O blogueiro Eduardo Guimarães prossegue em sua defesa das concessões feitas pelo governo Lula à direita e ao imperialismo. Em duas matérias recentes, ele tenta demonstrar que criticar o apoio ao golpismo na Venezuela não se trata de defender a soberania de um país irmão latino-americano, mas de apoiar um “ditador”. Além disso, sugere que não se deve protestar contra os cortes que o governo pretende impor à população. Agora, ele retorna com mais calúnias.
Em sua coluna intitulada Esquerda fará com Lula o que fez com Dilma, Guimarães oferece sua visão peculiar de como ocorreu o golpe de Estado contra Dilma em 2016, tentando atribuir a responsabilidade aos setores que mais lutaram contra a sua derrubada. Ele inicia afirmando: “a direita está se fortalecendo no Brasil porque sua militância não sabota os políticos do seu campo como a esquerda faz com os políticos do seu. É simples assim. Alguém vê um político de direita sendo difamado ou xingado por gente do seu campo?”. Essa declaração levanta dúvidas: será que o autor está sendo irônico, ou será que ele realmente não compreende as dinâmicas internas da esquerda e da direita? Nos últimos anos, testemunhamos Jair Bolsonaro sendo criticado incessantemente pela direita (pelo STF, pela Rede Globo, etc.), sem mencionar as múltiplas divisões dentro da extrema-direita. Guimarães parece ignorar como se dão os debates em outras correntes políticas e, aparentemente, nem considera o STF e a Globo como setores da direita, o que torna sua observação imprecisa.
Este Diário, em polêmicas anteriores com o mesmo autor, já concluiu que o alvo real de suas críticas, ainda que de forma velada, é o Partido da Causa Operária (PCO). Sob o pretexto de proteger Lula contra um novo golpe, Guimarães se posiciona como defensor de tudo que o governo tem feito recentemente, inclusive dos erros. Em sua coluna, ele afirma: “no caso de Lula, setores da esquerda o atacam por qualquer coisa. E alguns ataques são de deixar os bolsonaristas com inveja, tal o nível de ódio. Sim, ódio!”. Porém, seria fundamental que ele apontasse onde estaria esse suposto “ódio” nas críticas ao governo. De fato, buscar evitar que Lula ceda às pressões da direita significa preservar o governo e evitar que ele demonstre fraqueza diante de seus adversários.
O sentido de sua argumentação fica claro no parágrafo seguinte: “Para essa esquerda, Lula não sabe escolher ministro do STF, não sabe fazer política econômica, não sabe fazer política internacional, não sabe nomear ministros e é vendido para a direita porque não dá nela um estelionato eleitoral. E não faz isso sob o argumento de que quem venceu a eleição presidencial de 2022 foi uma frente ampla. Simples assim”. Trata-se de um argumento simplista. A questão não é se Lula “sabe” ou não algo; discordar de políticas é um direito de qualquer setor político. Se Guimarães considera que a escolha de “Adolf” Dino – o censor de livros – para o STF, que a política econômica neoliberal de Haddad ou que a submissão ao imperialismo no caso da Venezuela foram escolhas acertadas e demonstrações da sabedoria de Lula, ele deveria explicitar o porquê. No entanto, ele prefere argumentar que essas ações se baseiam em um compromisso com a “frente ampla” e, portanto, com a direita, o que mostra que tais políticas estão erradas e merecem ser criticadas.
Ao tratar das críticas ao ajuste fiscal proposto por Haddad e Tebet, Guimarães diz que aqueles que criticam tais medidas acham que “Lula não sabe o que está fazendo ou, se sabe, tornou-se um vilão que, sem necessidade, vai prejudicar os trabalhadores ‘cortando na carne’ da maioria deles”. Mais uma vez, ele apela ao argumento simplista de que devemos aceitar as ações de Lula apenas porque ele “sabe o que está fazendo”. Contudo, afirmar que o ajuste fiscal prejudicará os trabalhadores não é uma questão de opinião, mas de realidade. Cortar o auxílio BPC, destinado a pessoas com deficiência e aposentados, não representa um golpe contra os mais pobres? Realizar uma auditoria rigorosa e desnecessária no Bolsa Família e em outros programas sociais seria uma medida benéfica aos trabalhadores? Essas ações visam apenas aumentar os lucros dos banqueiros.
Guimarães conclui que as críticas podem prejudicar a imagem do governo perante a população: “Com isso, a popularidade cai como caiu a da Dilma durante ataques idênticos que essa mesma esquerda fez a ela desde 2013 até ser aprovado seu processo de impeachment”. O blogueiro confunde conceitos e evidencia que interpretou erroneamente o que ocorreu em 2013, quando um movimento buscava protestar contra o governo estadual de São Paulo pelo aumento das tarifas de transporte público, transformando-se em reação contra a truculência da Polícia Militar. Esse movimento sequer era contra o governo Dilma, mas sim contra Alckmin, um dos maiores inimigos do povo, que agora ocupa a Vice-Presidência sob uma das políticas mais equivocadas e autodestrutivas do PT. O golpismo teve origem e natureza distintas, manifestando-se pela primeira vez na campanha “Não vai ter Copa”, liderada por Guilherme Boulos.
Em seguida, Guimarães tenta desencorajar críticas a Lula com a velha ameaça da volta do fascismo: “Então não pode criticar Lula para ele não cair? Depende do que você quer. Se quer ser governado pelo Bolsonaro, pelos filhos dele ou pelo Tarcísio e sua polícia nazista, está no caminho certo. Agora, se não quer, então você está agindo como idiota”. Para ele, a política se reduz a um cálculo eleitoral superficial, ignorando a importância de lutar para que um governo de esquerda eleito seja verdadeiramente um governo de esquerda, e não apenas aceitar passivamente tudo o que for feito para evitar o fortalecimento de Bolsonaro.
Como solução, ele apresenta: “A esquerda precisa é tratar de ganhar eleições e ajudar a equilibrar o jogo, sobretudo no Legislativo. Mas como partidos políticos que nunca elegeram ninguém ou que elegem sempre bancadas minúsculas farão para sair do isolamento político em que se meteram?” Em outras palavras, Guimarães sugere que devemos superar um processo eleitoral marcado pela corrupção, pela compra de votos, pela manipulação da burguesia, pela censura (apoiada amplamente pelo PT) e outros mecanismos autoritários que inviabilizam a vitória de partidos realmente preocupados com o povo. Para ele, é possível criar uma bancada de esquerda no Legislativo e permitir que Lula governe sem a direita – uma utopia.
Se houver um golpe contra Lula, não será pelas críticas às concessões de seu governo, mas justamente por causa dessas concessões. Lula se mostra fraco, não realiza políticas que melhorem a vida da população – essencial para seu fortalecimento –, e, assim, corre o risco de perder o apoio popular necessário para se manter no poder, ficando vulnerável aos que ele considera seus aliados atuais: o imperialismo, a burguesia e os bancos, que desejam vê-lo fora do governo o quanto antes.