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Estados Unidos

Um apoio consciente ao candidato da CIA

or mais que admita que a história da "mulher negra" não passe de conversa fiada, o Esquerda Online está disposto a fazer campanha para a candidata do imperialismo

Na última segunda-feira, 22 de julho, o portal Esquerda Online publicou um artigo intitulado Crítica à Representatividade Neoliberal: O Caso Kamala Harris, assinado por Rafaella Florencio. O artigo, apesar de aparentemente criticar a política identitária da “representatividade”, de fato endossa tal política, e conclui com a defesa do atrelamento total da esquerda ao identitarismo ou, em palavras mais claras, à política imperialista. A abertura do texto já dá um sinal do que vem pela frente:

“A recente retirada de Joe Biden da corrida presidencial dos Estados Unidos lança luz sobre um cenário político profundamente desafiador. Sua longa trajetória como promotor de guerras, cúmplice de genocídios, aliado das grandes corporações, inimigo dos imigrantes e do meio ambiente, e uma constante decepção para a classe trabalhadora culmina em um fim político desonroso.”

O primeiro erro da matéria é apontar Joe Biden, homem do imperialismo, articulador do golpe de 2016 no Brasil, como “uma constante decepção para a classe trabalhadora“. Já antes disso, durante a campanha eleitoral e durante a pré-campanha, era flagrante a impopularidade de Biden, um homem que veio de dentro dos próprios serviços de inteligência e que só conseguiu vencer as eleições devido ao esforço feito pelos grandes capitalistas.

Sem qualquer qualidade que pudesse redimir sua imagem frente à população, o Partido Democrata recorreu a uma campanha de tipo terrorista, pintando Trump como o grande mal a ser derrotado, e Biden como um mal menor, passível de ser pressionado à esquerda. A verdade se mostrou outra, e o “mal menor” leva o mundo às portas de uma Terceira Guerra Mundial, enquanto financia o genocídio na Palestina e o governo fascista da Ucrânia, que arremessa sua população como de canhão carne contra a artilharia russa para adiar uma derrota inevitável. É, contudo, pelo próximo ponto que o artigo no Esquerda Online omite esse problema:

“A necessidade de derrotar Donald Trump e impedir seu retorno à presidência como principal representante do fascismo mundial é essencial para compreender a atual dinâmica política. Trump, com sua retórica inflamadora e políticas excludentes, representa um risco significativo à democracia e à coesão social não apenas nos Estados Unidos, mas globalmente.”

Ora, é necessário novamente, para estabelecer a fraude e eleger um homem forte do imperialismo, realizar a campanha terrorista contra Donald Trump. No caso, a retórica de Trump contra a política de guerras do principal setor do imperialismo, representado por Joe Biden e Kamala Harris, por exemplo, é um problema, porque inflama a população contra uma política já impopular. O que Trump fez, afinal, que possa ser considerado pior do que os feitos de Joe Biden? Nada. Trump representa um setor mais fraco da burguesia, por isso é um fator de crise para o regime norte-americano, e esse é o ponto central da questão.

A “democracia” e a “coesão social” de que falam Rafaella Florencio e o Esquerda Online são justamente o regime de dominação do imperialismo. A estabilidade que defendem é a sustentação desse regime em todo o planeta. Por isso, apesar de denunciar em parte a política imperialista, já que ficaria flagrante seu apoio ao esmagamento dos trabalhadores do mundo. Mas a farsa continua por ainda outro viés.

“Apesar de ser uma mulher negra e filha de imigrantes, atributos que, à primeira vista, poderiam sugerir uma representação autêntica da diversidade e inclusão, Harris não escapa da crítica mais profunda sobre suas políticas e alinhamentos. Sua identidade, embora importante, não deve ser vista como um substituto para um compromisso genuíno com as causas da classe trabalhadora.”

O Esquerda Online e sua autora apontam fatores superficiais, como a cor da pele, para apontar o que seria a defesa de uma determinada política, como se fosse isso algo racional! Apontam o horror da política de Kamala Harris, e simultaneamente falam da importância de sua identidade, que não seria um fantoche do imperialismo, mas uma “mulher negra e filha de imigrantes“. Essa é a abertura que será utilizada por ambos para apoiar a genocida Kamala Harris, com a mesma estrutura de argumento. Primeiro, para dar um ar de legitimidade a toda esta farsa, uma denúncia:

“Kamala Harris tem consistentemente apoiado políticas de imigração rigorosas, resultando em um aumento significativo no número de imigrantes detidos e crianças desacompanhadas nas fronteiras americanas.”

Depois, uma declaração identitária:

“A questão da representatividade de gênero e etnia no parlamento é de indiscutível importância para setores progressistas.”

Uma flagrante enganação. O sexo e a cor de um indivíduo não fazem com que estes representem o interesse do conjunto, da maioria, daquele setor social, como já foi (e acabou de ser!) apontado pela própria autora. Em outras palavras, são características superficiais, irrelevantes quando se discute política, afinal, como se vê em quase qualquer cidade do Brasil, a polícia militar que massacra o negro é composta em muitos lugares por negros, o que não faz com que essa instituição carniceira represente os negros. Isso, porém, é classificado pelo Esquerda Online e por Rafaella Florencio como “de indiscutível importância“, em outras palavras, estaria acima do fundamental, os interesses concretos, materiais, dos explorados. A autora, então, segue dizendo que:

“No entanto, é crucial reconhecer que tal representatividade, quando desvinculada da luta de classes, corre o risco de ser instrumentalizada pela burguesia para manter o status quo” — farsa de caracterizar esta política imperialista, identitária, como relevante.

“Harris simboliza um falso avanço em termos de diversidade, já que representa políticas que não desafiam as estruturas opressivas do capitalismo e do imperialismo. Por essa razão, é um erro parte da esquerda comemorar a indicação de seu nome apenas pela justificativa de ser uma mulher negra. Sua posição política revela uma continuidade das práticas imperialistas e neoliberais que não servem aos interesses da classe trabalhadora” — denúncia que não será considerada em termos de proposta política concreta.

“A representatividade é frequentemente entendida como a presença efetiva e proporcional de grupos diversos em várias esferas da sociedade, especialmente nos espaços de poder e decisão. No entanto, quando analisada pela perspectiva do feminismo negro, a representatividade vai além da simples presença. Trata-se de garantir que as experiências e perspectivas políticas das margens sejam integradas e influenciem as decisões. Essa abordagem visa combater a marginalização e assegurar que as vozes dos grupos oprimidos disputem efetivamente os espaços de poder” — farsa de caracterizar esta política imperialista, identitária, como relevante.

Note-se que não se fala em representatividade para metalúrgicos, químicos, operários dos frios, camponeses, pescadores, etc., o que representaria interesses materiais, de classe. Isso, pois essa “representatividade” não existe, pois se trata de uma farsa, uma política do imperialismo para enganar os explorados.

“O problema surge quando o neoliberalismo se apropria dessa ferramenta política, esvaziando seu significado original e transformando-a em uma agenda de diversidade que pouco ou nada altera as estruturas de poder. Kamala Harris exemplifica esse fenômeno. Embora sua identidade como mulher negra e filha de imigrantes possa sugerir uma representatividade significativa, suas políticas perpetuam as práticas imperialistas e neoliberais que caracterizam a administração Biden.

“Um outro exemplo desse esvaziamento da representatividade pode ser observado no Brasil, onde deputadas mulheres apoiaram um projeto de lei que equipara abortos acima de 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples” — denúncia que não será considerada em termos de proposta política concreta.

Vemos então algo como uma colocação final, mas que será completamente atropelada pelo apoio aberto, flagrante, irrestrito, ao Partido Democrata, o principal partido da 3ª Guerra Mundial, o principal partido do genocídio na Palestina. Vejamos:

“A luta por justiça social e igualdade exige representantes comprometidos com a transformação real, não apenas figuras simbólicas de diversidade.”

“Contudo, precisamos acompanhar de perto o desenvolvimento das eleições norte-americanas e, se possível, intervir para garantir que Kamala Harris ou outro candidato do Partido Democrata seja eleito. Isso se torna crucial para impedir o retorno do principal representante do fascismo mundial, Donald Trump, no coração do imperialismo. A derrota de Trump e do que ele representa é uma prioridade, não apenas pela política interna dos EUA, mas pelos impactos globais de suas políticas excludentes e discriminatórias.”

“Em conclusão, a necessidade de uma liderança que verdadeiramente represente as mulheres, especialmente as negras, bem como a comunidade LGBTQIPN+, as pessoas com deficiência, os imigrantes e tantas outras facetas essenciais que, juntas, formam a espinha dorsal da classe trabalhadora, é premente. […] A verdadeira emancipação e justiça dos setores oprimidos, com especial destaque para as mulheres negras, só podem ser alcançadas por meio de um compromisso inabalável com a transformação estrutural e a defesa dos interesses da classe trabalhadora, já que esses setores são partes constitutivas da classe e não existem para além dela.”

O Esquerda Online revela, portanto, que não tem qualquer divergência com o fundamental do conteúdo da candidatura de Kamala Harris: o seu caráter profundamente pró-imperialista. Do contrário, sequer cogitaria apoiar a candidata democrata.

O mais curioso de tudo é que sequer a autora pode dizer que não apoia a política genocida do imperialismo, mas sim que apoia somente uma candidatura de uma “mulher negra”. Afinal, a própria autora já chamou a atenção para o fato de que há muita podridão por baixa da pele negra da vice-presidente norte-americana.

O caso mostra, portanto, que há um setor da esquerda brasileira que já está tão integrada ao imperialismo que sequer se preocupa em se opor ao imperialismo.Por mais que admita que a história da “mulher negra” não passe de conversa fiada, o Esquerda Online está disposto a fazer campanha para a candidata do imperialismo.

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