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América Latina

Uma esquerda que leva golpes e apoia golpes

O partido francês Revolution Permanent invés de lutar contra o imperialismo de Macron quer derrubar o governo nacionalista da Venezuela

A investida golpista do imperialismo contra a Venezuela continua. A esquerda pequeno burguesa do mundo inteiro assim começa a assumir a posição de linha auxiliar do golpe, são os famosos golpistas de esquerda como foi o PSTU em 2016. O partido francês Revolução Permanente publicou em seu portal um texto criticando Maduro em coro com o imperialismo “Um mês após a eleição presidencial contestada: como está a crise na Venezuela?” A esquerda de um imperialista que apoia o ataque imperialista assume uma posição ainda mais vergonhosa.

O texto começa: “Maduro se apoia em uma repressão brutal, que atinge particularmente os setores populares, a evolução da situação pode depender amplamente das negociações internacionais. Os países influentes da região e as grandes potências oscilam entre pressionar Maduro e a vontade de acessar os recursos petrolíferos do país, independentemente do governante no poder, em um contexto de competição indireta entre a China e os Estados Unidos, enquanto os países vizinhos precisam lidar com os efeitos da crise migratória venezuelana, com quase um quarto da população tendo deixado o país”.

A premissa básica de toda essa esquerda é de que Maduro é um repressor. A impressão que passa é que eles nunca viram um governo repressor de verdade. Na Venezuela a polícia é atacada nas manifestações, em que ditadura brutal isso é possível? Não há imagens como se viu nos EUA de estudantes sendo arrastados pela polícia, não há presídios gigantescos como em El Salvador. O segundo argumento também é uma farsa. O imperialismo quer derrubar Maduro, no entanto, quando houve falta de petróleo fizeram um acordo de conveniência. Mas está claro que a política dos EUA é derrubar o governo.

E terceiro, a crise migratória é uma farsa. Ele vem sendo noticiada desde 2018, mas é um fenômeno muito mais complexo do que diz a imprensa burguesa. Milhões de imigrantes venezuelanos eram na verdade colombianos que imigraram antes para a Venezuela devido a intervenção imperialista na Colômbia. Além disso, milhões muitos já voltaram ao país, pois a situação na América Latina toda é terrível e muitos preferem voltar ao seu país. A “grande crise da imigração” é mais uma propaganda imperialista contra Maduro.

Ele continua: “apesar da pressão internacional e do fato de que apenas seus aliados de longa data, como a Rússia, a China, Cuba e a Bolívia, reconhecem sua vitória, Maduro parece estar relativamente no controle da situação”. Falso. Países no mundo inteiro reconheceram a vitória eleitoral de Maduro. O RP mostra que só considera como países reais os lacaios do imperialismo.

Então chega ao ápice do golpismo: “ele conseguiu realizar seu golpe de força, com uma fraude eleitoral e a não publicação dos resultados, justificados por um suposto ataque cibernético à votação Tudo isso sem aparentes fricções internas nas forças armadas ou no aparelho estatal, assegurando também a fidelidade dos órgãos de controle do executivo, que deveriam ser independentes, mas que de fato são controlados pelo regime, como o Conselho Nacional Eleitoral ou o Tribunal Supremo de Justiça, equivalente à Suprema Corte”.

Como o RP sabe que a eleição foi fraudada? Por que eles assumiram a posição do governo Macron? Um grupo centrista medíocre ao menos colocaria isso em dúvida. Foi a infeliz posição de Lula. Mas eles são muito piores, eles acreditam que a oposição fascista financiada pelos EUA realmente tem mais votos que Maduro e venceu as eleições. Ainda fazem a crítica mais infantil possível o CNE e o TSJ são controlados pelo chavismo. No mundo inteiro as estruturas do Estado são controladas por algum setor, com esse argumento toda eleição é uma fraude, e há casos muito piores que o da Venezuela. Quem tem mais capacidade de fraudar uma eleição, um tribunal chavista ou um tribunal dos EUA?

Novamente tocam no ponto da repressão: “alegando uma ameaça fascista iminente, Maduro e o Procurador-Geral Tarek William Saab encenaram uma repressão feroz, reivindicando 2.400 prisões e estimando o número de vítimas em 25 pessoas, incluindo dois membros da Guarda Nacional Bolivariana, todos atribuídos a ‘grupos de delinquentes instrumentalizados pela oposição’”. A ameaça fascista não era iminente? Não havia uma oposição fascista querendo derrubar o governo? O RP ignora completamente que no país há uma luta entre a esquerda, agrupada em Maduro, e os fascistas financiados pelos EUA. Na prática dão cobertura ao fascismo, falam que o fascismo é o partido vencedor das eleições.

Chegam ao ponto de isentar a culpa de Elon Musk: “assim, a repressão é justificada pela instrumentalização da luta contra a extrema-direita e contra o imperialismo. Após multiplicar os ataques contra o bilionário norte-americano Elon Musk, Maduro decidiu a suspensão provisória da rede social X (antigamente Twitter) na Venezuela e chamou ao boicote do WhatsApp, apresentados como ferramentas do imperialismo. Uma postura totalmente hipócrita, já que Maduro abriu as portas para as multinacionais explorarem o petróleo”. Não é o bilionário Elon Musk que tentou derrubar Maduro, foi Maduro quem atacou Elon Musk! O pró-imperialismo do RP não poderia ser maior. Eles não consideram que os monopólios da Meta e do X são armas do imperialismo contra um governo nacionalista. O RP simplesmente ignora completamente o imperialismo.

O texto termina com o clássico argumento dos golpistas de esquerda. Na verdade o governo Maduro é de direita! “Maduro liderou uma verdadeira política de privatização e liberalização da economia, especialmente a partir de 2017, enquanto buscava a reintegração do país à economia mundial. Para fazer isso, ele priorizou o pagamento da dívida externa, cortou a maioria dos benefícios sociais do chavismo, como subsídios alimentares e transferências sociais, e implementou uma política de dolarização de fato da economia, que reduziu drasticamente os salários em bolívares dos setores populares, resultando na precarização em massa das condições de vida”.

O RP deveria perder menos tempo lendo os jornais da burguesia francesa e acompanhar o que aconteceu na América Latina. Desde 2017 houve governo neoliberal na Argentina, no Brasil, no Peru, na Bolívia, no Equador, no Paraguai, no Chile, Colômbia e no Uruguai, ou seja, todos os governos do continente com exceção das guianas. O único país onde não houve governo neoliberal foi a Venezuela. Por que? Justamente porque lá não houve golpe. Ou seja, caso a política da RP tenha sucesso, o falso neoliberalismo de Maduro irá parecer o paraíso perto do que a oposição fascista faria. Da mesma forma que o “terrível ajuste fiscal de Dilma” pareceu o paraíso perto do governo Temer.

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