Na última quarta (16), os trabalhadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) paralisaram as suas atividades, em todas as suas unidades no País, contra a política da direção da empresa de ataque às suas reivindicações salariais.
A categoria, que se encontra em data-base para o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2024-2025, com a paralisação nacional, demonstra a sua total insatisfação com a postura intransigente da direção da empresa que abandonou a mesa de negociação ao ter como negativa a resposta dada pela entidade de luta dos trabalhadores, Sinpaf (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário), da ridícula proposta de reajuste de 2,58%, ou seja, 80% da inflação do período.
Além disso, a direção da Embrapa se recusa a discutir pautas sociais, tais como, proteção a gestantes e lactantes terceirizadas em ambientes insalubres; adicional de escolaridade para técnicos e assistentes; contra a política de assédio moral e sexual dentro da empresa; licença maternidade e paternidade; direitos das gestantes, dentre outras.
Para os representantes da entidade de classe dos trabalhadores, “durante a audiência, o sindicato denunciou a postura intransigente da Embrapa, que abandonou a mesa de negociação coletiva após a Comissão Nacional de Negociação (CNN) do SINPAF rejeitar a primeira proposta da empresa para o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2024-2025. Segundo o presidente do SINPAF, Marcus Vinicius, ‘a empresa tentou assumir o papel do sindicato ao estipular que a condução e avaliação da proposta fossem realizadas segundo suas imposições'”. (Sinpaf, 17/10/2024)
A Embrapa, como empresa pública, presta um serviço de excelência para a população brasileira nos quesitos de desenvolvimento e inovação para o setor agropecuário, e de extrema importância para a agricultura familiar, que leva 70% da comida que chega às mesas dos brasileiros.
A empresa, devido à política neoliberal, vem sendo alvo de ataques sistemáticos nos últimos anos no sentido da sua privatização que tenta colocar os seus serviços à disposição do agronegócio, ou seja, suprimir da Embrapa o seu caráter de empresa pública.
Com o golpe de Estado de 2016, que acarretou nas presidências de Michel Temer e, posteriormente, na eleição de Bolsonaro, a Embrapa passou todo esse período de ataques e sucateamento através da redução do seu orçamento público e na tentativa de se buscar recursos privados, desvirtuando completamente a função pública da empresa, colocando a empresa à disposição de interesses privados e, pior, nas mãos da multinacionais do setor, dentro de uma instituição pública. Além disso, nas gestões anteriores da Embrapa, houve uma perseguição implacável aos seus trabalhadores com a promoção de ações contra o sindicato da categoria e a todos os funcionários que se opunham àquela política de uma gestão neoliberal de privatização escamoteada, com a tentativa de cortar as liberações de dirigentes sindicais; expulsar as seções sindicais de todas as suas dependências, demissões, terceirização, arrocho salarial, corte no auxílio alimentação, tentativa de pôr fim ao plano de saúde, etc.
Mas, como se pode verificar, a atual direção da empresa, cuja a presidência hoje ocupada por Silvia Massruhá, com a sua postura intransigente em relação às reivindicações dos trabalhadores da Embrapa, não se comporta de modo diferente da gestão passada.
Para o presidente do Sinpaf, Marcus Vinicius Sidoruk Vidal, “a paralisação é fruto da intransigência da empresa. Tínhamos a expectativa de que a gestão Silvia Massruhá agiria de forma diferente, mas estamos aqui porque fomos forçados a isso. É um absurdo ter que parar para a empresa negociar, ainda mais com uma diretoria que deveria estar alinhada com o governo do presidente Lula, mas que não age de forma condizente com os princípios desse governo”. (Site CUT/DF, 17/10/2024)
A luta dos trabalhadores da Embrapa não é um caso isolado. Várias categorias dos serviços e empresas públicas estão passando ou passaram pelo mesmo processo, tais como os servidores do INSS, que se encontram a mais de 80 dias em greve, os jornalistas da EBC que correm o risco de terem seus salários rebaixados, os funcionários do IBGE, Serpro, Correios, Servidores Públicos Federais e da Educação, dentre outras em que o governo Lula vem enfrentando greves e a atuação das direções da empresas estatais e ministros de Estado tem deixado a desejar na condução das negociações com essas categorias.
Ao não atender as reivindicações dos trabalhadores com a alegação de que o Estado não tem dinheiro para arcar com o reajuste salarial, verifica-se que não tem nenhuma base concreta e, nesse sentido, qual a diferença entre o governo petista e qualquer outro governo burguês?
Quanto o governo gasta com o pagamento da tal dívida pública com os banqueiros? Quanto é a arrecadação dos bancos e quanto estes pagam de impostos? Quanto pagam de impostos os reacionários latifundiários donos do Agronegócio? Quanto se gasta com os supersalários dos juízes que atacam sistematicamente os trabalhadores e a população em geral? Quanto se gasta com os supersalários dos deputados e senadores? Estas são apenas algumas das inúmeras perguntas que qualquer trabalhador faria ao governo federal.