Gaúchos enfrentam uma tragédia que afeta a quase totalidade dos municípios do Rio Grande do Sul, castigados pelas enchentes no estado. Até o fechamento desta edição, os dados atualizados pela Defesa Civil apresentam 95 mortos e outras quatro ainda eram investigadas. Pelo menos 156 mil pessoas encontram-se desabrigados, mais de 360 feridos e há ainda 131 desaparecidos.
A enchente afetou mais de 1 milhão e 408 mil pessoas, inclusive na capital Porto Alegre. Pelo menos 451 mil imóveis estão sem energia elétrica, 649 mil sem água e esgoto. Várias cidades ficaram sem internet e telefonia devido ao alto volume de água, e ainda, seis barragens estão em estado de emergência.
Como algumas escolas estão sendo utilizadas como abrigo e outras foram afetadas pela enchente, o estado tem 273 mil alunos sem aulas.
O Brasil já assistiu várias vezes essa situação, praticamente uma tradição macabra no Sul do País, com a primeira que se tem notícia ocorrida em 1941. Em 1960, nova tragédia é acarretada pelas chuvas e a falta de infraestrutura para lidar com as intempéries climáticas.
A enchente de 1941 acabaria justificando a construção do Muro da Mauá.
Foi erguida no começo dos anos 1970, contendo três metros abaixo e três acima do solo, além de 2.647 metros de comprimento. Foi projetada para “cheias de até 6 metros de água”.
Essa estrutura faz parte do Sistema de Proteção Contra Cheias, que conta com 68 quilômetros de diques, 14 comportas e 19 casas de bombas.
As enchentes no Sul do Brasil não são raras, já aconteceram inúmeras vezes. Informações disponíveis relatam que ocorreram desde o século XIX em outubro de 1873, depois em julho de 1897 quando a histórica ponte Azenha foi destruída.
O fenômeno ocorrido em 1941 foi considerado o pior, que deu margem a construção de sistema de proteção contra as cheias como conhecemos hoje na região. A cheia atual, no entanto, está sendo considerada superior a de 1941.
Depois tivemos as de 1905,1912, 1914, 1926, 1928, 1936, 1941 e 1959, mais recentemente tivemos a de 30 de junho de 2020 ocasionada por um ciclone que atingiu toda a macrorregião RS, PR e SC, deixando 13 mortos e 1,9 milhão de pessoas sem energia elétrica nos três estados. Em setembro de 2023 nova catástrofe com saldo de 359 mil atingidos, 5 mil desabrigados, mais de 21 mil desalojados, 47 mortos e 10 desaparecidos.
Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, as chuvas no Rio Grande do Sul já causaram quase R$1 bilhão em prejuízos.
Essas inúmeras tragédias, principalmente a de 1941, fizeram com que em 9 de julho de 1970 fosse criada a Defesa Civil. Ela tem a função de atuar na “prevenção de desastres” com investimentos.
Ao longo desses anos, porém, a população continuou pagando com a vida e sendo castigada com prejuízos enormes devido às cheias dos inúmeros rios da região.
Se com investimentos como no caso do sistema de comportas, muros de contenção, sistemas de bombas para fazer retornar as águas para fora das cidades, nada ou pouco tem tido eficiência, com as reduções de verbas para investimento pelo estado a coisa fica ainda pior, nem manutenções adequadas estão sendo feitas.
“Era para ele ter funcionado e não ter alagamentos em regiões que estamos vendo, como Quarto Distrito, Centro, Cidade Baixa”, pontua Lucas Tassinari, engenheiro civil e professor da Unisinos em entrevista ao Uol Notícias. “Aquilo vem do retorno de água das casas de bombas e teria que entender o porquê disso”, continua, “também tivemos o problema de as comportas não vedarem completamente a água, como a comporta 14, que rompeu”, informa.
Tudo isso acontece sem que sequer o nível de cheia tenha atingido o teto de 6 metros de água previsto pelo sistema. O nível por enquanto está em cerca de 5,3 metros no rio Guaíba
O prefeito Sebastião Melo (MDB) disse em entrevista coletiva que gastou por volta de 835 milhões no combate às enchentes, mas como mostra a realidade, de nada adiantou esses gastos. Há debates onde foram questionados a existência do Muro da Mauá, sendo cogitado a sua remoção inclusive pelo atual governador do estado, Eduardo Leite. Se com o muro houve tamanho desastre imaginem sem ele.
Tudo isso mostra que o estado nunca esteve preocupado com a população. Constantemente há enchentes, há séculos como se vê, porém os políticos burgueses só fazem obras e gastam dinheiro, sem nunca resolver o problema, não só no Sul, mas em todos os estados do País. O dinheiro do povo vai para a iniciativa privada, para os bancos pelo serviço da dívida, gasto em obras que não resolvem os problemas da população, mas que satisfazem os lucros empresariais, elevados às alturas e em franco contraste contra a fome e a miséria dos trabalhadores.
Há engenheiros e todos os tipos de profissionais, universidades e muito dinheiro como mostram os indicadores econômicos. O País é um dos mais ricos do planeta e o mais desenvolvido entre as nações atrasadas, embora tenhamos os piores indicadores de qualidade de vida, uma das piores distribuições de renda do mundo.
O Jornal da USP apresentou uma matéria onde era entrevistado o professor Pedro Luis Côrtes, do Instituto de Energia e Ambientes, que mostra as causas dessa catástrofe ainda em curso. Côrtes destaca os três motivos que, segundo ele, são os responsáveis pela enchente: frente fria, umidade oceânica e barreira de alta pressão.
Em nenhum momento questiona ou apresenta a questão política, que é a de maior importância. Ela indica o que o estado precisa fazer para evitar o problema que leva milhões de pessoas ao prejuízo da vida e de recursos materiais perda da casa, dos móveis e ficarem desabrigadas.
O País tem técnicos qualificados e dinheiro para fazer as obras necessárias e superar as constantes cheias dos rios, que tanto prejuízo causam, principalmente ao povo trabalhador. Mas a lógica do sistema capitalista é que o importante é o lucro das empresas, deve fazer tudo para garantir isso, sacrificando a vida dos trabalhadores, a toque de caixa, como assistimos atualmente e por mais de 70 anos na Palestina, pela fome, sede, falta de hospitais, de medicamentos e sendo bombardeados dia e noite. Assistimos ao declínio total do sistema capitalista e outro sistema já está sendo gestado.