Identitários são mesmo difíceis de entender. O vencedor do aclamado Big Brother Brasil, que levou para casa uma bolada de mais de R$ 3 milhões, é um rapaz negro vindo de uma comunidade pobre de Salvador, mas a turma ongueira não está celebrando o feito. Muito pelo contrário. Uma articulista da Folha, representante do colunismo feminista, que se notabilizou pela defesa sionista de “Israel” no conflito na faixa de Gaza, levantou a lebre: o rapaz é machista.
O moço de 22 anos, chamado Davi, é um negro da vida real. Não usa trancinhas, não tem tatuagem, não é gay (nem LGBTQIAPN+), não invoca a ancestralidade, provavelmente não tenha tido a oportunidade de ler Michel Foucault. Vem, isto sim, de família muito pobre, a mãe vendedora de limões na calçada, ele próprio desde criança vendendo balas, picolés ou água em trens, ônibus, na rua, tantas vezes descalço. Nos últimos tempos, era motorista de aplicativo.
Organizado, prestativo, determinado, diligente e com uma capacidade incomum de ler pessoas e situações, ele dominou o jogo na atração mais popular da Rede Globo e conquistou a simpatia do público. Ao mesmo tempo, enfrentou diversas situações explícitas de racismo durante o programa, sem ser defendido por ninguém. Negro retinto, mas sem discurso identitário.
O que o fez merecer a acusação de “machista” em artigo na grande imprensa burguesa, sem que ninguém denunciasse o odioso “pacto da branquitude”, foi o fato de, em entrevista, ter dito que, caso tivesse um filho, gostaria que fosse um menino, porque queria “ensiná-lo a ser homem”. Foi o bastante para ferir a sensibilidade da jornalista feminista sionista.
Da frase do rapaz, em resposta a uma pergunta direta de um jornalista (prefere menino ou menina?), depreende-se que o fato de preferir um menino e, o mais grave, querer ensiná-lo a “ser homem” indica ser ele machista. Devemos deduzir que a resposta satisfatória seria que deseja que o filho seja LGBTQIAPN+. Quem saberá?
No programa, ele foi xingado de toda sorte de palavrões (que a emissora tentava encobrir com o célebre apito) por mais de uma mocinha, da loira “camarote” à negra da favela. Manifestou que a moça devia se dar ao respeito. Pronto. Foi machista, pois a mulher tem todo o direito de desfilar aos berros o repertório de baixo calão que a vida lhe ensinou, mas ele tem de ficar calado por ser homem. Ninguém aliviou para o Davi, mesmo sendo negro retinto.
Mais sintomáticas no mundo das fofocas são as críticas recebidas de ex-BBBs negros identitários gays. Em suma: o rapaz não é da turma dos identitários. Ele tem a cara dos meninos da favela que são alvejados pelas polícias militares no atacado. Não usa vestido, não usa salto alto, não tatuou o pronome na testa, não comprou um cabelo trançado afro, não usa batom. É um negro da vida real, o que enfrenta o racismo no dia a dia e extrai forças das dificuldades.
É uma vergonha que identitários procurem “defeitos” no Davi da comunidade baiana de Cajazeiras, mas, por outro lado, a atitude comprova (para quem ainda não tinha percebido) a hipocrisia da turma das ONGs que se passam por defensoras dos negros, mas estão a soldo do imperialismo. Para gente feito a colunista do jornal, nem todo negro é digno de defesa. Vindo de quem defende o sionismo e os perpetradores do genocídio dos palestinos em Gaza, não chega a surpreender.