O MRT publicou, em seu portal na internet, Esquerda Diário, uma declaração sobre o segundo turno da eleição em São Paulo chamada Enfrentar Nunes e os distintos tons de bolsonarismo em São Paulo e também a conciliação de classes da Frente Ampla que fortalece a extrema direita.
A maior parte da nota são considerações sobre a extrema direita e a direita, mostrando quão ruim para o povo são esses candidatos. Até aí, sem grandes novidades.
A declaração também chama a atenção para o alto nível de direitismo da candidatura de Guilherme Boulos, do PSOL, como a denúncia de que a bancada do PSOL e o próprio Boulos votaram a favor do corte de Benefício de Prestação Continuada: “A fim de cumprir e preservar este ataque do Arcabouço Fiscal, recentemente todos os partidos, inclusive o PSOL e com voto de Boulos, foram a favor do corte ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) que garantia um salário mínimo a PCD’s e idosos em situação de extrema pobreza”. Sobre a política de Boulos, também há grandes novidades.
O importante a ser debatido são as conclusões do MRT sobre a eleição. Após tantos parágrafos de considerações sobre Nunes e Boulos, o grupo não chega a uma conclusão política clara: o que fazer no segundo turno?
O MRT não quer chamar voto em Boulos, mas também não quer chamar voto nulo. Segundo o artigo, porque o caminho é a mobilização. Muito bonito e correto, mas a eleição está aí e o povo terá que votar. Por que não chamar o voto nulo? A resposta não é difícil. Não chamar o voto nulo não é nada mais do que uma forma envergonhada de chamar voto em Boulos. O MRT bem que gostaria, mas não aparecer chamando voto num personagem tão direitista como Boulos. Ao mesmo tempo, tem medo de ficar mal na foto com os amigos do PSOL que entraram de cabeça no oportunismo eleitoral mais rasteiro.
“Compreendemos que muitos trabalhadores e jovens depositem no voto em Boulos a expectativa de derrotar Nunes eleitoralmente. Ainda que não compartilhamos dessa posição, nós do MRT vamos estar na primeira fileira, como sempre estivemos, do combate a Nunes e Marçal e todos os tons de bolsonarismo, e lado a lado daqueles trabalhadores e jovens que não querem uma nova prefeitura de extrema direita em São Paulo e vão votar em Boulos, nulo ou irão se abster.”
Não é incompatível estar “lado a lado” de quem quer derrotar a extrema direita com tomar uma determinada posição. Ao dizer que tanto faz votar em Boulos ou anular o voto, no fim das contas o MRT está dizendo que votar em Boulos também é uma opção, e logicamente, a principal opção. Mas a derrota da extrema direita não será na eleição, mas numa luta real.
Então ficamos sem saber o que exatamente defende o MRT. Boulos é tão ruim e direitista que não merece o voto das pessoas ou tanto faz votar em Boulos ou votar nulo. A falta de uma orientação clara só pode gerar confusão. Se “tanto faz”, então por que não votar em Boulos?
Outra confusão apresentada na declaração é a ideia de estarão “lado a lado” dos que “não querem uma nova prefeitura de extrema direita”. O problema aqui é o seguinte. Mais da metade do eleitorado de São Paulo vai votar em Nunes. Não porque Nunes é fascista, menos ainda porque esse eleitorado é fascista, mas porque a eleição é uma grande manipulação.
Muitos dos que vão votar em Nunes votariam, inclusive, em alguém da esquerda se o candidato, como é Boulos, não fosse tão vergonhosamente adaptado ao regime, um candidato tão impopular. A esquerda, com Boulos, conseguiu apresentar um candidato mais antipopular do que a direita, o que é um feito. Muito do eleitorado de Nunes e de Marçal, por exemplo, votou em Lula em 2024.
Esses dados são importantes porque a esquerda não pode, como faz o MRT, virar as costas para mais da metade da população que votará em Nunes, enganada pela propaganda da burguesia.