Em comunicado publicado na rede social Telegram no último dia 28, o coronel-general Aleksandr Syrsky, comandante-em-chefe do Exército da Ucrânia, anunciou que as tropas de seu país retiraram-se das aldeias de Berdychi e Semyonovka, a noroeste de Avdeevka, e de Novomikhailovka, a sudoeste de Donetsk. Segundo Syrsky, os ucranianos estavam em desvantagem numérica e cederam terreno para preservar “as vidas e a saúde dos nossos defensores”. “A situação mais difícil é nas direções Pokrovsk e Kurakhovo, onde batalhas ferozes continuam,” acrescentou, informando que “o inimigo envolveu até quatro brigadas nestas direções e tenta desenvolver uma ofensiva a oeste de Avdeevka e Maryinka.”
O governo russo estima que as forças ucranianas perderam mais do que 8 mil homens apenas na semana passada. Ao todo, desde o começo das operações militares especiais, em fevereiro de 2022, o governo russo estima as baixas em meio milhão de soldados.
“Nosso alto potencial de combate nos permite atacar constantemente o inimigo e impedi-lo de manter a linha de defesa”, disse o ministro da Defesa da Rússia Sergei Shoigu.
O governo norte-americano atribui as derrotas ao impasse provocado pelos republicanos no Congresso, que travou o envio de ajuda ao regime ucraniano. O governo norte-americano conseguiu aprovar um pacote de ajuda à Ucrânia, Tapei Chinesa e “Israel”, porém a avaliação da presidência é que a ajuda foi aprovada tarde demais.
Syrsky, por outro lado, disse também no domingo que as forças russas atacam “toda a linha de frente”, de mais de mil quilômetros. Na sexta-feira, o general disse aos apoiadores imperialista que as forças de ucranianas enfrentam uma “situação operacional e estratégica difícil, que tende a piorar”.
Em consequência disso, o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelenski, anunciou no mesmo dia que a Ucrânia e os EUA estavam trabalhando em um acordo de segurança bilateral, algo que os ucranianos já fizeram também com outros países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
“Já estamos trabalhando em um texto específico”, disse Zelenski, “estamos discutindo os fundamentos específicos de nossa segurança e cooperação. Também estamos trabalhando na fixação de níveis específicos de apoio para este ano e para os próximos 10 anos”, concluiu o mandatário ucraniano um discurso em vídeo.
A análise militar
Ao portal russo Sputnik, David Pyne, ex-analista do Departamento de Defesa dos EUA e vice-presidente executivo da Task Force on National and Homeland Security, informa que a assinatura dos tratados de segurança seria um padrão adotado pelo imperialismo e indicaria que a Ucrânia estaria “a seis meses de um colapso militar” (“Ukraine’s Push for Security Pact With US Foreshadows ‘Looming Military Collapse’ – Ex-US DoD Analyst”, Svetlana Ekimenko, 29/4/2024).
“Ele”, continua a matéria da Sputnik, referindo-se ao ex-militar, “sugeriu que a ânsia de Quieve [Ucrânia] em negociar o texto de tal acordo com Washington neste momento era um ‘bom sinal’”, diz a matéria, acrescentando a colocação:
“Isso significa que a Ucrânia entende que está chegando a um ponto em que não terá outra escolha a não ser negociar um cessar-fogo permanente e um acordo de paz com a Rússia”, disse o ex-militar. Para ele, os ucranianos são ainda pressionados pela perspectiva da vitória de um opositor notório da participação dos EUA no conflito: o ex-presidente Donald Trump.
“É claro que a outra razão pela qual esse acordo está sendo buscado agora é que Zelenski teme que, se o [ex-]presidente Trump vencer a eleição presidencial de 2024, ele poderá optar por cortar todo o apoio à Ucrânia e Zelenski quer fechar esse acordo de segurança para tentar pressionar Trump a continuar apoiando a Ucrânia se Biden for derrotado”, afirmou Pyne.
Segundo o ex-analista do Pentágono, o objetivo do acordo atualmente em fase finalização é fornecer à Ucrânia as garantias de segurança necessárias para concluir um tratado com a Rússia que ponha fim ao conflito em curso. No entanto, o especialista também destacou outro aspecto do pacto de segurança bilateral em andamento.
“Na verdade, ele pretende substituir a adesão da Ucrânia à OTAN, que os EUA disseram à Ucrânia em particular, em termos inequívocos, que não ocorrerá na Cúpula da OTAN de julho de 2024 em Vilnius, se é que ocorrerá”, afirmou. A derrota, no entanto, tem alcance além das fronteiras do Leste europeu, conforme a visão de outro analista, que considerou a posição da Rússia no Oriente Médio “forte”, enquanto os EUA parecem “ridículos”, conforme a avaliação feita pelo coronel aposentado do Exército dos EUA Douglas Macgregor, que proferiu sua perspectiva no X.
“Estrategicamente, Putin tem todas as cartas no Oriente Médio. Ele é amplamente respeitado na região e tem praticado a contenção. Se considerarmos isso como um exercício de branding [gestão da marca, em tradução livre], nosso branding está seriamente prejudicado no Oriente Médio. Nós parecemos ridículos e a Rússia parece forte”.
Em transmissão do canal no YouTube do Diário Causa Operária, o analista militar brasileiro, comandante Robinson Farinazzo, apresenta concordância com o coronel Macgregor e acrescenta: “não subestime a capacidade do presidente norte-americano, Joe Biden, em fazer besteira”, disse, comentando uma matéria do jornal norte-americano Washington Post, que relatou a falta de tropas ucranianas para os EUA treinarem e que a última brigada saiu da Alemanha após ser treinada pela potência imperialista no primeiro bimestre do ano.
“A situação do exército ucraniano”, disse Farinazzo, “vai deteriorar cada vez mais. Esse já é o quarto exército ucraniano, eles já reconstruíram aquilo quatro vezes, parece aquele filme ‘A Volta dos Mortos Vivos’, você mata o cara ele e volta. O melhor exército ucraniano foi destruído entre as batalhas de Mariupol. Você não reconstrói a experiência de um major com 15 anos de caserna, de um sargento com 10 anos, não se faz isso da noite para o dia”, diz.