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Banco Central

‘Taxa de juros alta serve para encher os bolsos dos banqueiros’

Ao Diário Causa Operária (DCO), José Álvaro, economista do DIEESE, afirmou que não há justificativa econômica para manter a taxa de juros nesse patamar

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, em sua última reunião nessa quinta-feira (19), manter a taxa de juros em 10,5% ao ano, interrompendo, assim, a série de cortes que vinha realizando. O Copom justifica a decisão, que foi unânime, afirmando que ela visa assegurar a estabilidade econômica e evitar pressões inflacionárias adicionais.

“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, destacou comunicado do Copom.

A interrupção dos cortes na taxa de juros gerou reações imediatas por parte do “mercado”, ou seja, da burguesia atrelada ao capital financeiro: no dia seguinte ao anúncio, o dólar apresentou uma forte queda.

Um dia após o anúncio do Copom, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou sua insatisfação com a decisão do Banco Central de manutenção da taxa de juros. Em declarações à imprensa, Lula criticou a “autonomia” do Banco Central, argumentando que a decisão prejudica o crescimento econômico e dificulta a vida da população.

“Foi uma pena que o Copom manteve, porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro, porque quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro, e isso tem que ser tratado como gasto”, disse Lula.

Ele também afirmou que a “autonomia” do Banco Central deveria ser revista, pois o controle da política monetária deveria estar alinhado com as necessidades econômicas e sociais do País.

“O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom ou do Banco Central. O [ex-presidente do BC Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje. Só que o Meirelles eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos”, disse em entrevista à rádio Verdinha, de Fortaleza (CE).

Durante a entrevista, o presidente brasileiro teceu duras críticas ao mercado financeiro, denunciando a decisão do Banco Central como um ditame destes setores:

“A decisão do Banco Central foi investir no sistema financeiro, nos especuladores que ganham dinheiro com os juros. E nós queremos investir na produção […] Quanto mais a gente pagar de juros, menos temos dinheiro para investir aqui dentro. Não vejo mercado falar dos moradores de rua, catador de papel, desempregado. Eu não vejo o mercado falar das pessoas que necessitam do Estado”, afirmou o presidente.

Ele também denunciou o tamanho do rombo deixado por uma taxa de juros estratosférica como 10,5%:

“Resolveram entender que era importante alguém que tivesse autonomia. Autonomia de quem? Autonomia de quem para servir? Autonomia para atender [a] quem? Eu estava numa reunião discutindo que nós temos a possibilidade de ter um déficit de R$ 30 bilhões, R$ 40 bilhões. Aí eu fico olhando do outro lado da folha que me apresenta, só de juros no ano passado foi de R$ 790 bilhões que a gente pagou. Só de desoneração foram R$ 536 bilhões que a gente deixou de receber”, disse.

Em reação às contundentes declarações de Lula, o “mercado”, mais uma vez, utilizou o dólar para demonstrar seu apoio à decisão do Banco Central. Após o presidente brasileiro denunciar a subserviência de Campos Neto em relação aos banqueiros, o dólar fechou o dia em R$5,460, seu maior valor em todo o atual mandato de Lula.

Outras figuras da esquerda também denunciaram a decisão do Banco Central. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou, por meio de sua conta no X (antigo Twitter), que o “mercado” está “usando a política monetária para pressionar por corte de gastos”.

Em outra publicação, sob a legenda “foi uma pena que o Copom manteve, porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro, porque quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro, e isso tem que ser tratado como gasto”, ele disse que “Campos Neto tem o intuito claro de sabotar o governo Lula, de travar o crescimento da economia”.

Gleisi Hoffmann, presidente do PT e deputada federal, também criticou a decisão do Copom, publicando o seguinte em suas redes sociais:

“Não há justificativa técnica, econômica e muito menos moral para manter a taxa básica de juros em 10,5%, quando nem as mais exageradas especulações colocam em risco a banda da meta de inflação. E não será fazendo o jogo do mercado e dos especuladores que a direção do BC vai conquistar credibilidade, nem hoje nem nunca.”

Empresários e representantes do setor produtivo também manifestaram preocupação com o impacto da decisão sobre o custo do crédito e o investimento. “Com juros altos, fica mais difícil para as empresas investirem e crescerem. Isso acaba afetando toda a economia”, afirmou um representante da indústria à imprensa burguesa.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também se colocou contra a decisão. Por meio de uma nota oficial, a entidade afirmou que a medida é “inadequada e excessivamente conservadora”:

“A manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Ao Diário Causa Operária (DCO), José Álvaro, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), afirmou que não há justificativa econômica para manter a taxa de juros nesse patamar, dado o atual cenário inflacionário do Brasil. “A inflação brasileira está em torno de 3,5%, mais ou menos, dependendo do indicador”, explicou. Segundo ele, ao descontar a inflação da taxa nominal de juros, temos uma taxa real de cerca de 8%, que é a segunda mais alta do mundo, atrás apenas do México.

Para o economista, a manutenção da taxa de juros elevada é uma medida desproporcional, considerando que a inflação no Brasil é relativamente baixa. “Pelos padrões brasileiros, a inflação está muito baixa”, comentou José Álvaro, destacando que a situação no Brasil não se compara com a da Argentina, que enfrenta uma inflação anual de 280%.

Ele também criticou a justificativa de que juros altos seriam necessários para controlar a demanda. “Não temos inflação de demanda. Uma parcela expressiva da população brasileira passa fome, e mais de um quarto da população recebe Bolsa Família”, disse. Essa realidade, segundo ele, demonstra que não há excesso de consumo ou pressão sobre a oferta de bens e serviços que justificaria a manutenção de juros altos.

“Essa inflação pequena de cerca de 3,5%, 4%, dependendo do indicador, não é causada pela demanda ou predominantemente pela demanda, porque juros elevados só funcionam quando há uma pressão de demanda, ou seja, quando tem muita gente consumindo, salários em alta, aí desequilibra oferta e procura. [Quando] Há muita procura em relação à oferta de bens e serviços e, assim, a saída para isso é uma elevação de preços”, disse.

José Álvaro não poupou críticas ao impacto dos juros altos sobre a economia e a sociedade. Ele destacou que “o Brasil pagou, nos últimos doze meses, cerca de oitocentos bilhões de reais de juros da dívida para um grupo minoritário de especuladores, rentistas nacionais e internacionais”. Para ele, manter a taxa Selic elevada é um esquema para beneficiar banqueiros e especuladores financeiros, sem fundamento técnico que o justifique.

Além disso, o economista do DIEESE ressaltou o alto custo de vida no Brasil, independentemente da variação dos preços. “O DIEESE calcula que o salário mínimo necessário para uma família de quatro pessoas deveria ser de quase sete mil reais. Isso revela que, mesmo com uma variação pequena de preços, o custo de vida é muito alto em relação aos salários”, explicou José Álvaro.

Ele também expressou sua preocupação com a unanimidade da decisão do Copom, questionando se houve algum acordo econômico para essa decisão. “O fato de que a decisão tenha sido unânime é mais preocupante porque revela que o diagnóstico do Copom sobre o problema inflacionário brasileiro é único e, na minha opinião, equivocado”, afirmou.

Álvaro também ressaltou que “cada ponto percentual de juros reais significa vários bilhões de dispêndio com juros da dívida pública”:

“Uma taxa de juros lá em cima é um esquema para encher os bolsos dos banqueiros. Não existe fundamento técnico que justifique isso. O Brasil está com a economia relativamente equilibrada, vem crescendo, a taxa de desemprego vem reduzindo. Não há nenhuma razão que justifique os juros nessa magnitude.”

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