Em matéria publicada na seção brasileira do sítio russo Sputnik, o ex-senador pelo estado de Minas Gerais, Antonio Anastasia (à época no PSDB, atualmente no PSD), que compareceu às eleições do Azerbaijão de 2020 na qualidade de observador, denuncia que a Comissão Europeia o colocou em uma “lista negra” de observadores, com a indicação de que o político brasileiro seria um “observador fajuto” (“Europa intimida observadores internacionais em eleições na Rússia, revela fonte brasileira”, 18/3/2024). Sputnik usa o caso para denunciar as intimidações realizadas pela Comissão Europeia “não só [com os] observadores da sociedade civil, como também representantes governamentais”, o que segundo órgão russo, tem como propósito reduzir a ação de observadores em processos eleitorais não controlados pelo imperialismo.
“Acho que foi um erro o Brasil não enviar representantes para observar as eleições na Rússia”, disse em entrevista à Sputnik o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fabiano Mielniczuk, ele próprio, um observador do processo eleitoral russo. “A minha presença, como acadêmico”, continua, “dá-se em função da abertura para a sociedade civil participar. Mas o governo brasileiro não enviou representantes e, na minha avaliação, errou.”
Outra fonte ouvida por Sputnik que pediu anonimato reforçou a denúncia, indicando a existência de um “bullying institucional” organizado pelo imperialismo europeu. Segundo a fonte, o objetivo é evitar que representantes internacionais compareçam a eleições como a da Rússia, onde era esperado que o atual presidente, Vladmir Putin, conquistasse sua reeleição com amplo apoio popular. O informa diz ainda que a UE mantém um sítio na internet dedicado a denunciar observadores eleitorais incômodos.
“‘As questões políticas estão presentes: como o Ocidente se encontra em conflito com a Rússia, não houve acordo para receber delegações da Comissão Europeia para observar as eleições russas. E a reação europeia é dizer que todas as eleições que eles não observam devem ser consideradas inválidas e politizadas’, lamentou a fonte.” (Idem).
Corroborando as denúncias e destacando-as como parte de uma campanha para enfraquecer a Rússia, a seção em inglês do sítio Sputnik publicou uma entrevista com o oficial de inteligência da CIA aposentado e funcionário do Departamento de Estado, Larry Johnson. Segundo Johnson, “criar uma quinta coluna sempre foi e sempre será um sonho [dos EUA]”. O “objetivo final”, continua, “de interferir nos assuntos domésticos da Rússia é criar uma Rússia que será obediente aos EUA e fazê-la submeter-se à vontade do Ocidente.”
Para isso, o ex-oficial da CIA destaca que o governo norte-americano desenvolveu um roteiro para interferir nas eleições russas. Inserindo-se nos métodos primários que a inteligência dos EUA emprega ao se intrometer nos processos eleitorais de outros países, Johnson explicou que tudo começa com o financiamento:
“Você identifica um grupo de oposição existente e fornece financiamento, ou cria um grupo de oposição e fornece financiamento. Você cria propaganda ou coloca artigos no que costumava ser jornais e revistas, e então você cria documentários, filmes e notícias para a televisão. E agora, com o advento das mídias sociais, você as usa para tentar desenvolver memes e desenvolver ideias”.
O roteiro detalhado por Johnson é fundamental para o imperialismo controlar as eleições dos países atrasados, de modo que as colocações do ex-CIA comparados às denúncias da pressão contra os observadores, fornece um quadro que explica os ataques que as eleições russas sofrem. O próprio Johnson reforça que “a capacidade de inteligência russa é realmente boa em identificar essas ameaças [de interferência norte-americana em eleições] e em lidar com elas.” Ou seja, as denúncias contra o pleito que reelegeu Putin e a falta de democracia no processo nada mais são do que o famoso “choro do perdedor”.
Tanto a entrevista quanto as denúncias dos observadores demonstram de maneira clara, porque a esquerda não deve se sensibilizar com campanhas promovidas pelo imperialismo e difundidas pelos monopólios de comunicação de que determinadas eleições não são livres ou democráticas, não devendo ser, portanto, respeitadas ou tomadas como uma expressão válida da popular. Não sem surpresa, tais acusações recaem apenas contra regimes rebeldes, que se opõe à submissão dos seus países aos ditames imperialistas e que não aceitam a intromissão da ditadura mundial em seus processos eleitorais.