resultado inevitável será apenas atrasado. Até lá, contudo, a destruição das condições de vida dos trabalhadores, as guerras, a exploração e colonização dos países atrasados fará mais vítimas.
Não há razões para comemorar, mas para mobilizar imediatamente os trabalhadores na luta por seus próprios interesses. Uma fantasia eleitoral pode ser um sonho doce, mas não perdurará, e o incremento do desamparo da classe operária será o único resultado da política de um setor da esquerda de não encarar a realidade de frente.