Por meio de seu perfil na rede social X, Alberto Cantalice, do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Fundação Perseu Abramo, publicou um texto intitulado Socialismo X Barbárie, em alusão a uma frase atribuída à revolucionária Rosa Luxemburgo que é muito citada, mas constantemente distorcida. No texto, Cantalice não explica propriamente qual seria a “barbárie”, mas apresenta o seu “socialismo” da seguinte forma:
“O nosso horizonte utópico é e continuará sendo a construção do Socialismo com características brasileiras. Sem modelos pré concebidos, cuja construção se dará pela conquista da hegemonia do pensamento e ação do povo. Melhorar as condições de vida da maioria da população faz parte umbilical desse projeto. Só os avanços nos indicadores sociais e um esclarecimento da população fará com que esta lute por suas conquistas. A incorporação de milhões de brasileiras e brasileiros em um verdadeiro mercado de massas e de aquisição de bens materiais e imateriais, é um largo caminho.”
Aqui, há que que se destacar duas coisas. Em primeiro lugar, que, para Cantalice, a questão do socialismo seria simplesmente uma questão de “modelo”. É como se fosse um programa eleitoral. Há candidatos que defendem o “modelo socialista”, e há candidatos que defendem outro modelo. E o socialismo eleitoreiro de Cantalice seria, na verdade, um reformismo de baixíssima intensidade e genérico: a melhoria das “condições de vida da maioria da população”.
O que Cantalice defende não é o socialismo. É, no final das contas, um pretexto para defender o puro oportunismo político. Ao dizer que o socialismo não tem um “modelo pré concebido”, ele defende, na verdade, que não exista um programa socialista. Que o “socialismo” seria expresso simplesmente pela suposta boa vontade de um político ou de um governante em melhorar as condições de vida da população.
Com essa concepção de “socialismo”, estaria justificado, em nome do “socialismo”, fazer absolutamente qualquer coisa. Estaria justificado, por exemplo, ser contra a greve dos servidores, que é o que Cantalice faz. E ele tem uma boa desculpa para isso: como o governo Lula está buscando melhorar a vida da população, a política “socialista” seria acabar com a greve para que o governo não se desgaste! Justifica, também, apoiar a política criminosa do Supremo Tribunal Federal (STF) contra os direitos democráticos da população. Novamente, Cantalice tem uma desculpa para isso: como o governo Lula quer melhorar a vida do povo e é alvo da extrema direita, o “socialismo” consistiria em se aliar com qualquer delinquente político que diga que vai combater a extrema direita.
No final das contas, o texto Socialismo x Barbárie é apenas a continuação de uma série de textos em que Cantalice vem defendendo uma mesma tese. A de que a esquerda deveria abandonar a luta de classes e qualquer programa para entrar de cabeça na “luta” entre a “democracia” e a “extrema direita”. O uso do Socialismo x Barbárie aqui, portanto, serve apenas para dar um verniz marxista à tese que o próprio Cantalice já vinha desenvolvendo.
O que Cantalice não percebe, no entanto, é que, ao abrir mão de um programa e embarcar em generalidades como a defesa da “democracia” e de melhorias das “condições de vida”, ele acaba fazendo uma frente não com os “democratas”, os “anjos” e as “pessoas boas”. É uma frente com os piores inimigos do povo brasileiro, uma frente com o imperialismo.