O engenheiro militar Hassan Tehrani Moghaddam foi uma figura fundamental na história recente do Irã, considerado um herói nacional e reconhecido como o “pai” do atualmente sofisticado programa de mísseis balísticos iraniano, um desafio hercúleo considerando-se o bloqueio imposto pelo imperialismo ao povo iraniano. Nascido em Teerã em 1959, Moghaddam se destacou desde cedo como um defensor da Revolução Islâmica de 1979, unindo-se à Guarda Revolucionária Islâmica para proteger a soberania iraniana.
Durante a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), ficou evidente a vulnerabilidade do país frente ao arsenal bélico do regime iraquiano, que recebia apoio de potências estrangeiras. Nesse período crítico, o exército de Saddam Hussein fazia uso de mísseis Scud-B fornecidos pela União Soviética, enquanto o Irã, ainda sem um sistema de defesa avançado, enfrentava dificuldades em responder com a mesma força.
Observando a necessidade urgente de fortalecer o Irã no campo da defesa, Moghaddam propôs e iniciou o desenvolvimento de um programa de mísseis próprio baseado em mísseis norte-coreanos, adaptando e melhorando o modelo para atender às necessidades defensivas do Irã. Para isso, negociou acordos com a Coreia do Norte, que forneceu ao Irã o conhecimento inicial para a construção de mísseis, e sua visão estratégica o levou a investir na pesquisa e desenvolvimento local, criando as bases para uma indústria autossuficiente.
Em 1984, Moghaddam liderou o lançamento do primeiro míssil iraniano de médio alcance, marcando o início da longa trajetória que levaria o Irã à autossuficiência no campo militar. Nesse período, o objetivo era desenvolver mísseis com alcance e precisão que pudessem dissuadir qualquer agressor externo.
A primeira geração de mísseis Shahab, baseada no norte-coreano No-Dong, foi adaptada e aperfeiçoada com a adição de tecnologia de guiagem, o que ampliou sua precisão. Esse primeiro Shahab, com alcance de até 1.300 km, já representava uma conquista para o Irã, mas Moghaddam sabia que o país precisava de mais: mísseis que pudessem cobrir distâncias maiores e não depender de longo tempo de preparação, o que levou ao desenvolvimento do combustível sólido e de novas versões dos Shahab, culminando no Shahab-3.
Ao longo de três décadas de trabalho, o Irã se transformou em um dos países mais avançados no setor no mundo, capaz de produzir sistemas tão sofisticados quanto os mísseis Shahab e Sejjil, com alcance de impressionantes 2.000 km, superando, por exemplo, os 1.895,6 km que separam Teerã (a capital iraniana), de Telavive, a capital de “Israel”. O míssil Sejjil, em especial, representou um avanço significativo: ao utilizar combustível sólido, permitia tempos de preparação e lançamento menores, tornando-se uma arma estratégica para a rápida defesa iraniana. O Sejjil também marcou a entrada do Irã no grupo restrito de países que dominam a tecnologia de mísseis de combustível sólido, feito que demanda um considerável nível de sofisticação científica e técnica.
Além dos mísseis balísticos de longo alcance, Moghaddam promoveu inovações em sistemas de curto e médio alcance, como o Fateh-110, destinado à dissuasão em conflitos regionais. Esses mísseis, com precisão considerável e menor tempo de preparo, permitem que o Irã responda a ataques com uma defesa altamente reativa.
Essa capacidade fez do arsenal de mísseis iraniano um elemento central na estratégia de defesa do país, visto que esses armamentos garantem a capacidade de responder a qualquer tentativa de invasão ou ataque aéreo. Para Moghaddam, mais do que uma questão militar, o desenvolvimento de mísseis era um projeto de soberania: a soberania tecnológica do Irã, segundo ele, era a única garantia real de segurança para o país.
Em novembro de 2011, o engenheiro morreu em uma explosão durante um teste militar em uma base próxima a Teerã. A tragédia, que tirou a vida de dezenas de outros cientistas e oficiais, é cercada de mistério.
Embora o governo iraniano tenha atribuído a explosão a um acidente durante o manuseio de propelentes, especula-se que a explosão possa ter sido resultado de uma sabotagem coordenada por agências de inteligência estrangeiras, possivelmente de “Israel” ou dos EUA, com o objetivo de atrasar o desenvolvimento dos programas militares do Irã.
Desde então, é lembrado como o “pai do programa de mísseis do Irã” e seu martírio é homenageado em cerimônias que ressaltam o orgulho nacional iraniano. A morte de Moghaddam, considerada uma grande perda para o programa de defesa do Irã, não interrompeu o legado que ele construiu.
O impacto de Moghaddam sobre o programa de mísseis foi tão profundo que o Irã passou de nação assolada pela devastadora guerra Irã x Iraque, para se tornar a principal força militar e econômica do Oriente Médio. Mesmo com sanções econômicas e embargos armamentistas, o país conseguiu superar as barreiras impostas pela ditadura mundial e alcançar uma posição de protagonismo na região.