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Eleições municipais

Uma aposta derrotista para esquerda em São Paulo

Para jornalista esquerdista, bolsonarismo está em crise e segundo turno apresenta uma chance de vitória decisiva à esquerda. Será?

O jornalista Luís Leiria, do portal Esquerda.net, publicou no último dia 11 um artigo intitulado Vitórias do “centrão”, crises na extrema-direita e uma segunda volta decisiva em São Paulo, defendendo que as “eleições municipais no Brasil marcam importantes vitórias da direita dita do ‘centrão’, mas também uma divisão na extrema direita, com o surgimento de novas lideranças que contestam Bolsonaro”, propondo-se, como indicado, a analisar a situação política do País a partir do resultado do primeiro turno das eleições municipais. Diz ele:

“O PSD passou a liderar o ranking dos prefeitos eleitos, com 878 (tinha 659), seguido do MDB, com 847 (tinha 790) e do PP com 743 (tinha 697). Seguem-se União, com 578, e só então o PL de Bolsonaro, com 510. O PT aparece apenas no 9º lugar, com 243 prefeitos já eleitos. Assinale-se ainda o trambolhão do PSDB, que elegeu 273 prefeitos, caindo do 4º para o 8º lugar em número de cidades conquistadas e perdendo 250 prefeituras em relação a 2020.”

Ocorre que onde os votos são mais importantes, nas capitais, o PL teve o maior número de vereadores eleitos. Foi o que aconteceu em cidades importantes do Norte e Nordeste, como Maceió, Fortaleza e Manaus; em duas das três capitais do Centro-Oeste onde ocorriam eleições municipais, Cuiabá e Goiânia; em Porto Alegre e Florianópolis no Sul, e simplesmente, nas três principais cidades do Sudeste e do País: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

Os números citados por Leiria colocam como iguais a cidade de Corguinho, nos rincões do MS e onde o MDB conquistou uma de suas 847 prefeituras, com a cidade de Maceió, onde João Henrique Caldas conquistou uma capital para o PL. Além disso, é preciso considerar a qualidade de esquerdistas como o prefeito reeleito do Recife, João Henrique Campos (PSB), um direitista ligado a uma sigla que de socialista, só tem o nome.

Ainda, o jornalista destaca que “este ano, os cinco partidos de direita mais votados conquistaram 3.613 prefeituras, ou 64% de todos as cidades do país”, a saber, “MDB, PP, PSD, PSDB e DEM (atual União Brasil)”. Ocorre que o PP é o antigo partido de Bolsonaro e oriundo do antigo ARENA (partido de sustentação da Ditadura Militar[1964-1985]), o que torna a caracterização dessa agremiação como qualquer coisa diferente de extrema direita algo bastante confuso. O que dizer então do União Brasil, também oriundo do ARENA e apoiador de primeira ordem do governo bolsonarista? Se os partidos da Ditadura Militar não são de extrema direita, o jornalista deveria explicar melhor o fundamento da sua caracterização.

Entre os partidos do “Centrão”, destaca-se a questão do MDB, elencado por Leiria como um sintoma da suposta “crise na extrema direita”, o que ignora um fato óbvio: na principal cidade do País, São Paulo, o MDB está alinhado com o bolsonarismo. Se em São Paulo, onde o imperialismo tem bases mais sólidas, o MDB está se deslocando para a extrema direita, não é difícil supor que nos rincões brasileiros, onde os partidos “centristas” ganharam mais prefeituras e controlados pelo latifúndio (um dos mais destacados setores da burguesia apoiadores do bolsonarismo) com mão de ferro, o movimento esteja mais avançado.

Analisados mais perto, os dados não indicam nenhuma crise na extrema direita, mas seu fortalecimento. Enquanto nas principais cidades brasileiras o “centrão” afunda, o campo apresenta também a tendência de deslocar-se à direita. Só a esquerda realmente enfrenta uma crise e aqui, a confusão de Leiria ganha contornos mais conclusivos sobre o interesse que as origina e que está expresso no título: “para a esquerda”, diz, “a segunda volta [segundo turno] em São Paulo será decisiva”, afirma o jornalista, deixando claro que a política que o move é animar uma claque para a campanha pelo psolista Guilherme Boulos.

Da mesma forma que o PSB é tudo menos socialista, a vitória de Boulos é antes de tudo uma vitória dos setores mais poderosos da direita, ligadas ao imperialismo e que por meio do psolista, buscam infiltrar-se nas fileiras da esquerda. Desde a campanha golpista contra a presidenta Dilma Rousseff, a infiltração de Boulos não tem outro objetivo além de atacar organização da esquerda. Na atual campanha eleitoral, Boulos já teve o pendor de anular o PT na principal cidade do País, reforçando a crise do maior partido da esquerda brasileira, esse sim, um campo em crise pelo reacionarismo das direções pequeno-burguesas.

Não é com animação falsa, sustentada em ilusões que a crise da esquerda será superada. É com a caracterização correta dos problemas, com o reconhecimento do papel desempenhado por Boulos e das derrotas produzidas pelos dirigentes esquerdistas que a situação adversa será resolvida. As ilusões de que com Boulos existe uma perspectiva de mudança de rumos para a esquerda não são outra coisa além da manutenção da política derrotista que nos trouxe até aqui. Mantê-la, só conseguirá piorar as coisas.

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