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Banco Central

Se o problema é a taxa de juros, por que indicar Galípolo?

Caso o governo não mude a sua política e enfrente os banqueiros, verá sua base se esvaziar rapidamente

Em entrevista ao programa Fantástico, conforme relatado pelo jornal Valor, o presidente Lula criticou a política monetária conduzida pelo Banco Central:

“A única coisa errada neste país é a taxa de juros, que está acima de 12%. Não há nenhuma explicação para isso. A inflação está em torno de 4%, completamente controlada. A irresponsabilidade está no aumento da taxa de juros, não no governo federal.”

Infelizmente, não há como concordar com o presidente. A taxa de juros é um grande problema, de fato. Um dos mais graves que o País enfrenta. No entanto, está longe de ser o único. Neste exato momento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está tentando emplacar um pacote fiscal que irá limitar o salário mínimo, que é um salário de fome, e ainda excluir milhões de brasileiros de programas sociais como o Bolsa Família, por exemplo.

O problema do Brasil de hoje é o mesmo de sempre. O dinheiro que deveria ficar à disposição da população está sendo todo sugado por vampiros que sequer moram no País. E o governo Lula, em vez de fazer o esperado de um governo popular, não está fazendo nada de efetivo para frear essa predação.

A declaração de Lula, contudo, não está errada apenas nesse ponto. A própria crítica em relação ao aumento da taxa de juros é correta, em abstrato, mas cínica, se considerados todos os aspectos da situação política. A decisão de aumentar em 1% a taxa SELIC – aumento este que só ocorreu quatro vezes na história do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – foi tomada em unanimidade. E quem compõe o Copom? Entre outras pessoas, Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central.

Ao contrário de Campos Neto, que foi indicado por Jair Bolsonaro (PL), Galípolo foi indicado pelo presidente Lula. Foi indicado, diga-se claramente, mesmo Lula sabendo quem era Galípolo. Galípolo sempre foi uma figura ligada aos banqueiros e ocupava o cargo de Diretor de Política Monetária quando foi indicado ao Banco Central. E mais: antes mesmo de ser indicado, Galípolo já havia dito que concordava com o aumento da taxa de juros.

Por mais nocivo que seja Campos Neto, não adianta colocar a culpa de todos os problemas do País nele. Caso o governo não mude a sua política e enfrente os banqueiros, verá sua base se esvaziar rapidamente.

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