Frente Popular na França

Uma esquerda viciada em ser derrotada nas eleições

A Frente Ampla é uma derrota na eleição, se ele é vitoriosa, a esquerda não vence, e no atual momento, ela fortalece a campanha da extrema direita 

A vitória da extrema direita nas eleições da França acendeu o sinal vermelho para setores da esquerda. Ficou obvio que a situação é crítica. No entanto, a esmagadora maioria da esquerda não entendeu a essência do problema. A esquerda francesa está prestes a cometer um grande erro, se aliando ao Partido Socialista, e a esquerda brasileira não compreende isso. É o caso do Esquerda Online, que publicou o artigo Para onde vai a França?, de Jean Leblanc.

Depois de uma análise sobre os resultados da eleição, ele aborda a questão da nova aliança da esquerda: “os partidos – únicos a poderem apresentar candidatos – se reuniram imediatamente após a publicação dos resultados das eleições europeias e concluíram um acordo de princípio, já no dia 9 a noite, sobre candidaturas únicas da esquerda em todos os distritos. O nome adotado para essa união é altamente simbólico: a Nova Frente Popular, inspirada na Frente Popular de 1936 que viu um governo dirigido por um socialista pela primeira vez da história”.

Antes de analisar os argumentos apresentados, vale discorrer um pouco sobre a primeira Frente Popular, de 1936. Ela foi fruto da luta contra o fascismo na França, surgiu de um enorme movimento operário. Essa Frente Popular foi responsável por acabar com o movimento revolucionário de 1936 e, depois, foi incapaz de levar a França, o país mais importante do continente, a lutar contra o nazismo. Ou seja, foi um exemplo de fracasso total. Só o fato dela ser referência já mostra o tamanho do erro da esquerda.

Ele então destaca: “ao longo da semana foram negociados os 577 distritos e sua repartição entre os partidos: 229 para a FI, 175 para o PS, 92 para os ecologistas e 50 para o PCF. O programa, anunciado dia 14, segue uma orientação classicamente social-democrata. Ele promete dar uma nova dinâmica à política francesa a partir de um projeto composto por 150 medidas e dividido em três etapas: a ruptura, nas duas primeiras semanas; as bifurcações, nos três primeiros meses; as transformações, nos meses seguintes. Nas medidas imediatas listadas constam os congelamentos dos preços sobre bens de consumo fundamentais (alimentação, energia, combustíveis), o aumento do salário-mínimo de 1398 € a 1600 €, o aumento do subsídio moradia de 10%, o congelamento dos grandes projetos infraestruturais antiecológicos e a ruptura com o governo de Netanyahu”.

A França Insubmissa, FI, seria a ala esquerda dessa frente, com o maior número de distritos. O Partido Socialista, PS, seria o segundo maior. E o Partido Comunista Francês, PCF, seria o terceiro lugar. O texto não discerne entre as diferentes forças, mas isso é o cerne da questão. O PS de 2024 não é o PS de 1936. Hoje, ele é o partido do imperialismo da França. Em grande medida, o PS formulou o partido de Macron, a falência do PS e do Partido Republicano gerou Macron. Ou seja, dentro da NFP está um dos grandes representantes do imperialismo. Um partido que não só é um inimigo dos trabalhadores da França, mas que até do ponto de vista eleitoral é falido. Na Alemanha, o equivalente ao PS francês, o SPD, foi derrotado pela extrema direita.

Ele então destaca “aos partidos citados se somaram o Novo Partido Anticapitalista (NPA, revolucionário) e muitas associações, movimentos feministas, antirracistas e ecologistas. A Nova Frente Popular representa a maior aliança de esquerda dos últimos 50 anos”. O problema da grande aliança da esquerda é que, dentro dela, existe um partido que defende abertamente o neoliberalismo, ou seja, é de esquerda apenas em nome.

E logo depois, o Esquerda Online afirma: “quais são as chances de vitória da Nova Frente Popular? A dissolução chega ao melhor momento para a extrema-direita, que é favorita pela sua implantação nos territórios rurais e que se beneficiou de sua normalização na mídia, no parlamento e nas falas do governo Macron. Ao contrário, o bloco governista aparece muito enfraquecido. Sua aposta de divisão das esquerdas fracassou e, nas suas coletivas de imprensa, Macron prometeu aprofundar sua política impopular de liberalização e austeridade. Portanto, a emergência da Nova Frente Popular instala de fato a esquerda como a grande concorrente do bloco de extrema-direita”.

Ele aqui cita que Macron não consegue dividir a esquerda, mas o que não compreende é que Macron está acabado. O plano da burguesia agora é controlar a esquerda por meio do Partido Socialista. A grande manobra é que a NFP fique encabeçada por algum candidato do PS. Se for assim, a esquerda se comprometerá com a política neoliberal e, assim, será apoiada contra a extrema direita.

E, assim, o artigo conclui: “porém, algumas questões centrais dificultam uma vitória eleitoral. A primeira é o tempo extremamente curto da campanha, o mais curto da história francesa. A Nova Frente Popular sendo uma novidade, ela beneficia de uma dinâmica entre os militantes, mas falta convencer porções significativas da população, e eventualmente virar votos da extrema-direita. A segunda dificuldade vem da agressividade da grande mídia, sendo que a maioria dos jornais e das redes de televisão (fora a rede pública) pertencem a bilionários, dentre os quais alguns apoiam abertamente a extrema-direita. Finalmente, os partidos de esquerda enfrentam um momento de baixa capilaridade depois de muitas perdas de militantes ao longo das últimas décadas. Fora o trabalho de implantação da FI, pouco trabalho de construção a partir das bases foi desenvolvido nos últimos anos, deixando o espaço ao RN”.

De fato, há pouco tempo para reorganizar a esquerda. Mas o texto não foca na questão política crucial. Não discute as contradições da NFP, não levanta quais são os problemas políticos a serem superadas. O mais importante, nesse momento, é a classe operária francesa se tornar independente do PS. Essa é a manobra da burguesia do momento, ela deve ser denunciada.

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