Na última terça-feira, a Folha de S.Paulo publicou uma coluna, assinada pela jornalista Mariliz Pereira, de título “A iraniana problemática”. A peça é uma versão “brasileira” do ataque da imprensa imperialista contra o Irã, em torno de um recente vídeo nas redes sociais. A jornalista rotineiramente utiliza uma suposta defesa da mulher para defender os interesses do imperialismo, como abordado neste Diário em “O desprezo absoluto pela vida das mulheres palestinas” e “Imprensa golpista pede apoio ‘feminista’ a mulheres judias”.
O caso se refere a uma universitária, Ahoo Dariaei, que se despiu em público. Segundo o imperialismo, seria um ato de protesto, o que a Folha reproduz integralmente:
“Segundo os relatos, ela teria sido repreendida pela polícia moral por não usar o hijab (véu) de forma adequada, na Universidade Islâmica Azad.”
Que relatos? Ninguém sabe. Os tais “relatos” apareceram na voz da imprensa imperialista sem qualquer identificação crível. Mais que isso, o ato pode ser considerado ilegal no Brasil, e em quase qualquer país entre os ditos “democráticos”. Apesar disso, continua a colunista:
“Não é uma notícia velha. É só mais um capítulo na história de repressão (…) O enredo é sempre o mesmo. Um véu mal colocado, uma mulher assediada, presa, espancada, morta.”
Com que base, porém, acusa Mariliz? Diz ela:
“O que se sabe sobre Ahoo são informações de jornalistas e ativistas iranianos exilados. Ela teria se despido, em protesto, depois de uma abordagem violenta da polícia moral.”
Ou seja, as supostas fontes seriam pessoas que estão fora do país. Vejamos então o que se noticia mais próximo ao caso. A moça foi detida pelos seguranças da universidade e levada à polícia. Segundo representante da universidade e veículos de imprensa local, a universitária sofre com problemas psiquiátricos. A mesma imprensa divulgou um vídeo representando um homem que seria o ex-marido da jovem, declarando que ela sofreria dos referidos problemas, e seria mãe de dois filhos.
Conforme a porta-voz do governo iraniano, Fatmé Mohajerani, na terça-feira:
“Nenhum caso jurídico foi aberto contra a estudante. O governo tem uma visão social desta questão, e não uma visão de segurança. Tentaremos resolver o problema desta estudante como um indivíduo que está sofrendo com uma questão.”
A porta-voz afirmou que a estudante pode retornar à universidade no futuro caso se confirme que de fato sofre com um problema psiquiátrico, situação ainda em avaliação.
Apesar disso, a colunista da Folha pinta os fatos da seguinte forma:
“As imagens mostram a estudante caminhando pelo campus apenas com as roupas íntimas, numa postura de confronto. Os comentários sobre a cena se repetem: medo por ela. O destino de Ahoo, segundo o governo, foi a transferência da delegacia para um centro de tratamento psiquiátrico, por ser ‘problemática’, discurso endossado pela universidade.”
Nota-se a preocupação do veículo pró-imperialista, em sua abordagem tão pouco cínica do caso, em realizar uma campanha contra o Irã. A jovem, está claro, seria um meio, como poderia ser qualquer outro, para realizar seus objetivos de dominação do Oriente Médio. Vejamos a conclusão do texto:
“Num mundo livre, mulheres também são chamadas de loucas quando não atendem a expectativas, mas já podemos protestar, lutar por leis que combatam a violência, exigir mais igualdade, sem que sejamos arrastadas, espancadas, trancafiadas como criminosas e mortas como seres descartáveis. Ahoo Daryaei já se tornou uma imagem da resistência contra opressão feminina, mas talvez vire também mais um nome numa estatística macabra. A democracia é o único lugar um pouco mais seguro para as mulheres.”
Sensacionalismo barato. A jornalista ignora, é óbvio, o genocídio cometido na Faixa de Gaza pela chamada democracia em que implicitamente se baseia para dizer isso — os EUA. Um genocídio cujas principais vítimas são mulheres e crianças, e que agora se expande para o Líbano.
Ainda, apesar de haver imagens da jovem numa praça, em suas roupas íntimas, em vídeo de um minuto de duração, não há nenhuma imagem de uma abordagem violenta por qualquer força de segurança. Ademais, se pronunciaram já diversos veículos imperialistas, como a Anistia Internacional e o governo francês. A farsa imperialista não aparece em qualquer momento. O Irã, neste momento, desempenha papel central na resistência contra “Israel”.