Na Argentina, dois jovens foram agredidos no Bar Blanca, na capital Buenos Aires, por portarem uma bandeira palestina e o lenço típico kufiya. O incidente ocorreu dias atrás, quando voltavam de uma manifestação em defesa da Palestina realizada em frente à embaixada dos Estados Unidos.
Os agressores, liderados por uma mulher, exigiam aos gritos que os jovens deixassem o bar, lançando objetos contra eles. Um dos jovens, de ascendência palestina, manteve-se firme, e ambos recusaram-se a abandonar o local, contrariando a vontade dos agressores.
Em resposta à agressão, um grupo de militantes da organização Judies x Palestina, que apoia a causa palestina, realizou uma manifestação pacífica em frente ao bar no sábado seguinte. Os participantes empunhavam bandeiras palestinas e usavam o kufiya como símbolo de resistência.
A organização Judies x Palestina publicou um comunicado em suas redes sociais, declarando:
“Não vamos aceitar atos de discriminação e violência contra o povo palestino e seus símbolos, muito menos se realizados em nome do judaísmo.”
No texto, a organização detalhou os eventos ocorridos, destacando que seus integrantes haviam participado, na sexta-feira anterior, de um ato em frente à embaixada norte-americana para exigir o fim do financiamento e do envio de armas dos EUA a “Israel”. Sobre a agressão no bar, acrescentaram:
“Nossos companheiros não se retiraram nem responderam às provocações de indivíduos de ideologia sionista, que gritaram, atiraram objetos e ameaçaram chamar a polícia. Posteriormente, tentaram ridicularizá-los nas redes sociais, mas o repúdio à violência foi total.”
O gerente do Bar Blanca, em vez de conter os abusos, uniu-se aos agressores, publicando nas redes sociais que a bandeira palestina seria “antissemita”. Essa postura gerou ainda mais indignação entre os manifestantes e apoiadores da causa palestina.
Judies x Palestina reforçou em sua manifestação:
“Estaremos presentes em qualquer lugar onde ocorra uma agressão sionista para dizer, incansavelmente, que sionismo não é judaísmo. Nosso povo não atravessou séculos de perseguição e o Holocausto para se tornar cúmplice de opressão, roubo de terras e genocídio contra o povo palestino.”
No encerramento do protesto, enquanto os manifestantes se retiravam do local, um homem identificado como simpatizante do sionismo, com discurso racista e ofensivo, abordou-os. Ele gritava agressivamente, acusando os jovens de “assassinos” e insultando tanto a bandeira palestina quanto a causa que representavam. Apesar disso, os jovens permaneceram firmes e contaram com o apoio de uma moradora local, que reafirmou que eles tinham o direito de estar no bairro.
Segundo uma matéria publicada pelo portal Resumen Latinoamericano, o caso reflete a situação da Argentina, onde vive a maior comunidade judaica da América Latina, com cerca de 200 mil pessoas. O texto denuncia que o atual governo, descrito como “fascista, sionista e xenófobo”, abre espaço para grupos que consideram bairros, cidades e até o País como propriedade exclusiva, atacando aqueles que divergem de suas ideias.
O uso do antissemitismo como pretexto para justificar ataques sionistas foi amplamente criticado:
“A bandeira do antissemitismo é uma farsa total. Trata-se de um escudo para encobrir o racismo e a supremacia que sustentam ataques contra quem defende a Palestina e os direitos de seu povo à autodeterminação, à constituição de um Estado e à liberdade de viver sem a opressão do regime colonizador de ‘Israel’.”
O discurso violento contra os manifestantes no Bar Blanca ilustra esse padrão. Comentários como “sou rico e vocês, negros de merda” e “gente rica não vai presa” foram proferidos por um dos agressores, que estava protegido por uma policial presente no local.
A repressão contra defensores da Palestina é uma constante em várias partes do mundo. Muitos enfrentam acusações infundadas de antissemitismo, enquanto processos judiciais favorecem os sionistas, seja no Brasil ou em outros países. Manifestações pró-Palestina são frequentemente reprimidas pelas forças policiais, e em vários países, sua realização já foi proibida.
Na Argentina, a repressão ocorre tanto por parte do Estado quanto de setores da população. Com o fortalecimento de governos de extrema-direita, como o atual na Argentina, a tendência é de um aumento na hostilidade contra a causa palestina e seus apoiadores nos próximos anos.