Está em curso neste exato momento uma mudança de qualidade na situação política internacional que se reflete de forma mais nítida na situação doméstica na França.
Após uma vitória esmagadora da extrema direita francesa nas eleições para o parlamento europeu (e que se repercutiu de maneira um pouco menos intensificada em praticamente todos os países do conjunto do bloco político regional), o primeiro turno das eleições parlamentares na França ficou marcado por uma vitória avassaladora da extrema direita.
A manobra do presidente Emmanuel Macron de dissolver o parlamento e convocar eleições de maneira antecipada se comprovou não apenas como uma movimentação arriscada, mas algo desesperado para tentar de forma milagrosa e se desse certo de maneira paliativa, com o advento da ascensão da extrema direita.
Pois bem, além de arriscada e desesperada, a manobra comprovou-se um verdadeiro fracasso. A participação no pleito foi de 65% do eleitorado francês, frente aos 47,5% em 2022. Isso demonstra o tamanho do descontentamento da população com a atual situação política do país, que saiu para votar contra os atuais mandatários.
Neste primeiro turno, a coligação chefiada pelo partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional, coordenado por Marine Le Pen, chegou a 33,15% dos votos frente aos 19,2% em 2022. A Nova Frente Popular, coligação da esquerda, ficou com 28,14%, e em 2022 havia ficado com 26,1%. Já a coligação coordenada pelo partido do presidente Macron, o Renascimento, ficou com 20,76% e no pleito passado tinha conseguido 25,6%.
A esquerda alavancou seus votos ao se desvencilhar parcialmente dos neoliberais macronistas. Porém, a tendência é que a esquerda e os neoliberais macronistas tentem manobrar com o chamado cordão sanitário em uma tentativa desesperada de isolamento da extrema direta.
A tendência política aponta para uma possível vitória da extrema direita num segundo turno, abrindo o precedente para que esta indique o primeiro-ministro e forme o governo, o que levará a um engessamento de Macron no que toca a política interna.
A esquerda com esse processo de se acoplar aos neoliberais entrará em rota de colisão com os interesses populares demonstrados nas urnas e não conseguirá de maneira efetiva desagregar setores populares que se agrupam na extrema-direita pela falta de alternativa de uma força política que se demonstre verdadeiramente anti-sistema.
Essa situação levará não somente a um aprofundamento da impopularidade dos macronistas, mas fundamentalmente a uma falência da esquerda. Se a esquerda quiser ser uma verdadeira alternativa para a população, precisa compreender os interesses materiais dessa última, que dia após dia fica mais evidente que está vinculado completamente a uma oposição ao regime político francês.