O ex-presidente boliviano Evo Morales denunciou, no último domingo (27), uma tentativa de assassinato por forças do governo do atual presidente da Bolívia, Luis Arce. Conforme mostra uma gravação, Morales foi alvo de uma emboscada e teve seu carro alvejado por tiros enquanto se dirigia a seu tradicional programa de rádio no município de Shinahota. “O carro em que cheguei tem 14 tiros. Me surpreenderam. Felizmente, salvamos nossas vidas”, declarou Morales à rádio Kawsachun Coca.
O atentado, segundo ele, “não é um incidente isolado”, mas parte de uma repressão dirigida pelo governo de Arce, com apoio de agentes do imperialismo norte-americano, para silenciar qualquer oposição real aos interesses imperialistas.
O governo de Luis Arce, por sua vez, negou qualquer envolvimento no atentado e partiu para o ataque, acusando Morales de forjar a tentativa de assassinato para desestabilizar o país. Eduardo del Castillo, ministro do governo boliviano, afirmou que “ninguém acredita no teatro que Morales armou”, desconsiderando as provas dos disparos contra o ex-presidente e alegando, sem apresentar provas, que o incidente se deu quando a comitiva de Morales reagiu a um controle policial antidrogas.
Em resposta, Morales desmentiu publicamente a versão do governo, destacando que o que realmente ocorreu foi uma operação de emboscada planejada e orquestrada por forças de elite do Estado. “Se esse fosse o caso, por que sua equipe policial de elite atirou mais de 18 vezes nos veículos em que eu estava viajando?”, questionou o ex-presidente. Morales também denunciou a perseguição do governo de Arce para tentar intimidá-lo a não concorrer nas próximas eleições presidenciais.
Esse ataque contra Morales é expressão da crise política pela qual passa a Bolívia, onde os aliados de Morales, organizados em movimentos populares, vêm resistindo à repressão com bloqueios em estradas em Cochabamba e outras regiões do país. O ex-presidente afirmou, inclusive, que só conseguiu sobreviver ao atentado devido à mobilização da população.
Esses bloqueios, que ocorrem desde 14 de outubro, exigem o fim das tentativas de prender Morales por meio, inclusive, de falsas acusações de estupro e tráfico de pessoas, todas desmentidas e arquivadas em 2020. Segundo José Loayza, líder camponês, “Arce deve renunciar; ele está governando em função do imperialismo”.
Morales pede, além disso, uma investigação independente pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e pela Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), organizações historicamente alinhadas com a luta anti-imperialista, para que o mundo conheça a realidade da repressão promovida pelo governo de Arce. Morales afirmou: “exigimos uma investigação internacional e independente”, reforçando que tanto ele quanto seus apoiadores não aceitarão ser silenciados.
Os ataques a Morales ocorrem em meio a uma crise econômica que se intensifica no país sul-americano, agravada pela escassez de combustíveis e pelo aumento do custo de vida. Para os movimentos sociais e aliados de Morales, o governo atual utiliza a repressão e acusações mentirosas para desmoralizar a oposição e manter-se no poder, alheio ao sofrimento da população boliviana.
Com um exército de militantes e camponeses dispostos a defendê-lo, Morales afirma que seguirá resistindo: “não nos calaremos; a Bolívia não será subjugada por traidores e por aqueles que servem ao imperialismo”.