A julgar pela coluna “Marta Suplicy não é um Alckmin de saia”, escrita por Marcos Augusto Gonçalves, editor da Folha de S. Paulo, a burguesia, ou, ao menos, um setor dela, parece ter gostado da escatológica manobra que trouxe Marta Suplicy de volta ao PT para ser vice de Guilherme Boulos (PSOL).
A coluna é uma defesa desavergonhada de Marta Suplicy. Traz até certo constrangimento que o colunista não fique corado de falar qualquer coisa para “passar um pano” para Marta, como se diz popularmente.
“Acontece que o desentendimento de Marta foi provocado em grande parte pela vontade dela de que Lula substituísse Dilma na corrida eleitoral, escolha que, com o correr do tempo, talvez tenha passado a fazer mais sentido. O ‘se’ em história é um exercício muito duvidoso, mas sempre é possível especular se o líder do partido, caso eleito, teria feito melhor para conter a crise que acabou por expelir a presidente petista.”
Ou seja, Marta amava tanto Lula que decidiu virar uma golpista que apoiou abertamente o golpe, foi para o MDB, partido que se beneficiou diretamente com o golpe. Esse mesmo golpe cujo processo culminou na prisão de seu “amado Lula”.
Marta era senadora e votou pelo golpe contra Dilma Rousseff, isso ninguém pode esquecer. Mas convidamos o leitor a um exercício de memória: teria Marta denunciado a prisão de Lula, de seu amado Lula? Também não.
O colunista da Folha tenta inventar um suposto princípio político para justificar a traição de Marta.
Mesmo se fosse real a ideia estapafúrdia de que Marta amava tanto Lula que traiu o PT inteiro e o próprio Lula, fato é que sua atitude é de um ser rastejante, deplorável. O mesmo oportunismo que fez Marta apoiar o golpe, sair do PT e ir para o MDB, age agora no retorno de Marta ao PT.
Está montada a chapa do oportunismo!
O povo assiste bestificado à demonstração mais rasteira de oportunismo e fisiologismo dada pela direção do PT envolvida na manobra Boulos-Marta.
Não há justificativa normal para isso que está acontecendo a não ser que os envolvidos parassem e dissessem: “sim, somos oportunistas e gostamos muito da possibilidade de ganhar um cargo.”
O colunista da Folha tenta reduzir tudo a um ressentimento de Marta, como se isso fosse justificativa para sacanagem. Mas mesmo supondo que houvesse algum ressentimento, o máximo que poderia acontecer e seria normal era Marta ter saído do PT. Mas não foi isso que ela fez: ela apoiou o golpe de Estado contra o PT e contra o povo.
Nenhum ressentimento pessoal pode explicar uma política que é uma verdadeira devastação. Marta fez isso porque é uma pessoa corrompida, simples assim. O golpe foi uma operação que envolveu toda a burguesia e seus políticos, uma grande armação em que todos os envolvidos sabiam exatamente do que se tratava.
Não é um debate de ideias. É pura corrupção política.
A Folha defende esse esquema podre porque tem interesses na candidatura anti-PT e anti-esquerda de Boulos. Sim, o PT está ajudando a montar uma chapa anti-PT e a entrada da golpista Marta é o encaixe perfeito para isso.
Guilherme Boulos há muito tempo é o queridinho da Folha. Na última eleição municipal, ele foi eleito pela burguesia o candidato da esquerda. A imprensa golpista tanto fez sua campanha pró-Boulos que conseguiu deixar o PT sem candidato na eleição desse ano, na principal cidade da América Latina e berço do próprio PT.
A imprensa golpista não gosta do PT, foi ela o principal instrumento de propaganda que derrubou Dilma e perdeu Lula. Essa mesma imprensa também não gosta da esquerda. A única exceção parece ser Boulos, um querido e amável “radical”, agora com uma vice perfeita.
O PT está abrindo sua própria cova. A falta de escrúpulos políticos vai levar o partido à ruína. É uma desmoralização completa da luta contra o golpe e uma anistia completa contra os golpistas. Aquela palavra de ordem – “sem anistia” – parece que só serve mesmo para fazer propaganda contra Bolsonaro. Na prática, a anistia aos golpistas, por parte do PT, já é ampla, geral e irrestrita.