Nesta quarta-feira (6), Donald Trump venceu Kamala Harris e voltou à presidência dos Estados Unidos depois de quatro anos. O republicano conquistou pelo menos 277 delegados no colégio eleitoral e mais de cinco milhões de votos de diferença no voto popular para derrotar a democrata nas eleições que começaram na terça-feira (5).
A vitória de Trump se deu, principalmente, devido à sua votação nos chamados estado-pêndulo (os “swing states”). Na noite de terça-feira, ele estava na frente de Kamala Harris em cinco dos sete estados decisivos. Pouco tempo depois, ganhou na Carolina do Norte e, na madrugada de quarta-feira, venceu na Geórgia e na Pensilvânia, ainda liderando em Nevada, Arizona e Michigan. Pouco tempo depois, obteve uma vantagem que, segundo a imprensa norte-americana, não pode ser revertida em Wisconsin.
Antes mesmo da declaração de sua vitória, Trump realizou um discurso em Palm Beach, na Flórida, na madrugada de quarta-feira. “Vamos curar nosso país, que precisa muito de ajuda. Vamos consertar nossas fronteiras e muitas coisas que precisam ser consertadas […] Está será verdadeiramente a era dourada para a América”, afirmou o republicano.
Depois da projeção da Fox News de que Trump havia ganhado o pleito, um dos primeiros jornais a dar este resultado, o republicano concedeu um discurso no mesmo local reivindicando sua vitória. “A América nos deu um mandato poderoso e sem precedentes”, afirmou, classificando o resultado como o “maior movimento político de todos os tempos“.
“Eu não vou descansar até devolver essa América segura e próspera que merecemos. Essa vai ser a era de ouro da América. E agora, vamos chegar a um novo nível de importância, porque vamos ajudar nosso país a se curar. Nosso país precisa de ajudar urgente”, afirmou.
A trajetória de Donald Trump até a volta à Casa Branca foi extremamente conturbada. Além de ter sido acusado de derrubar o governo Biden quando alguns de seus apoiadores fizeram uma manifestação no Capitólio, foi indiciado pela justiça em quatro ocasiões diferentes, condenado em uma e sofreu duas tentativas de assassinato.
Com sua vitória, ele se torna não só o primeiro presidente a sofrer dois processos de impeachment e o primeiro a ser indiciado e condenado, como também o primeiro presidente a ser eleito em dois mandatos consecutivos desde Grover Cleveland em 1892. Ele é, ademais, a pessoa mais velha a tornar-se presidente.
No começo de janeiro de 2025, uma sessão conjunta do Congresso fará a certificação dos votos. Conforme diz a 20ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, todo presidente e vice-presidente devem tomar posse no dia 20 de janeiro:
“Os mandatos do Presidente e do Vice-Presidente terminarão ao meio-dia [horário de Washington D.C.] do dia 20 de janeiro, […]; e os mandatos de seus sucessores começarão”, diz a emenda.
Vitória no Senado e disputa na Câmara
Ao mesmo tempo em que Trump estava sendo eleito, o Partido Republicano também emplacava uma enorme vitória no Senado, formando maioria com 52 cadeiras. O Partido Democrata, por outro lado, conquistou 44 assentos.
A eleição no Senado ainda não foi definida, entretanto, em quatro estados: Maine, Pensilvânia, Nevada e Arizona. Em Maine e em Arizona, os democratas estão na frente, enquanto que nos outros dois, quem lidera são os republicanos. Caso essa tendência se mantenha até o final da apuração, a previsão é que o Partido Republicano termine a eleição com 54 cadeiras, e o Partido Democrata, com 46.
Ao mesmo tempo, na versão norte-americana da Câmara dos Deputados, a disputa pela maioria – atingida com 218 assentos – ainda está em aberto. Os republicanos já emplacaram 204 cadeiras contra 184 dos democratas, ainda havendo 43 assentos em disputa.
Kamala Harris concede discurso da derrota
Kamala Harris aceitou publicamente a derrota nas eleições presidenciais em discurso feito na tarde de quarta-feira (6), após uma campanha que durou 107 dias. Com uma abordagem voltada para a “resiliência democrática”, Harris afirmou que o resultado “não é o que queríamos, não é o que lutamos e votamos”, mas que respeitar o processo eleitoral é um “princípio fundamental” do sistema norte-americano.
A vice-presidente expressou “gratidão” por aqueles que participaram de sua campanha, incluindo voluntários, funcionários eleitorais e a sua equipe. Harris também demonstrou apoio à transição, afirmando que já havia entrado em contato com Trump para garantir um processo “pacífico”. “Falei com o presidente-eleito Trump e o parabenizei pela vitória. Disse também que ajudaremos ele e sua equipe durante a transição”, declarou Harris.
Harris ressaltou que, apesar da derrota, sua “luta por liberdade, oportunidade e dignidade” permanecerá. Em tom demagógico, Harris conclamou os jovens a se manterem engajados por um “futuro de liberdade e justiça”. Contudo, o discurso evitou abordar diretamente temas que foram eixos de polêmicas durante a campanha e ao longo de sua vice-presidência.
Reação internacional
O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), partido que lidera a resistência palestina contra a ocupação sionista, foi uma das primeiras organizações a comentar sobre o resultado eleitoral norte-americano. Confira, abaixo, a declaração emitida pelo partido palestino na íntegra:
Em Nome de Alá, o Clemente, o Misericordioso
Declaração à imprensa sobre os resultados das eleições presidenciais dos EUA
À luz dos resultados que indicam a vitória de Donald Trump nas eleições nos EUA, nós, do Movimento de Resistência Islâmica – Hamas, afirmamos o seguinte:
- A nossa posição em relação à nova administração dos EUA dependerá das suas posições e ações práticas em relação ao nosso povo palestiniano, dos seus direitos legítimos e da sua causa justa.
- É lamentável notar que todas as sucessivas administrações dos EUA, desde a ocupação da Palestina em 1948, mantiveram posições negativas sobre a causa palestina. Eles têm sido consistentemente os principais apoiadores da ocupação sionista em todos os domínios, e a administração anterior seguiu um caminho tendencioso para a ocupação e a agressão, proporcionando cobertura política e militar aos criminosos de guerra sionistas para continuarem alguns dos mais horríveis atos de genocídio da história moderna, solidificando o seu papel como parceiro pleno na matança de dezenas de milhares de pessoas, incluindo crianças, mulheres e idosos.
- Apelamos ao fim do viés cego em relação à ocupação sionista e a esforços sérios e genuínos para parar a guerra de extermínio e agressão contra o nosso povo palestino em Gaza e na Cisjordânia, para acabar com a agressão contra o nosso irmão povo libanês, suspender a prestação de apoio militar e cobertura política à entidade sionista e reconhecer os direitos legítimos do nosso povo.
- O Presidente eleito dos EUA é instado a ouvir as vozes que se levantaram dentro da própria sociedade norte-americana durante mais de um ano desde a agressão sionista em Gaza, rejeitando a ocupação e o genocídio e opondo-se ao apoio e preconceito em relação à entidade sionista.
- A nova administração dos EUA deve compreender que o nosso povo palestino continuará a confrontar a abominável ocupação sionista e não aceitará qualquer caminho que prejudique os seus legítimos direitos à liberdade, à independência, à autodeterminação e ao estabelecimento de um Estado palestino independente com Al-Quds como sua capital.
Movimento de Resistência Islâmica – Hamas
Quarta-feira, 04 Jumada al-Awwal 1446 AH
Correspondente a: 06 de novembro de 2024
No Brasil, tanto Lula quanto Bolsonaro reconheceram a vitória de Donald Trump. O presidente brasileiro, por meio de sua conta oficial no X (antigo Twitter), parabenizou o republicano, desejando “sorte e sucesso ao novo governo”.
“Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo”, disse.
Já o ex-presidente Bolsonaro fez uma comemoração mais emocionada, parabenizando o “guerreiro Trump” por sua “vitória épica”:
“Hoje, testemunhamos o ressurgimento de um verdadeiro guerreiro. Um homem que, mesmo após enfrentar um processo eleitoral brutal em 2020 e uma injustificável perseguição judicial, ergueu-se novamente, como poucos na história foram capazes de fazer.
Contra tudo e contra todos, Donald Trump voltará à Presidência da República dos Estados Unidos da América para completar sua missão: restaurar a grandeza de sua nação, proteger os interesses de seu povo e trabalhar por um mundo mais livre e com mais paz e tranquilidade.
Parabéns, meu amigo, por esta vitória épica que marca não apenas seu retorno à Casa Branca, mas também o triunfo da vontade popular sobre os desígnios arrogantes de alguns poucos que desprezam nossos valores, nossas crenças e nossas tradições.
Este triunfo é histórico, um marco que reacende a chama da liberdade, da soberania e da autêntica democracia. Esta vitória encontrará eco em todos os cantos do mundo, impulsionando não apenas os Estados Unidos, mas também o fortalecimento da direita e dos conservadores em muitos outros países.
Que a vitória de Trump inspire o Brasil a seguir o mesmo caminho. Que nossos compatriotas vejam neste exemplo a força para jamais se dobrarem, para erguerem-se com honra, seguindo o exemplo daqueles que nunca se deixam vencer pelas adversidades.
Que nossa nação retome o seu destino de grandeza, para que seu povo volte a se orgulhar de sua história e de seus valores, sem a mácula da censura e do abuso de autoridade, com liberdade e segurança para todos.
Talvez em breve Deus também nos conceda a chance de concluir nossa missão com dignidade e nos devolva tudo o que foi tirado de nós. Talvez tenhamos uma nova oportunidade de restaurar o Brasil como uma terra de liberdade, onde o povo é senhor de seu próprio destino. Até lá, seguiremos firmes, de pé, cada um de nós, pelo sonho de um Brasil forte, livre e fiel aos seus valores mais elevados”, afirmou Bolsonaro por meio de sua conta oficial no X.
Ainda no Brasil, a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, afirmou que “a eleição de Trump é um sinal de alerta para o campo democrático no mundo todo”. “A polarização se mantém como uma realidade e temos de nos preparar para enfrentá-la também aqui no Brasil, onde a extrema direita já se assanha com o resultado”, disse.
Ela também destacou que o resultado demonstra uma falência da “receita neoliberal” diante da população:
“Temos de fortalecer o campo da democracia em nosso país, mas principalmente dar respostas concretas às necessidade e expectativas do povo, que não cabem na receita neoliberal que o mercado quer impor ao governo e ao país”, argumentou a deputada federal.
Os principais golpistas da Venezuela também reconheceram a vitória de Trump. “Felicito o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald J. Trump, por seu triunfo nesta jornada democrática”, disse Edmundo González, cachorro dos Estados Unidos no país sul-americano. Sua comparsa, María Corina Machado, fingiu que González foi eleito, afirmando que “o governo democrático que nós, venezuelanos, elegemos em 28 de julho […] será um aliado confiável para trabalhar com sua administração pelo bem estar de nosso povo”.
Juan Guaidó, que foi, por muitos anos, tido pelo imperialismo como presidente legítimo da Venezuela, também comentou o resultado, afirmando que a vitória do republicano é importante para pressionar o governo Maduro:
“O reconhecimento e o apoio de Trump à causa democrática no continente e especialmente na Venezuela têm sido fundamentais para gerar pressão sobre as ditaduras e opções de mudança em favor da América Latina”, disse Guaidó.