Nesta segunda-feira (12), o portal de notícias Poder360 publicou matéria noticiando que o governo do Rio Grande do Sul, de Eduardo Leite (PSDB), foi alertado sobre o desastre uma semana antes de ocorrer a primeira morte, decorrente das fortes chuvas.
O alerta foi emitido no dia 30 de abril pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), um órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que considerou “ALTA a possibilidade de ocorrência de inundações bruscas e alagamentos em áreas rebaixadas e com drenagem deficiente nas mesorregiões metropolitana de Porto Alegre, Sudeste e Sudoeste, Centro-Ocidental e Centro-Oriental Rio Grandense”, conforme publicado no portal do governo federal. Ainda segundo o Poder360, nota técnica foi emitida pelo Cemaden em 5 de maio. Nela, ao avaliar o desastre e constatar que “estruturas hidráulicas que protegem a cidade de Porto Alegre não resistiram as ondas de inundações e romperam”, concluiu que isto “sugere que foram subdimensionadas ou que não se consideraram que os volumes de chuvas poderiam aumentar com o tempo”.
Em outra matéria publicada no Poder360, o portal especifica as falhas que ocorreram no sistema anti-enchente de Porto Alegre, expondo a destruição neoliberal dessa estrutura preventiva.
O sistema de contenção das cheias dos rios Guaíba e Gravataí, criado em 1970 em decorrência das enchentes históricas que destruíram a cidade em 1941 e 1967, foi “projetado para suportar que o nível das águas suba até 6 metros”. Contudo, graças à destruição promovida por anos de governos neoliberais, em especial o de Eduardo Leite (PSDB), as águas dos rios invadiram a cidade no dia 3 de maio, quando o nível da água tinha chegado a apenas 4,5 metros.
E isto ocorreu porque “dentre os problemas, há brechas de até 10 cm entre as portas e o muro, motores de comportas que foram roubados e nunca repostos, e bombas que não funcionaram”, conforme noticiou o portal de notícias já citado. Ainda, a maioria dos motores dos sistemas de comportas, reformado há mais de 10 anos, foi roubada e nunca reposta. O fechamento estava sendo feito manualmente por retroescavadeiras.
Piorando a situação, não havia vedação completa em nenhuma das comportas, entre elas os muros de contenção, com algumas chegando a ter brechas “de 10 centímetros, por onde a água vaza”, conforme noticiado no Poder360. Para “solucionar” o problema da falta de vedação, a prefeitura de Porto Alegre utilizava sacos de areia. Uma improvisação que não solucionou absolutamente nada, como se vê agora.
Trata-se de um retrato fiel do que é o neoliberalismo, a única política viável ao imperialismo atualmente, através da qual toda a riqueza dos trabalhadores vai parar na mão de banqueiros, principalmente através da destruição de todo tipo de infraestrutura pública. No caso do Rio Grande do Sul, da estrutura de prevenção de enchentes e desastres.
No entanto, a destruição neoliberal do estado não irá se deter aqui. Conforme noticiado pelo portal de notícias Sul21, uma “empresa norte-americana prestará consultoria à Prefeitura na recuperação de Porto Alegre”.
E qual é a empresa? Trata-se da Alvarez & Marsal, empresa de consultoria do imperialismo norte-americano que atuou após o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho e em Louisiana, nos Estados Unidos, após a destruição ocorrida com a passagem do furacão Katrina.
O anúncio da contratação foi feito pela Prefeitura de Porto Alegre nesta segunda-feira (13). Segundo o prefeito, Sebastião Melo (MDB), a empresa imperialista “não vai cobrar nada” durante os 60 primeiros dias de atuação, acrescentando que “no meio do caminho nós vamos estabelecer, se ela tiver que permanecer, vai ter custo”, conforme noticiado pelo sul21. É certo que, independentemente dos termos do contrato, desde o início de sua atuação, a Alvarez & Marsal ganhará algo.
Aliás, ganhará muito, pois sua atuação em Porto Alegre é para que todas as obras dessa “recuperação” (que, certamente, não será uma recuperação verdadeira) sejam realizadas por empresas ligadas aos banqueiros imperialistas. Em outras palavras, a presença da Alvarez & Marsal é para privatizar a “recuperação” de Porto Alegre.
O que nos mostra isto é ela ter atuado em Louisiana, após o furacão Katrina.
Naomi Klein, jornalista canadense autora do livro A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre, detalha como o imperialismo se aproveitou da destruição que resultou da passagem do furacão para privatizar tudo o que fosse possível em Nova Orleans (capital da Louisiana), inclusive o sistema educacional:
“Em gritante contraste com a lentidão em que os diques eram consertados e a rede elétrica reparada, o leilão do sistema educacional de Nova Orleans foi realizado com precisão e rapidez militares. Dentro de 19 meses, e com a maioria dos habitantes mais pobres ainda exilados, o sistema de escolas públicas de Nova Orleans tinha sido completamente substituído por escolas licenciadas, sob administração privada. Antes do furacão Katrina, o conselho de educação administrava 123 escolas públicas; agora, cuidava de apenas quatro. Antes daquela tempestade, havia somente sete escolas licenciadas na cidade; agora, existiam 31.”
Nesse processo de privatização, os direitos trabalhistas dos professores de Nova Orleans foram completamente rasgados, e uma ofensiva foi desatada contra a organização da categoria:
“Os professores de Nova Orleans costumavam ser representados por 111 sindicato bastante fortes; agora, os acordos sindicais tinham sido rasgados, e seus 4.700 membros tinham sido todos demitidos. Alguns dos professores mais jovens foram readmitidos pelas escolas licenciadas, com salários reduzidos; a maioria foi posta na rua.”
“Nova Orleans se tornara, de acordo como New York Times, ‘o laboratório mais importante do país para ampliar o uso das escolas licenciadas’”, conforme constatado por Klein em sua obra, acrescentando que “‘o Katrina havia realizado em um dia… aquilo que os reformadores educacionais da Louisiana vinham tentando fazer durante anos, sem sucesso‘“ citando avaliação feita pelo American Enterprise Institute, think tank neoliberal dos EUA.
Em suma, o imperialismo aproveitou o desastre do furacão Katrina para privatizar todo o sistema de educação pública de Nova Orleans, Louisiana.
Conforme exposto por Naomi Klein, Milton Friedman, um dos principais intelectuais do neoliberalismo, escreveu editorial para o jornal imperialista Wall Street Journal logo quando começaram as inundações. Nesse editorial, Friedman explica como o imperialismo deve atuar diante de desastres para saquear toda a riqueza dos trabalhadores:
“A maior parte das escolas de Nova Orleans está em ruínas […] assim como os lares das crianças que estudavam ali. As crianças agora estão espalhadas por todo o país. Isso é uma tragédia. É também uma oportunidade para reformar radicalmente o sistema educacional.”
“[…] somente uma crise – real ou pressentida- produz mudança verdadeira. Quando a crise acontece, as ações que são tomadas dependem das ideias que estão à disposição. Esta, eu acredito, é a nossa função primordial: desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las em evidência e acessíveis até que o politicamente impossível se torne o politicamente inevitável.”
Friedman, expoente do neoliberalismo, também explica que é necessário ao imperialismo atuar rapidamente, antes que perca a oportunidade (de saquear o povo):
“[…] uma nova administração tem de seis a nove meses para realizar as principais mudanças; caso não agarre a oportunidade para agir de modo decisivo durante esse período, não terá outra chance igual.”
A contratação da Alvarez e Marsal pela prefeitura de Porto Alegre mostra claramente que esse processo de total roubo do povo gaúcho já está em marcha. E será realizado de forma avassaladora nos próximos meses, antes que a janela de atuação dos banqueiros, do imperialismo, se feche.
E a destruição neoliberal, o saque que o imperialismo pretende realizar em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, aproveitando-se das inundações, será ainda maior do que foi feito em Nova Orleans.
Afinal, conforme recentemente noticiado pelo portal de notícias Porto Alegre 24 horas, a destruição no estado já é maior do que a que resultou do furacão Katrina: “a área alagada de Nova Orleans foi de 2,4 mil quilômetros, enquanto que no Rio Grande do Sul já se conta com 3,8 mil quilômetros de alagamento. Além disso, o primeiro deixou 400 mil pessoas desabrigadas, enquanto que atualmente são mais de 600 mil desabrigados no território gaúcho”.