Desde 7 de outubro de 2023, data do Dilúvio de al-Aqsa, operação militar liderada pelo Hamas, e realizada por várias organizações da resistência, o Estado de “Israel” vem impulsionando os colonos sionistas, mais do que no período anterior, a roubarem as terras dos palestinos, especialmente na Cisjordânia.
Essa invasão e o roubo das terras palestinas pelos sionistas ocorre há mais de um século, pelo menos desde o final da Primeira Grande Guerra, quando o imperialismo britânico declarou, através da Declaração de Balfour, seus planos de impulsionar o sionismo para dominar a Palestina. O que foi feito no decorrer das três décadas que se seguiram, culminando na expulsão de quase 1 milhão de palestinos de suas terras e na fundação de “Israel”, em 1948.
Assim, neste dia 11 de abril, data em que se completam 115 anos da fundação de Telavive, capital do Estado de “Israel”, não deve ser esquecido que o Estado sionista é artificial, pois foi fundado graças ao apoio do imperialismo e sobre a expulsão da população árabe que lá vivia.
A importância de se contar a história de Telavive reside no fato de que, atualmente, a cidade incorpora Jafa, histórica cidade palestina, que foi tomada de assalto pelas tropas fascistas do sionismo durante a Nakba (1948), e que foi incorporada à capital sionista.
Telavive, em si, foi fundada no ano de 1909. Contudo, os precedentes de sua fundação data aos anos da Primeira Aliá, isto é, a primeira grande migração de judeus para a Palestina, impulsionada pelo sionismo. Ocorreu entre os anos de 1881 e 1903, e, já nessa época, a migração e o assentamento foi financiada por elementos da burguesia de países imperialistas, tais como o Barão Edmond James de Rothschild, francês membro da Família Rothschild, uma rica família de banqueiros judeus asquenazes, membros da nobreza européia.
Foi nessa época que assentamentos sionistas se firmaram no entorno de Jafa, cidade portuária na costa do Mar Mediterrâneo. Uma cidade milenar, Jafa foi uma cidade de grande importância política e econômica para a região, tendo sido o local de grandes batalhas quando das cruzadas, tais como a Batalha de Jaffa, a batalha final da Terceira Cruzada, que resultou no Tratado de Jafa, entre Saladino e Ricardo Coração de Leão. Igualmente, é conhecida pelo Tratado de Jafa de 1229, que marcou o fim da sexta cruzada. Já no século XVIII, as tropas napoleônicas cercaram a cidade portuária, quando da Campanha Francesa no Egito e na Síria, ocorrida durante a Guerra da Segunda Coalizão, uma guerra de diversas monarquias contra a Revolução Francesa.
Apesar de os assentamentos sionistas no entorno de Jafa terem sido formados já na década de 1880, foi durante a Segunda Aliá, que ocorreu entre os anos de 1904 e 1914, que Telavive foi fundada. O ano era 1909, conforme já informado no início desta matéria. E, apesar de o imperialismo britânico ainda não ter declarado formalmente seu apoio ao sionismo para a criação de um Estado judeu na Palestina, a Segunda Aliá recebeu ainda mais financiamento imperialista do que a primeira. E, assim como na primeira, a maior parte dos judeus que migraram eram sionistas vindos da Europa.
Com a migração sionista para a Palestina, com a intenção de, sobre a região, estabelecer um Estado judeu, contra os interesses da população árabe local, era inevitável que conflitos irrompessem, especialmente depois que o Império Britânico passou a impulsionar o sionismo.
Assim, em 1921, houve a primeira grande batalha entre palestinos e sionistas em Jafa e onde é hoje Telavive. Deu-se entre 1º e 7 de maio daquele ano, quando o Partido Comunista Judeu, precursor do Partido Comunista da Palestina, organizou uma marcha de Jafa até Telavive, em comemoração ao Dia do Trabalho. Na convocação, distribuiu panfletos em Árabe, Hebraico e Iídiche, conclamando a população da Palestina a lutar contra o domínio britânico e estabelecer um Estado Operário de tipo soviético. Ocorre que, em Telavive, outra marcha também havia sido organizada para o mesmo dia. Pelo partido Ahdut HaAvoda, ou Unidade Trabalhista, partido do sionismo “de esquerda”, liderado por ninguém menos que David Ben-Gurion. Isto é, um partido serviçal do imperialismo britânico, um dos predecessores do Mapai e do atual Partido Trabalhista de “Israel”.
Não é coincidência que Winston Churchill considerava o sionismo como um polo para atrair os judeus para longe do marxismo. Especificamente, ele considerava o bolchevismo como “terrorismo judeu”, e o sionismo como a solução contra esse terrorismo:
“Judeus terroristas
Não é necessário exagerar o papel desempenhado na criação do bolchevismo e na efetivação da Revolução Russa por esses judeus internacionais e em sua maioria ateus. Certamente é um papel muito grande; provavelmente supera todos os outros. Com a notável exceção de Lenin, a maioria das figuras principais são judeus. Além disso, a principal inspiração e força motriz vêm dos líderes judeus. Assim, Tchitcherin, um russo puro, é ofuscado por seu subordinado nominal Litvinoff, e a influência de russos como Bukharin ou Lunacharski não pode ser comparada com o poder de Trotsky, ou de Zinovieff, o ditador da Cidadela Vermelha (Petrogrado), ou de Krassin ou Radek — todos judeus. Nas instituições soviéticas, a predominância de judeus é ainda mais surpreendente.
[…]
O fato de que, em muitos casos, os interesses judaicos e os locais de culto judaicos são exceções à hostilidade universal dos bolcheviques tem levado cada vez mais a associar a raça judaica na Rússia com as vilanias que estão sendo perpetradas. Isso é uma injustiça contra milhões de pessoas indefesas, a maioria das quais também sofre com o regime revolucionário. Torna-se, portanto, especialmente importante fomentar e desenvolver qualquer movimento judaico fortemente marcado que se afaste diretamente dessas associações fatais. E é aqui que o sionismo tem uma significância profunda para o mundo inteiro no presente momento.
[…]
O sionismo oferece à concepção política da raça judaica a terceira esfera. Em violento contraste com o comunismo internacional, ele apresenta ao judeu uma ideia nacional de caráter comandante. Coube ao governo britânico, como resultado da conquista da Palestina, a oportunidade e a responsabilidade de garantir à raça judaica em todo o mundo um lar e um centro de vida nacional. O estadismo e o senso histórico do Sr. Balfour foram rápidos em aproveitar essa oportunidade.”
A batalha de 1921 resultou em quase 100 mortos, 48 árabes e 47 judeus. O número total de feridos ultrapassou 200, sendo 73 árabes e 146 judeus.
Esta foi apenas uma de várias lutas entre palestinos e sionistas quando do Mandato Britânico sobre a Palestina, que durou de 1920 a 1948. Jafa também foi o local de grandes batalhas e mobilizações de massas durante a Revolução Palestina de 1936-39. Em resposta à repressão desencadeada pelo aparato de repressão do Império Britânico, em apoio aos sionistas, uma greve geral foi realizada a partir do Porto de Jaffa já em 1936, no mês de abril, começo da Revolução, espalhando-se rapidamente pela região. Novamente uma demonstração da importância do controle da cidade portuária, no que tange o controle sobre a Palestina.
Conforme já exposto em matéria publicada neste Diário, para conter a Revolução, os ingleses recorreram a centenas de milhares de tropas do exército imperial, além das tropas fascistas da Haganá e do Irgun, milícias fascistas do sionismo. Exerceu, com isto, uma repressão de tipo fascista, desmantelando praticamente todas as organizações de resistência do povo palestino, pavimentando o caminho para a limpeza étnica que seria realizada nos anos de 1947 a 1949. Por exemplo, para conter a revolta em Jafa, logo em maio de 1936 as autoridades britânicas suspenderam os serviços municipais que prestavam, e estabeleceram barricadas cercando a cidade. No mês de junho, engenheiros militares do Exército imperial utilizaram-se de explosivos para demolir cerca de 240 casas de palestinos, resultando na expulsão de cerca de 6 mil árabes.
Já 1947 foi o ano do criminoso Plano de Partição da Palestina, da Organização das Nações Unidas. Um plano que serviu à tática de aproximações sucessivas da ala principal dos sionistas, liderada por Ben Gurion, e que acabou resultando na limpeza étnica da Palestina e na fundação de “Israel”.
Inicialmente, conforme o Plano de Partição, Jafa deveria fazer parte do Estado Árabe. Contudo, como o objetivo dos sionistas sempre foi estabelecer o Estado judeu sobre toda a Palestina, o Plano de Partição nada era além de um ponto de apoio para avançar nesse objetivo. Assim, Ben Gurion e Consultoria, o aparato estatal sionista anterior a “Israel”, não aceitaram, e decidiram que Jafa deveria ser território deles.
Ilan Pappé, historiador judeu israelense, relata em detalhes como se deu a ruína de Jafa, em sua obra A Limpeza Étnica da Palestina. Segundo o autor, “Jafa foi a última cidade a ser tomada, em 13 de maio, dois dias antes do fim do Mandato [Britânico]”.
Mostrando que as milícias fascistas do sionismo estavam coordenadas para expulsar os palestinos de suas terras, apesar de quaisquer diferenças políticas e ideológicas que podia haver entre elas, Pappé informa que, “em 13 de maio, 5.000 tropas do Irgun e da Haganá atacaram a cidade”. Ao mesmo tempo, destaca que houve resistência por parte dos palestinos, apesar da repressão fascista do imperialismo nos anos anteriores ter praticamente acabado com a capacidade de resistência:
“Voluntários árabes liderados por Michael al-Issa, um cristão local, tentaram defendê-la. Entre eles estava uma unidade extraordinária de cinquenta muçulmanos da Bósnia, bem como membros da segunda geração dos Templários, colonos alemães que haviam chegado meados do século XIX como missionários religiosos e agora decidiram tentar defender suas colônias (outros Templários na Galileia se renderam sem lutar e foram rapidamente expulsos de suas duas belas colônias, Waldheim e Beit Lehem, a oeste de Nazaré)”.
Contudo, conforme aponta o autor, a disparidade de forças era grande. Enquanto os sionistas contavam com 5.000 soldados, a resistência palestina possuía apenas 1.500 combatentes. Conseguiram resistir durante três semanas, mas, ao fim, Jaffa foi tomada. E 50 mil palestinos foram expulsos de suas casas. Segundo Pappé, havia “mediadores” britânicos para organizar o deslocamento dos palestinos. Mais uma comprovação do papel do imperialismo britânico na consolidação do Estado nazista de “Israel”. O autor ainda acrescenta que a violência contra os palestinos não acabou com a ação militar que resultou na queda de Jafa:
“As pessoas foram literalmente empurradas para o mar quando as multidões tentavam embarcar nos barcos de pesca muito pequenos que as levariam a Gaza, enquanto as tropas judaicas disparavam sobre suas cabeças para acelerar sua expulsão.”
Assim, com a queda de Jafa, as forças judaicas de ocupação haviam esvaziado e despovoado todas as principais cidades da Palestina, informa Pappé.
Jaffa, então, foi absorvida por Telavive, que é hoje a capital de “Israel”, estando localizada na parte sul da cidade. Segundo o autor citado, a “área da Grande Jafa compreendia 24 aldeias e 17 mesquitas; hoje, apenas uma mesquita sobrevive, e nenhuma das aldeias está de pé”.