O presidente Lula, certa vez, buscando explicar sua decisão de lançar Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo, em 2012, justificou que o atual ministro da Fazendo era o mais tucano dos petistas — isto é, o político do PT que mais se assemelharia a um político burguês e direitista do PSDB. À frente da Fazenda, Haddad tem comprovado essa afirmação, realizando uma política neoliberal totalmente oposta à política econômica pela qual o governo Lula foi eleito pelo povo.
A recente defesa de um ajuste fiscal contra o povo levou o Partido dos Trabalhadores (partido do governo e do próprio ministro) a assinar um manifesto com sindicatos e movimentos sociais contra a política.
O manifesto destacou: “temos acompanhado, com crescente preocupação, notícias e editoriais na mídia que têm o objetivo de constranger o governo federal a cortar ‘estruturalmente’ recursos orçamentários e outras fontes de financiamento de políticas públicas voltadas para a saúde, a educação, os trabalhadores, aposentados e idosos, bem como os programas de investimento na infraestrutura para o crescimento do país”.
A nota entende, corretamente, que o ajuste fiscal se dá por meio de uma pressão “do poder financeiro, os mercados e seus porta-vozes na mídia”, e denuncia que “agora querem cortar na carne da maioria do povo, avançando seu facão sobre conquistas históricas como o reajuste real do salário-mínimo e sua vinculação às aposentadorias e ao BPC, o seguro-desemprego, os direitos do trabalhador sobre o FGTS, os pisos constitucionais da Saúde e da Educação”.
Em nenhum momento, no entanto, a nota menciona o nome de Fernando Haddad, pessoa que, de fato, está servindo como transmissor da pressão dos capitalistas dentro do governo — defendendo publicamente, mesmo que Lula se posicione contra, que cortes contra os pobres sejam feitos. Haddad, assim, não atua como um ministro de Lula, mas como uma autoridade independente do presidente da República, algo que se tornou comum em outros ministérios e que revela a completa falta de margem de manobra para o presidente petista.
Os setores mais direitistas do PT, porém, se morderam com o manifesto assinado pelo próprio partido. O diretor da Fundação Perseu Abramo, o ultradireitista (e sionista) Alberto Cantalice, foi à rede social X (ex-Twitter), em 11 de novembro (um dia após o manifesto), para defender Haddad.
“O PT é o partido do presidente Lula. Tem no ministro Fernando Haddad um de seus principais quadros. Não pode brincar de governo e oposição ao mesmo tempo. Não pode ser objeto de lacração de quem quer que seja”, escreveu, após inúmeros militantes da esquerda defenderam que estava correta a assinatura do manifesto e as inúmeras críticas a Haddad.
Segundo ele, portanto, criticar a política neoliberal de Haddad seria “lacração” e o ministro seria um dos “principais quadros” do PT. Vejam, então, que Cantalice defende abertamente que o Partido dos Trabalhadores seja, efetivamente, o partido dos políticos burgueses antipopulares, um PSDB vermelho.
Ele em seguida destacou que “os esforços que a equipe econômica estão fazendo tem o apoio do presidente. Se assim não fosse bastava desmenti-los”. Cantalice afirma isso apesar do próprio Lula já ter se posicionado publicamente contra os cortes anunciados pelo ministro Haddad. Mas, Cantalice, magoado, chora, como quem vê que a política da direita do PT, ao qual ele mesmo é um representante, não tem nenhuma popularidade: “é muita feia essa fritura do ministro. É ruim para o governo, é péssimo para o PT”.
Em uma publicação no dia seguinte na mesma rede social, Cantalice publicou a captura de tela de um artigo no qual o chefe do BNDES, Aloisio Mercadante, defende o ajuste fiscal e diz que o PT tem o dever de apoiar o governo. O diretor da FPA, então, escreveu: “Fernando Haddad não age por si só. Tem uma lógica econômica que embasa suas ideias. Tanto é assim, que agasalhou no Orçamento de 2024 os recursos disponibilizados pela PEC dos Pobres. Isso com o aumento da Receita”.
“É inegável que vários desembolsos da União precisam de calibragem”, continua, “a luta pela diminuição das isenções continuam. A luta contra a volta da inflação é permanente”. “Quando o Lula 1 e 2 equilibram de vez a economia, o crescimento do Brasil chegou a 7,5%. Esses arreganhos foram os mesmos em 2003 a 2010. Vai passar!”, justificou.
Quer dizer, ignorando totalmente o fato que Haddad e Lula dão declarações que se opõem publicamente, Cantalice inventa que Haddad “não age por si só” apenas porque Mercadante também o apoia. O diretor de FPA, porém, está certo: “Fernando Haddad não age por si só”; ele é orientado pelos grandes bancos e o capital financeiro para cortar dos pobres.
Mas vejamos o restante do argumento de Cantalice: é o famoso “apertar os cintos”, defendido pelos governos neoliberais para atacar a população mais pobre. As justificativas são sempre as mesmas: combater a inflação, cortar para depois melhorar etc. Cantalice (e Haddad), nesse sentido, não diferem em nada de Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor, José Sarney, Itamar Franco etc. O povo precisa passar fome com a esperança que, no futuro, Haddad, heroicamente, terá resolvido o problema econômico e lhe dará alguma coisinha.
Em sua defesa desenfreada de Haddad, Cantalice ainda publicou a captura de tela de um artigo no qual Haddad foi nomeado por um dos mais influentes órgãos de imprensa do imperialista, a revista Time, como uma das “lideranças climáticas mais influentes”, e escreveu: “a luta pela transição ecológica ganha o mundo. É no Brasil que podemos conseguir os maiores êxitos nessa questão. Haddad tem cuidado pessoalmente dessa transição. Haddad é Lula. Lula é Haddad”.
Quer dizer, ludibriado pela bajulação do imperialismo a Haddad, Cantalice amplia sua “baba-ovice” do ministro da Fazenda. Sempre, é claro, tentando igualá-lo ao presidente Lula para ver se engana algum trouxa. E assim segue o X de Cantalice: puxação de saco após puxação de saco do ministro da Fazenda.
Cantalice demonstra, assim, a total impopularidade da direita do PT.