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EUA e Europa

Um sinal claro do esgotamento do imperialismo norte-americano

A crise do imperialismo norte-americano tende a abrir uma divisão fatal na frente única imperialista, que desde a Segunda Guerra, tem funcionado, mas não mais

Referindo-se a importantes articuladores políticos do imperialismo norte-americano como o ex-chefe da CIA David Petraeus, a ex-presidente da Casa dos Representantes Nancy Pelosi e o atual secretário de Estado, Antony Blinken, como “idiotas”, o banqueiro David Sacks condenou a tentativa da Casa Branca (sede do governo norte-americano) de impulsionar a fracassada contra-ofensiva ucraniana no ano passado. “Estas pessoas são idiotas que não deveriam ter mais credibilidade. Mas é claro que a imprensa tradicional nunca os responsabilizará, pelo que teremos mais do mesmo até que a Ucrânia finalmente entre em colapso”, disse em comentário no X a seu conterrâneo, o bilionário sul-africano Elon Musk.

https://twitter.com/DavidSacks/status/1774161019558146412

A esta altura, é a enésima declaração de que a vitória russa é uma questão de tempo, mas o capitalista revela também a crise no interior do imperialismo. Isto porque a pressão de Sacks se une a de outros setores importantes da burguesia norte-americana, que não querem mais arcar com os custos de serem a polícia do mundo.

Desde o final da Segunda Grande Guerra, o imperialismo tinha como ponto pacífico que a OTAN, seu braço militar, seria sustentado pelos EUA, com a Europa ocupando um papel secundário na segurança da ordem imperialista. A guerra entre Rússia e OTAN na Ucrânia, no entanto, vem colocando luz sobre o esgotamento deste acordo.

Em entrevista a um dos principais órgãos do imperialismo britânico, Financial Times, o Armin Papperger, chefe da maior empresa militar da Alemanha – a Rheinmetall – citou o fim da assistência militar norte-americana à Ucrânia como um alerta para a Europa, indicando que os norte-americanos não estão dispostos a continuar bancando a sua segurança dos europeus.

“Nas últimas décadas, os líderes europeus consideravam como certo que os EUA viriam em socorro do continente em caso de ameaça militar, mas ‘isso não vai mais acontecer’, disse Papperger. Os EUA — onde os legisladores republicanos bloquearam a ajuda militar à Ucrânia — enviaram uma ‘mensagem muito clara’, que foi ‘não pagaremos mais por vocês’.” (“Rheinmetall chief urges Europe to build defence tech champions”, Patricia Nilsson, Financial Times, 1/4/2024). “Os EUA se concentram mais na região Ásia-Pacífico do que na Europa”, continua Papperger, acrescentando que se uma “situação muito arriscada” na região desencadear um conflito armado em larga escala, “os EUA se concentrarão na Ásia, e então a Europa estará totalmente sozinha”.

Por fim, o executivo destaca que, se Donald Trump vencer as eleições presidenciais norte-americanas deste ano, “a pressão será maior”. Com a situação manifestada já no governo do democrata Joe Biden, no entanto, a necessidade de a Europa se reorganizar militarmente de modo a não contar mais com o socorro norte-americano, independentemente de quem acabar na Casa Branca, está colocada.

Uma mudança nesta política, entretanto, traz implicações muito profundas para a ordem imperialista estabelecida após a Segunda Grande Guerra, a começar pela necessidade da Europa de sustentar sua máquina de guerra. Não é de forma alguma uma questão secundária, visto que os EUA sustentam seu aparato militar gastando US$886 bilhões, apenas em 2024 e com um adendo importante de que tal qual o fenômeno da dívida pública brasileira, os gastos militares reais dos EUA ao final do ano tradicionalmente superam o dobro do valor reservado no orçamento do ano em questão (“Actual U.S. Military Spending Reached $1.537 Trillion in 2022—More than Twice Acknowledged Level: New Estimates Based on U.S. National Accounts”, Gisela Cernadas, John Bellamy Foster, Monthly Review, 1/11/2023).

Os países da União Europeia, por outro lado, gastaram, no ano de 2023, 240 bilhões de euros (“UE deve aumentar capacidade de defesa para não depender dos EUA?”, Euronews, Vincenzo Genovese, 13/2/2024). Apenas na OTAN, as contribuições norte-americanas foram da ordem de 68% dos gastos, que em 2023, atingiram mais de US$1,3 trilhão, com os países europeus dividindo os 32% restantes. 

Essa fortuna, finalmente, depende da expropriação dos países atrasados, que em um acordo pacificado como o que vinha sendo praticado entre EUA e Europa, não deveria ser fonte de atrito. A necessidade do imperialismo europeu de ampliar seus gastos militares, entretanto, implicará nos europeus precisando de uma fatia maior do bolo que hoje é praticamente todo norte-americano.

Aqui, cumpre destacar que o trumpismo, claro, não questiona uma redivisão da rapina sobre a riqueza mundial, apenas dos gastos militares. A necessidade de os europeus avançarem sobre porções cativas dos EUA no mercado global e a competição por recursos dos países atrasados será uma consequência natural do fim da frente única imperialista, o que em uma conjuntura de crise econômica mundial, naturalmente, abrirá uma crise interimperialista.

O mundo já viu, não uma, mas duas crises do gênero. Ambas resultaram em devastadoras guerras mundiais, que foram, acima de tudo, guerras entre potências imperialistas motivadas pela contestação da divisão do mercado mundial. Com a reorganização militar da Europa e sua independência, fatalmente o imperialismo europeu contestará a supremacia norte-americana no mercado mundial.

Embora ameaçador, a perspectiva de uma crise interimperialista é positiva para as nações atrasadas. Ao longo do século XX, a frente única do imperialismo sob a liderança militar dos EUA conseguiu afogar em sangue muitas rebeliões nos países atrasados.

O fim desse acordo não será de forma alguma indolor, mas, certamente, cria condições melhores para que os povos oprimidos se insurjam contra os países imperialistas e se libertem. A libertação do proletariado, por sua vez, se fortalece a cada derrota da ditadura global.

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