Em entrevista recente à emissora RedeTV!, o presidente Lula afirmou que Nicolás Maduro seria “problema” da Venezuela, e não do Brasil. Ao que parece, essa foi a forma envergonhada que o brasileiro encontrou de admitir que a política levada adiante pelo seu governo em relação ao país vizinho estava completamente errada.
“Eu não tenho o direito de ficar questionando a Suprema Corte de outro país porque eu não quero que nenhum país fique questionando a minha Suprema Corte, mesmo quando ela erra. Mesmo quando ela faz como fez comigo de não deixar eu ser candidato em 2018”, disse ele, com razão.
De fato, os mesmos que hoje questionam a vitória eleitoral de Nicolás Maduro foram responsáveis por prender Lula e garantir que ele não fosse candidato em 2018.
A colocação de Lula, que contém uma crítica implícita à ingerência imperialista, é um passo tímido e amedrontado, mas positivo do governo em sua política externa. Uma das principais lideranças do chavismo, Diosdado Cabello disse não ter visto a declaração do petista, mas afirmou que “tomara que o mundo inteiro entenda isso antes de dizer qualquer coisa sobre a Venezuela: que os assuntos internos da Venezuela são resolvidos pelos venezuelanos”. “Tem gente que fala demais e depois diz: ‘ai, errei’”, completou.
Ainda que a declaração seja um passo positivo, ainda não foi suficiente para que o Brasil corrigisse a sua política externa.
A crise recente entre Brasil e Venezuela vai muito além de declarações sobre o processo eleitoral. O Brasil atuou ativamente para impedir que o país vizinho ingressasse nos BRICS. Trata-se de uma política aberta de sabotagem, uma política de colaboração com o imperialismo para o seu cerco contra os governos nacionalistas. Como desfazer, agora, o veto brasileiro?
A crise revelou que o governo brasileiro está infestado de bolsonaristas e sionistas. O Ministério das Relações Exteriores é, em grande medida, controlado por elementos que são mais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao Departamento de Estado dos Estados Unidos que ao presidente Lula. Já o Ministério da Defesa, que também poderia ter uma atuação decisiva na questão venezuelana, também está tão tomado pelos inimigos do governo que o próprio comandante da pasta, José Múcio Monteiro, conspira publicamente contra o presidente.
Se Lula pretende ser coerente com o que disse sobre a soberania da Venezuela, deve tratar, em primeiro lugar, de lutar para que o Brasil seja um país soberano. É preciso reverter toda a política de colaboração com o imperialismo no último período, declarando apoio ao povo venezuelano na luta contra o imperialismo, retomando as relações com a Nicarágua, rompendo relações com “Israel” e ingressando na Iniciativa Cinturão e Rota.