Eleições francesas

Uma esquerda que comemora a derrota na França

O dirigente do PT, Tarso Genro, compreende que a frente ampla da França não foi uma vitória da esquerda e mesmo assim elogia o resultado, o golpe de Macron

A esquerda pequeno burguesa tem uma incapacidade completa de compreender as eleições da França, algo que diz muito sobre a sua política eleitoral no Brasil. O dirigente petista Tarso Genro é um dos esquerdistas que comemora a derrota da esquerda nas eleições da França, considerando que são uma vitória. Ele publicou no Brasil 247 o texto “14 de julho” em referência ao dia da queda da Bastilha, como se a eleição fosse uma vitória da revolução em revolução 1779. Na verdade, Genro é um defensor da frente ampla e realmente considera que Macron é uma salvação em relação à Le Pen.

O texto começa: “a estupenda vitória da democracia na França, contra a extrema direita e os demais herdeiros de Vichy, conjugada com a vitória dos trabalhistas ingleses que voltam ao Governo depois de 14 anos, recupera — na Europa — o oxigênio da democracia liberal. Na França, em particular, a reviravolta deveu-se — entre outros fatores que não cabem neste pequeno texto — à rapidez com que a esquerda francesa reorganizou suas listas eleitorais para privilegiar os candidatos de quaisquer das facções de centro e de centro-esquerda, para acumular votos contra a extrema direita: acumular votos para defender a democracia liberal contra o perigo fascista, racista e antirrepublicano, que se erguia no horizonte”.

Aqui Genro erra a análise sobre a Inglaterra e sobre a França. Primeiro, a vitória dos trabalhistas ingleses não recuperou oxigena de “democracia liberal”, pois o partido conservador, que governou por 14 anos, faz parte desse bloco da “democracia”. Além disso, não foi nenhuma grande vitória da esquerda, pois os trabalhistas nos últimos 4 anos se tornaram um partido tão direitista quando os conservadores sob a direção de Keir Starmer.

Sobre a França não houve essa reorganização da esquerda que garantiu a vitória. O que houve é que o sistema distrital é antidemocrático. Assim, o partido mais votado, o da extrema direita, ficou com a menor bancada. O bloco menos votado, de Macron, ficou com a segunda maior bancada. E o segundo bloco menos votado, a Nova Frente Popular, ficou com a maior bancada. No entanto, a esquerda propriamente dentro desse bloco, a FI de Melenchon, quase não cresceu. O que ele acerta é que a política de esquerda foi de fato defender a “democracia liberal”, ou seja, Macron contra o fascismo.

Ele segue: “Jean-Luc Mélenchon, o líder da ‘França Insubmissa’ teve um papel extraordinário neste movimento, pois logo após os resultados do primeiro turno avisou que seu agrupamento faria todas as renúncias para unificar os eleitores antifascistas contra Madame Le Pen e sua corte de reacionários violentos, que estavam à beira do poder”. Aqui já aparece a tese de Genro: um governo de direita é bom se ele “impedir o fascismo”. Ele comemora que a esquerda se unificou com a direita neoliberal e assim garantiu uma grande vitória para esse setor em uma eleição que a esquerda poderia crescer muito.

O texto continua: “o perigo que rondava a Europa e ameaçava diretamente os postulados da Revolução Francesa, já fortemente constrangidos pela concepção de ‘Europa do capital’, diversa da concepção também europeísta de ‘Europa social’, sempre defendida por Jean-Luc Mélenchon e pela sua formação ‘França Insubmissa’”. Aqui aparece o embasamento ideológico do direitismo de Genro. Ele considera que a oposição que existe não é entre classe trabalhadora e a burguesia imperialista da França, mas sim entre “os postulados da Revolução Francesa” e o fascismo. Essa política de Genro leva ao apoio direto da Frente Ampla, ou seja, a submissão dos trabalhadores a política da burguesia. No caso da França, um apoio à Macron.

Em suas palavras: “sua postura sem vacilações em defesa da democracia política, que a França Insubmissa integra como compromisso constitucional, tem uma razão de fundo político, que está no terreno dos princípios; e uma razão pragmática, que responde às urgências da luta política de qualquer esquerda, dentro da legalidade democrática”. Novamente, a defesa da democracia aparece acima da defesa dos trabalhadores. Ele não considera Macron como um grande inimigo, apenas Le Pen. Macron para ele é um democrata e não o homem que destruiu a vida dos trabalhadores franceses em 6 anos de governo.

Ele então volta a situação do Brasil: “a experiência brasileira mostra que nos tempos de mutação das formas de exercício do poder e controle dos corações e mentes, pelos novos meios de comunicação e informação, novas formas e meios de produzir mercadorias e de controle e processamento da opinião, qualquer vacilação em defesa da legalidade democrática enfraquece a democracia política acaba favorecendo o fascismo”. Ou seja, a tese de Genro é realmente democracia acima de tudo. O problema é que dentro da “legalidade democrática” está Macron, o PSDB, o STF, Biden, Keir Starmer e todos os maiores inimigos dos trabalhadores.

Mas além de direitista, esse argumento é uma farsa. A tal “democracia liberal” é a parteira do fascismo. Primeiro porque os governos de tipo Macron, Biden, Temer etc são os principais responsáveis pelo crescimento da extrema direita no mundo. A falência da direita tradicional é o que gera o crescimento da extrema direita. Segundo porque na hora do fascismo tomar o poder essa democracia liberal é quem auxilia a sua ascensão. Isso já apareceu agora na França. No segundo turno, os “democratas” da França voltaram seus ataques mais para Melenchon do que para Le Pen. Parte do Partido Republicano “democrata” apoiou Le Pen e Macron não apoio Melenchon em nenhum distrito. A verdade é o oposto do que diz Genro, a defesa da “democracia” é o caminho para o fascismo.

Ele conclui: “não seria providencial, me pergunto e pergunto aos meus companheiros de luta, se não seria bom celebrarmos, neste 14 de julho — de forma pluripartidária, libertária, igualitária e fraternalmente concebida — a vitória francesa contra o inferno?” A resposta é não. Não houve vitória francesa contra o inferno. O que houve foi de um lado o crescimento da extrema direita onde mais importa, dentre a classe trabalhadora. Já no Parlamento a vitória não foi da esquerda. A esquerda propriamente quase não cresceu. A direita tradicional quase não diminuiu, e a extrema direita, também no parlamento, foi o setor que mais cresceu. Onde está a vitória?

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.