O acadêmico Emir Sader publicou no portal de esquerda Brasil 247 um curioso artigo, intitulado As perspectivas do governo Lula, claramente uma peça sob encomenda para defender nada menos do que a política econômica de Fernando Haddad, apresentada na fantasia de Sader como “anti neoliberal”. Logo no primeiro parágrafo, o incontível apologista da direita petista brinda o leitor com a pérola:
“Lula faz um excelente governo, frontalmente antineoliberal, privilegiando as políticas sociais. A economia voltou a crescer, chegando a 3% este ano, o desemprego baixou a seu menor nível. Há um evidente processo de distribuição de renda, que se constata no aumento exponencial do movimento do comércio e das compras em geral. A situação da massa da população melhorou.”
Ora, se “a situação da massa da população melhorou”, essa realidade deveria ser refletida em uma disposição da população em apoiar a esquerda nas eleições municipais ocorridas há menos de dois meses completos. No entanto, o que vimos foi um fenômeno oposto: a extrema direita teve um crescimento exponencial, enquanto a esquerda sofreu uma derrota acachapante, especialmente nas capitais brasileiras e sobretudo no Centro-Sul, a região mais desenvolvida do País.
Se as melhorias mencionadas por Sader fossem tão palpáveis e representativas para a população, seria de se esperar que a esquerda colhesse frutos eleitorais. No entanto, o que se percebe é um enfraquecimento vertiginoso da esquerda, o que levanta sérias dúvidas sobre o impacto real das políticas defendidas pelo acadêmico. Talvez, ao chamar o governo federal de “excelente”, Sader esteja vendo a realidade do ponto de vista da direita ou, mais especificamente, da extrema direita.
Finalmente, todos os pressupostos para assumir que a “situação da massa da população melhorou” são uma farsa. Menos da metade da força de trabalho brasileira tem emprego com carteira assinada, o que desmonta completamente a mentira do “desemprego em seu menor nível”. Tampouco há “um evidente processo de distribuição de renda”, uma vez que os salários ganharam reajustes fictícios, superando ligeiramente a inflação oficial, mas nem por acaso a carestia geral, especialmente nos preços que atingem a classe trabalhadora, alimentos, salários, transporte, e nem vamos entrar no mérito das manipulações como registrar quedas no preço da passagem aérea para determinar a variação no custo do transporte, por exemplo.
Ainda apostando na ignorância que só pode acometer esquerdistas privilegiados e na vã tentativa de massificação do mundo fantástico que só a direita petista vê, Sader continua:
“Lula faz um bom governo, mas está perdendo a disputa no plano das comunicações. Lula é o maior comunicador da esquerda, mas é ao mesmo tempo alvo reiterado das críticas da mídia.
Tratam de desconhecer ou desgastar o inegável prestígio internacional do Lula. Desconhecem os fortes argumentos a favor da melhoria econômica e social do país. Não divulgam dados reais sobre a situação do povo.”
Ocorre que os trabalhadores não precisam de “dados reais sobre a situação do povo”, nem de alguém mentindo ao melhor estilo “a economia vai bem, o povo vai mal”. O que precisam é de uma política econômica verdadeiramente progressista, que reverta a desindustrialização, retomando a expansão do parque industrial nacional e, com isso, gerar empregos de verdade, no lugar dos bicos que atualmente são usados para mascarar as estatísticas do desemprego.
Precisam ainda de salários que paguem as contas. Nenhum “plano de comunicações” será eficiente se a defasagem dos salários de fome praticados no Brasil, inferiores aos da Bolívia, continuam incapazes de cobrir as despesas do trabalhador e de sua família com alimentação, moradia, transporte, vestuário e outros itens fundamentais da vida moderna.
Em política, os meios e os fins têm uma relação direta, e a defesa de uma política direitista por parte de Sader, acompanhada do uso de táticas de propaganda típicas da direita, como a repetição incessante de mentiras, não tem outro objetivo senão pressionar o governo Lula a se deslocar ainda mais para a direita. Embora aparente estar defendendo o governo, o que Sader realmente está fazendo é fortalecer a direita, pressionando Lula a ceder ainda mais aos inimigos do povo, algo que já foi visto no governo Dilma Rousseff e, longe de pacificar a situação nacional, impulsionou a campanha golpista que a derrubou.
O fortalecimento da extrema direita e o enfraquecimento da esquerda no cenário recente das eleições municipais indicam claramente que, sem uma pressão mais firme e um direcionamento real das políticas públicas para os trabalhadores, o governo Lula caminha para um destino similar. Se a política defendida por Sader e a direita petista for seguida, empurrará o governo para um desastre total.