No bizarro artigo A cadeirada antifascista de Datena, publicado no Brasil 247, o articulista Aldo Fornazieri sai em defesa do ex-apresentador José Luís Datena (PSDB), atual candidato à prefeitura de São Paulo, após agredir o candidato Pablo Marçal (PRTB) com uma cadeira. Segundo Fornazieri, Marçal teria sido o agressor (!) e Datena a vítima, pois o primeiro teria provocado o tucano.
É comum, não apenas na política, mas mesmo na vida social que conflitos sejam resolvidos por meio da violência. Os desentendimentos fazem parte da vida em sociedade, negar isso seria pura hipocrisia. E é até mais democrático que Datena tente resolver suas diferenças com Marçal por meio de sua própria força que por meio de um processo judicial, por exemplo, pois isso equivaleria a dar ao Estado o poder de censurar os indivíduos.
O problema, neste caso, é as circunstâncias nas quais a agressão ocorreu. Se Marçal fosse um provocador tentando se infiltrar em uma manifestação de esquerda, a esquerda teria todo o direito de expulsá-lo. Se estivesse tentando furar uma greve, os grevistas teriam todo o direito de usar de violência contra ele. Afinal, Marçal estaria atentando contra um direito democrático dos trabalhadores.
No entanto, Datena agrediu Marçal simplesmente porque não gostou do que ele falou em um debate. Marçal não estava impedindo Datena de falar, não agrediu Datena, nem nada do tipo. Ele simplesmente, em seu tempo de fala, disse coisas que o candidato tucano não gostou de ouvir.
A violência de Datena, neste caso, é que é profundamente antidemocrática. É a tentativa de suprimir o debate por meio da força. Um debate, diga-se de passagem, que interesse a milhões de paulistanos. Trata-se, portanto, do uso da violência para impedir que a população da cidade mais populosa do País possa ouvir o que os candidatos têm a dizer.
A defesa de Datena, por parte de Fornazieri, traz sérias consequências para o regime político. Para defender o tucano, o articulista argumenta que “Marçal introduziu na campanha outro metro: do xingamento, da desqualificação, da agressão e da violência”. Mentira. Em 2018, o então presidenciável Jair Bolsonaro (PL) prometeu “fuzilar a petralhada”. Seus apoiadores, por sua vez, agrediam apoiadores do Partido dos Trabalhadores (PT) nas ruas. Marçal não introduziu novidade alguma.
Continuando, Fornazieri alega que “a Justiça Eleitoral, a imprensa, os mediadores dos debates e os outros candidatos, por razões diversas, aceitaram o metro introduzido por Marçal. Naturalizaram seu discurso fascista, mesmo que involuntariamente”. Por isso, “se medirmos a ação de Datena por esse metro, a cadeirada foi previsível, necessária e escusável”.
Não há como tirar outra conclusão do que diz Fornazieri. Para ele, o culpado da cadeirada não é Datena, que é incapaz de se controlar em um debate porque é incapaz de defender um programa político coerente. O grande culpado são aqueles que “permitiram” que Marçal fosse candidato. Fornazieri defende, portanto, que o regime político sabotasse a candidatura do postulante do PRTB.
Por falar em “antifascismo”, tal medida daria orgulho aos fascistas. Que regimes mais se dedicaram a cassar candidatos, que não a ditadura semifascista militar de 1964-1985 e a ditadura semifascista do Estado Novo? Por causa do comportamento de Marçal, Fornazieri quer dar aval à grande imprensa e à Justiça Eleitoral para saírem cassando e boicotando candidatos.
Ou melhor, não dar aval, mas embasar as medidas que já existem. Partidos como o Partido da Causa Operária (PCO), que não têm representação na Câmara dos Deputados, já são naturalmente boicotados pela grande imprensa, e não são chamados para os debates. Da mesma forma, milhares de candidaturas são cassadas todos os anos, pelas justificativas mais toscas possíveis.
Por pior que Marçal possa ser, ele não passa de um candidato. Um candidato grosseiro e direitista, mas que deve ser combatido por meio da luta política dos trabalhadores. É preciso demonstrar que ele está a serviço dos grandes inimigos da humanidade. Fortalecer a ditadura do Judiciário e da imprensa sobre o regime eleitoral, por sua vez, só resultará em mais repressão contra a esquerda e conjunto dos trabalhadores. Resultará, portanto, em um regime cada vez mais fascista.