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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

Tempestade sobre a Ásia, de Pudovkin

Uma obra-prima de 1928 e uma excelente referência contra o imperialismo

Uma obra-prima de 1928 e uma excelente referência contra o imperialismo, Tempestade sobre a Ásia é um filme russo, dos tempos do cinema mudo, dirigido pelo cineasta Vsevolod Pudovkin (1893-1953).

Recentemente, escrevi um texto sobre a luta da classe operária argelina contra os colonizadores franceses representada no filme A Batalha de Argel. Agora, com esse de Pudovkin podemos adicionar mais um grande filme que tem como tema a luta anti-imperialista.

O enredo se passa nos anos da Revolução Russa. Cenas de guerrilheiros e milícias revolucionárias são essenciais para o desenrolar da trama. O cenário é a Mongólia, que o cineasta retrata quase que de maneira documental.

Na história, a vida dura dos habitantes nômades que vivem nas áreas desertas e isoladas do país. Eles vivem da caça de animais e da venda de peles em um mercado explorado por europeus, provavelmente ingleses, que pagam uma miséria pelo trabalho.

O herói é um jovem mongol que decide vender no mercado uma linda e rara pele de raposa, caçada por seu pai doente. Lá é roubado pelos estrangeiros, que lhe oferecem quase nada pelo precioso objeto.

A partir desse episódio, acompanhamos a história do jovem durante muitos anos. Desde sua fuga, após ferir um atravessador, até se tornar consciente de sua luta contra os colonizadores, que o tratam como animal.

O enredo é perfeito, os atores são ótimos e todas as artimanhas imperialistas estão ali representadas.

Em um dado momento, por exemplo, há uma tentativa explícita de manipular a opinião pública pela criação artificial de um governante que é vendido como um descendente direto do herói e conquistador Gengis Khan.

No fim, os agentes estrangeiros são apresentados pelo que verdadeiramente são: um bando de ladrões mentirosos e violentos.

Obviamente, fica impossível não ver semelhanças entre a luta anti-imperialista dos dias de hoje e aquela representada no filme.

A pergunta que fica é: como um filme de quase 100 anos consegue ser tão atual? O que temos em comum é o capitalismo que, naquele momento era apenas um sistema parasita, feito por e para parasitas.

Em 1928, o mundo já havia passado pela I Guerra Mundial e estava a caminho da próxima.

Então, não é difícil perceber que, apesar de contextos históricos e geográficos tão distintos, as lutas pareçam ser as mesmas.

Ainda repetimos muito as mesmas desgraças. A tristeza é saber que a lucidez do filme de 1928 não chegou a 2024.

Sobra muito identitarismo nos filmes atuais. Falta pensamento materialista e histórico sobre a realidade. Falta vanguarda.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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