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Juca Simonard

Editor da revista Na Zona do Agrião e redator do Dossiê Causa Operária

Coluna

Sapucaí identitária

Os desfiles na Sapucaí, nos últimos anos, adotaram a política oficial da TV Globo, isto é, do imperialismo: o identitarismo

O Carnaval é um evento de massas no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, local onde se desenvolveu o samba e as primeiras escolas. De lá surgiram a Mangueira, de Cartola, a Portela, de Paulo, a Império Serrano, a Deixa Falar, de Ismael Silva, fundador da escola de samba moderna.

Com uma evolução parecida com o futebol-arte (isto é, o futebol brasileiro), o surgimento das escolas de samba se desenvolveu simultaneamente à classe operária e ao período revolucionário que vai desde as greves de 1917, passando pelo modernismo e o tenentismo, até a Revolução de 1930.

Na década de 1930, o samba se tornou parte da identidade nacional e o Carnaval se tornou o grande evento cultural do Brasil — atrás apenas do futebol. Na década de 1970, no entanto, os desfiles carnavalescos foram capturados pelo grande capital, assim como aconteceu com o futebol.

O desfile oficial tornou-se um evento patrocinado pelos grandes capitalistas, sequestrado pela Rede Globo. Assim como aconteceu com o futebol, isso levou a uma degeneração dos desfiles, que começaram a se adaptar aos interesses dos grandes patrocinadores.

Agora, chegamos num ponto máximo dessa situação. Por isso, os desfiles na Sapucaí, nos últimos anos, adotaram a política oficial da TV Globo, isto é, do imperialismo: o identitarismo.

Se, antigamente, encontrávamos lindos samba-enredos sobre a história do Brasil, exaltando o samba e as escolas etc., agora vemos esses temas serem contaminados pela ideologia identitária. O auge dessa campanha foi o desfile da Mangueira em 2019.

Assistindo aos desfiles desse ano, quase todas as escolas optaram por esse caminho. Talvez o caso mais chamativo tenha sido a Portela. Depois de alguns anos seguidos de crise, quase sendo rebaixada no ano de seu centenário (2023), a maior campeã do carnaval carioca decidiu seguir todo o roteiro.

Falou-se do sagrado feminino, dos orixás, dos negros. Não haveria nenhum problema, não fosse a intensa demagogia por trás de tudo isso. Para complementar, desfilaram na escola o ministro Silvio Almeida e a escritora Conceição Evaristo, figuras carimbadas do identitarismo negro do imperialismo.

Do ponto de vista geral, o desfile foi lindo: os carros, a estrutura do samba (com exceção da letra demagógica) etc. etc. Somando isso à demagogia identitária, a Portela está entre as favoritas para conquistar o título.

Mas, como a Portela está fora do “esquema” que domina o carnaval sequestrado pela Globo, mesmo seguindo todo o roteiro, é possível que a escola fique sem o título. Não seria nada surpreendente para os portelenses.

O caso da Portela chama a atenção justamente por ela estar fora do esquema. Mas a pressão financeira é gigante, e todos têm de se curvar à pressão imperialista.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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