Ainda sobre Silvio Almeida

Se dependesse de Valter Pomar, a Globo indicaria todo o ministério de Lula

Dirigente da Articulação de Esquerda insiste em aplaudir a demissão sumária de Silvio Almeida porque foi acusado de assédio; assim com Delúbio Soares foi expulso sumariamente do PT

Uma vez mais, chegaram à nossa redação chiliques do senhor Valter Pomar, da Articulação de Esquerda (AE), após ter sido criticado por este Diário. O artigo PCO: mentiras padrão Bibi, publicado no blogue do próprio cidadão, apenas reforça o essencial do que foi dito por nós no artigo Valter Pomar: palavra da Febraban vale mais que provas: que Pomar é um identitário e, como tal, uma pessoa que se opõe às liberdades democráticas.

O método empregado por Pomar é bastante curioso. Ao ser acusado por nós de mandar a presunção de inocência às favas, o autor, em vez de demonstrar que, na verdade, defende esse princípio democrático ou em vez de explicar porque alguém de esquerda deveria se opor a esse princípio, decide fazer de sua defesa uma nova acusação. Assim como uma criança responde que “feio é quem chama”, Pomar, foge do debate sobre a presunção de inocência e apenas acusa os redatores do artigo de “mentir”.

Assim o autor apresenta a sua “defesa”:

“Sobre o mérito, o texto do PCO não acrescenta nada de novo aos argumentos que já foram apresentados, com muito mais honestidade, por outras pessoas. Assim sendo, me limito apenas a comentar algumas passagens onde o PCO adota o método nazi-sionista: mentir descaradamente. Primeira passagem: o PCO escreve que ‘segundo Pomar, a verdade estaria com Israel’. Como sabe qualquer um que tenha lido ou ouvido eu [sic] falar a respeito, isto é pura e simplesmente falso.”

Sobre o mérito, veremos mais adiante. Por ora, nos concentremos ao tal “método nazi-sionista”. Se Pomar ama tanto a verdade, porque apresentou apenas uma frase isolada do artigo que escrevemos, e não o seu trecho completo? O fato é que, para nos acusar de mentirosos, o próprio autor distorce o que é dito no texto, para que pareça algo supostamente absurdo. Conforme será provado logo abaixo, nosso artigo não fala que Pomar defende “Israel” em todas as ocasiões, em abstrato (se a carapuça serviu, paciência). O que dissemos é que:

“Quando se fala em investigações, o objetivo não é contabilizar quantas pessoas defendem uma “versão” e quantas pessoas defendem outra. As investigações visam estabelecer a verdade por meio de provas. O que Pomar quer é, portanto, substituir as provas pela quantidade de declarações defendendo uma determinada ‘versão’. As consequências para os direitos democráticos da concepção de Pomar são brutais. Afinal, o número de pessoas que faz acusações não quer dizer nada. Na verdade, levando em consideração que a burguesia é quem detém o monopólio dos órgãos de comunicação e é a classe que normalmente toma a iniciativa nos conflitos, o natural é que a “versão” predominante sempre seja a dos poderosos. Para comprovar isso, basta analisar o conflito entre “Israel” e os palestinos. Quantas milhares de denúncias aparecem de que os combatentes do Hamas supostamente teriam estuprado pessoas? E quantas denúncias aparecem de que, na verdade, os soldados israelenses que estupram as mulheres e mesmo os homens palestinos? Segundo Pomar, a verdade estaria com “Israel” [grifo nosso], estamos diante de um grupo que “foi alvo de várias acusações, feitas por muitas pessoas”. O fato de que nenhum dos supostos estupros cometidos pelo Hamas foi provado e de que, por outro, estupros contra palestinos tenham sido comprovados não tem a menor importância, segundo o dirigente da Articulação de Esquerda.”

Se Pomar precisa que desenhem para entender, desenhamos para ele:

O mesmo vale para a segunda acusação do senhor Pomar:

“O PCO escreve que ‘o fato de que nenhum dos supostos estupros cometido (sic) pelo Hamas foi provado e de que, por outro, estupros contra palestinos tenham sido comprovados não tem a menor importância, segundo o dirigente da Articulação de Esquerda’. Como sabe qualquer um que tenha lido ou ouvido eu [sic] falar a respeito, isto é pura e simplesmente uma mentira.”

Aqui, vale o mesmo trecho que citamos acima – ou, se assim preferir Pomar, o mesmo desenho aqui publicado. O autor ou é incapaz de entender o que é uma analogia – assim sendo, precisaria reciclar sua graduação em História – ou simplesmente decidiu se fazer de idiota para, uma vez mais, fugir do debate.

Para o alívio do leitor, que está à beira de morrer de tédio a essa altura, em sua terceira citação do artigo escrito por nós, Pomar não foge, mas entra no debate pela primeira vez, admitindo, no entanto, que sua concepção dos direitos democráticos é tão progressista quanto a de um rei feudal. Diz ele:

“O PCO diz que eu estaria ‘admitindo’ que ‘não é necessário provar absolutamente nada nos casos de crimes envolvendo mulheres. Com um típico identitário, para fazer demagogia com as mulheres, Pomar quer estabelecer que basta a palavra de uma mulher para condenar automaticamente um homem’. Repito aqui o que já escrevi noutro lugar: o número de crimes contra a mulher é muito maior do que o número de denúncias, entre outros motivos porque é muito difícil condenar e provar, o que não quer dizer que o crime não tenha sido cometido. Portanto, peço ao Tico do PCO que explique ao Teco do PCO que, na maioria dos crimes, não há condenação, muito menos automática.”

Em um debate abstrato, Valter Pomar tem todo o direito de especular se é mais difícil condenar alguém ou denunciar alguém, se há mais homicídios investigados ou homicídios sem investigação, se o azul da farda do policial é mais belo que o verde da farda de um militar ou sobre qualquer coisa que lhe bem interessar. O problema é que o debate sobre número de denúncias versus número de condenações está relacionado a um caso concreto. Serve para se posicionar diante de um caso concreto.

Valter Pomar diz que é muito difícil condenar e provar alguém que tenha cometido assédio. No entanto, comemorou a demissão de Silvio Almeida por ter sido acusado de assédio. Logo, o Tico de Pomar deveria explicar ao Teco do Pomar que, segundo ele, se algo é difícil de provar, então não é necessário ser provado. É isso que o dirigente da AE defende.

O problema é penal, e não político. Não importa o que Pomar ache sobre a situação da mulher, não importa o quanto seja difícil a vida da mulher na sociedade. O problema todo é se, de acordo com a Lei, alguém deve ser automaticamente condenado ou não quando sofre esse tipo de acusação. E Pomar já demonstrou que, em sua opinião, sim.

Em sua quarta acusação, Pomar afirma que nosso artigo mente quando diz que eu não vejo “estrago nenhum casado (sic) pelo identitarismo”. Ora, mas a prova de que tínhamos razão está na quinta acusação do próprio Pomar, na qual ele confessa que, para ele, o identitarismo não teria um papel destrutivo:

“(…) confesso que acho terrível ler a seguinte afirmação, feita pelo PCO: ‘o identitarismo está destruindo o País’. Esta frase poderia ter saído da boca de alguém da extrema-direita (sic). Seja lá o que entendamos por ‘identitário’, não dá para falar que ele estaria destruindo o país. A verdade é um pouquinho diferente: quem está ‘destruindo o país’ é o imperialismo, o agronegócio, o capital financeiro, a classe dominante.”

Ora, mas o identitarismo é justamente a ideologia oficial do imperialismo. É a ideologia que serve de cobertura para os crimes cometidos pelo imperialismo contra os povos de todo o mundo. Não há como negar, por exemplo, que o identitarismo cumpre um papel importante na candidatura de Kamala Harris – mulher, negra, imigrante, etc. E Kamala Harris, por sua vez, é a candidata do imperialismo para suceder o genocida Joe Biden.

O mesmo identitarismo serviu para que delinquentes do sexo feminino chegassem a altos cargos de organismos internacionais criminosos, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e para que comandantes negros organizassem invasões criminosas, como o monstro Colin Powell, que teve um papel de destaque na guerra do Iraque, resultando no assassinato de centenas de milhares de pessoas.

O identitarismo também tem um papel de destaque no crescimento da extrema direita em todo o mundo. Na medida em que atua para confundir a esquerda e para promover a censura, essa política é como água no moinho da extrema direita, que utiliza o exemplo dos cavalos de Troia identitários infiltrados na esquerda para apresentar a esquerda como truculenta e impopular.

Se Pomar fala que o imperialismo é destrutivo, mas o identitarismo não o é, é porque ignora que o último seja apenas uma face do primeiro. Se é assim, só podemos concluir que Pomar defende o identitarismo porque, no final das contas, tem uma posição tão pró-imperialista que é incapaz de reconhecer que sua posição é a igual à do imperialismo. Pomar não reconhece o papel destrutivo do identitarismo porque, no final das contas, não vê no imperialismo um fator de destruição – mas sim um aliado para a conquista de seus interesses identitários.

Continuando a sua ignorância sobre o problema do identitarismo, Pomar afirma que “uma das táticas do sionismo é acusar seus inimigos de antisemitismo, portanto de racismo” e que “os sionistas fazem isso, não ‘graças aos identitários’, mas graças ao imperialismo e graças à sua força própria”.

Que é graças ao imperialismo, não há dúvida. A questão é: como, na prática, o imperialismo criou as condições para que o sionismo pudesse conseguir condenações de pessoas por “racismo” hoje? As condições foram criadas justamente pela campanha histérica dos identitários, que equipararam a injúria racial ao crime de racismo e que criaram a inconstitucional “lei da homofobia”, que por sinal, não é lei. Ao rasgar o artigo 5º da Constituição Federal, os identitários abriram o caminho para que a censura tomasse conta do País.

Em sua sétima acusação, Valter Pomar destaca o caso de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados:

“O cidadão é acusado. E usa seu poder para pressionar Deus e todo mundo. Vide o que está ocorrendo, hoje, com o deputado Glauber Braga. Denunciar o uso da máquina e do poder bruto, por parte do Artur Lira, para se proteger das acusações de violência contra a mulher, seria ‘identitarismo’?”.

Uma vez mais, suplicamos ao Tico de Pomar para explicar a seu Teco: não é porque os identitários pregam a censura que todos os que defendem a censura são necessariamente identitários. A questão é que o imperialismo, para criar as condições mais favoráveis à promoção da censura, utilizaram os identitários para estabelecer os precedentes. Arthur Lira, por exemplo, está utilizando o caminho trilhado pelos identitários para censurar as acusações contra ele.

O mais grotesco de tudo é que Pomar utiliza sua sétima – e, graças a deus, última – acusação para livrar-se de defender o seu próprio partido. Diz ele:

“O PCO diz que eu ‘admito’ que ‘o mesmo tipo de campanha histérica que foi feita com Silvio Almeida já foi feita, com muito mais intensidade, em outro período, para preparar um golpe de Estado’. Obviamente, eu não admito isso. O que eu disse é que julgamento penal é uma coisa, julgamento político é outra.”

Foi, de fato, uma generosidade de nossa parte. Faltou-nos conhecer suficientemente Pomar para interpretar o que ele havia dito na parte final de seu texto anterior. Que bom então que ele pôde, agora, nos esclarecer.

Para Pomar, o fato de que os dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT), do qual ele é filiado, foram condenados, presos e lançados ao ostracismo sem que nada fosse provado contra eles não foi o resultado de uma campanha histérica. Fica, assim, esclarecido porque ele não faz nem mesmo questão de manter as aparências quando o assunto é presunção de inocência: para ele, o que aconteceu no julgamento do “mensalão” não foi um ataque à presunção de inocência, realizado por meio de um esforço conjunto da imprensa, dos partidos de direita e do Judiciário. Simplesmente, com diria Benjamin Netaniahu, muitas pessoas falaram que “eles roubaram”.

A reação de Lula ao escândalo envolvendo Silvio Almeida foi a mesma da direção do PT à época do julgamento do “mensalão”. Isto é, a de preocupar-se unicamente com a própria imagem, evitando um choque com a grande imprensa – isto é, com os capitalistas. No passado, essa política colocou o partido a reboque de seus inimigos, de forma que o PT entrou em uma crise, cujos efeitos são sentidos até hoje. Não há como negar que os dirigentes fundadores do PT hoje fazem muita falta ao governo Lula, uma vez que conta com um partido muito mais burocratizado.

Uma perguntinha, já que entramos nesse tema. Em 2013, Valter Pomar saiu na defesa de José Dirceu e demais dirigentes perseguidos por uma ofensiva golpista ou ficou acusando os dirigentes de serem responsáveis pelo julgamento farsa da Ação Penal 470? Com a palavra, o próprio Valter Pomar, a partir do texto Antes tarde, do que tarde demais, publicado em seu blogue em 2012:

“A prisão de Dirceu, Genoíno e Delúbio resume, de maneira exemplar, certos dilemas estratégicos da esquerda brasileira. (…) Olhando-se de conjunto, o processo como um todo, inclusive a prisão de Dirceu, Genoíno e Delúbio, resultam de um duplo movimento: por um lado, da ação combinada da direita partidária, do oligopólio da mídia e de seus tentáculos no aparato judicial-policial; por outro lado, de um conjunto de ações, opções, omissões e erros cometidos pelo PT e aliados de esquerda. É importante perceber que a ação da direita parece ter grande respaldo popular, inclusive entre eleitores de Lula, Dilma e do PT. Há vários motivos para isto, alguns já citados, outros não, que levam parcela importante do povo brasileiro a considerar o PT “tão corrupto” quanto os demais partidos, opinião que provoca mais danos sobre nós petistas do que sobre os outros. (…) Setores do PT acreditam que tudo teria sido diferente, caso o Partido tivesse adotado uma postura distinta em 2005, inclusive afastando-se completamente dos que cometeram erros. Certamente teria sido diferente. Mas não foi esta a opção da então e novamente atual maioria do Partido. Delúbio Soares, por exemplo, foi expulso e depois reintegrado ao Partido. Portanto, o conjunto do PT não pode agir, agora, como se tivesse tomado outra atitude em 2005. Isto vale muito especialmente para os que integravam então e integram novamente a maioria partidária: seus atos precisam ter alguma consequência com a opção que adotaram em 2005. Setores do PT agem como se a prisão de Dirceu e Genoíno constituísse um “acidente de percurso”. Assim como as manifestações de junho, as sabotagens e rupturas na base aliada, o pequeno crescimento do PIB e a greve de investimentos do grande Capital seriam “pontos fora da curva”. Nós pensamos o contrário: a prisão de Dirceu e Genoíno faz parte de uma tragédia anunciada. Pois, de um certo ponto de vista, ambos simbolizam uma estratégia baseada em concessões aos inimigos. [grifos nossos]”

No que depender de Pomar, a política do PT deveria ser a de chicotear em praça pública os dirigentes partidários a todo momento em que a Rede Globo tirar da cartola uma “acusação”. É de uma fidelidade digna de um Judas Iscariotes.

Repetir essa política agora levará a um novo desastre. E, no que depender de Pomar, Lula terá mais uma pessoa para gritar: continue andando para o abismo!

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