Universidade de Férias

Rui Pimenta: ‘toda teoria marxista é produto da experiência real’

Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária, faz sua aula inaugural do curso sobre Lênin e a Revolução Russa

Seguindo com as atividades em homenagem ao centenário da morte de Vladimir Lênin, principal dirigente da Revolução Russa de 1917, o curso da 51ª Universidade de Férias do PCO tem como tema Lênin e a Revolução Russa. Nesse período de enorme crise do imperialismo e com o levante de vários povos oprimidos no mundo nos últimos anos, as conclusões políticas da principal liderança da primeira revolução operária da história são mais importantes do que nunca.

Rui Pimenta começou sua exposição indicando a necessidade de se fazer uma introdução sobre a importância de se estudar tanto Lênin, quanto a Revolução Russa. O primeiro ponto abordado foi a questão do programa. Pimenta explicou a importância de se ter um programa coerente para se construir um partido revolucionário. Segundo ele mesmo, “o programa revolucionário é o que permite ao partido aspirar a ser a direção de um movimento de massas”, lembrando a frase do próprio Lênin “sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário”. Por outro lado, Pimenta também discutiu as consequências desastrosas para os trabalhadores quando suas direções não têm um programa correto.

Uma característica que destaca os cursos ministrados por Pimenta de outros cursos de política que existem é a concretude com que ele trata o conteúdo. Para explicar a importância do programa político, o dirigente do PCO demonstrou seu argumento através de acontecimentos recentes da luta política e da atuação do Partido neles. O próprio método de explicação é uma evidência do argumento. Citando Trótski: “o programa é a compreensão comum [dos militantes do partido] dos acontecimentos políticos e das tarefas”. Ele aprofunda o argumento dizendo que “não vale nada um programa que você escreveu e deixou em cima da escrivaninha. […] O programa tem que existir na consciência dos militantes”.

Durante o primeiro bloco de perguntas, para que não restassem dúvidas sobre o porquê de um programa revolucionário precisar ser um programa marxista, Rui explicou, sumariamente, o que é o marxismo:

“Uma teoria é a generalização da experiência prática. Quando você formula um conceito cientifico, significa que os fenômenos que existem na realidade despertaram a pergunta de ‘qual é a causa disso, o que é isso?’. Isso serve para qualquer ciência e vale para o marxismo igualmente.

Hoje em dia, a ciência está muito confusa. A comunidade científica, em quase todas as áreas, vive uma confusão muito grande porque justamente uma boa parte da ciência é uma especulação sobre fatos que não fazem parte efetivamente da realidade. É muito comum ver um cidadão tirando a conclusão de uma conclusão que outro havia tirado de outra conclusão, de outra conclusão. Isso é um pensamento especulativo, não é ciência.

O marxismo é derivado, fundamentalmente, da experiência política e histórica da humanidade, mas também e, principalmente, da experiência da classe operária. Quando Marx fala, por exemplo, que a luta de classes conduz inevitavelmente a ditadura do proletariado, não é uma especulação dele, não é simplesmente uma conclusão lógica. Isso é derivado da experiência da luta de classes. É derivado da análise da vida social.”

Ainda respondendo às perguntas, Rui Pimenta aprofundou várias questões sobre o problema das classes sociais e dos partidos, com exemplos concretos da realidade política atual. Nessa discussão, ele formulou a síntese “o programa é a compreensão do interesse de classe”. E dando um caráter prático para essa afirmação, ele fez uma análise e concluiu que “a consciência tem que se traduzir em organização”.

Na segunda parte da exposição, o dirigente do PCO explicitou mais profundamente sobre a relação entre a teoria e a prática. Generalizando a ideia, Pimenta faz uma explicação sobre o sentido social da teoria científica:

“O progresso é resultado de uma determinada atividade. Por exemplo, as sociedades mais antigas tinham conhecimentos de determinados fatores naturais que eram bem precisos […] De onde vinha esse conhecimento? Da prática. Eles tinham que comer, aí comiam algo que fazia mal para a saúde. Assim que distinguiam o que fazia bem do que fazia mal. Ninguém vai negar que uma pessoa que fez um curso de mecânica sabe muito menos do que um mecânico que trabalha há 10 anos naquele ofício.”

Para deixar o ponto mais claro no sentido do curso, ou seja, da Revolução Russa, do marxismo e da construção de um Partido Revolucionário, o presidente do PCO segue sua exposição demonstrando como os próprios Marx e Engels encaravam a questão.

“Na primeira internacional, Marx dizia que os sindicatos e as greves são as formas próprias de organização da classe operaria. Os anarquistas falavam que não, que os sindicatos eram um obstáculo, apesar deles estarem vendo que os trabalhadores é que estavam criando os sindicatos. Marx não inventou nem sindicato, nem greve, mas quando ele viu, tirou uma conclusão, ele generalizou. As primeiras teorias sobre os sindicatos são do próprio Marx.

O programa político é uma determinada apreensão da realidade. Realidade essa feita pela sociedade. No que diz respeito a classe operária, pelos operários.”

Pimenta explica que a teoria marxista foi desenvolvida sobre um estudo das lutas concretas do movimento operário e com o objetivo de organizar essa luta até a vitória.

“Marx falava que os trabalhadores tinham que criar partidos e participar das eleições. [Os anarquistas] rejeitavam essa ideia. Marx falava que não havia outra forma de atuar se não fosse diretamente. […] Ele via esse movimento. Não era algo que ele estava inventando.

Nessa época, teve o movimento cartista inglês. Foi um movimento que surgiu nos sindicatos e nos setores operários e pedia uma reforma constitucional, a carta. Eles revindicavam direitos eleitorais e políticos para a classe operária […]

Marx e Engels apoiavam o movimento cartista, mas quem o criou foram os próprios operários. O que Marx e Engels fizeram foi mostrar que o que eles estavam fazendo estava certo.”

Ainda sobre o método do marxismo, o dirigente do PCO assinala outros dois pontos fundamentais que destacam as teses de Marx e Engels:

“A Revolução Francesa mostrou que uma Revolução que quer realmente transformar o país, em algum momento vai ter que impor uma ditadura. Ele não tirou [a ditadura do proletariado] da cabeça dele.”

“Toda teoria marxista é produto da experiência real, não é produto de nenhuma mente genial. A teoria econômica marxista é também derivada da experiência da classe operária. Quem primeiro levantou a economia como sendo a base de toda a luta da classe operária foi o Engels. Ele era filho do dono de uma indústria e participava da administração da empresa na Inglaterra. Ele conhecia bem o movimento operário britânico.”

Dada a importância política deste curso, a aula abordou com mais ênfase a questão da necessidade de se estudar a Revolução Russa e, mais profundamente ainda, a participação e opiniões de Lênin, seu principal dirigente e militante mais consciente do processo. Rui Costa Pimenta dedicou um trecho da aula especificamente para deixar claro o motivo disso. Ele também fez questão de destacar que alguém que se considere marxista, mas despreza a experiência da Revolução Russa, não pode ser considerado marxista, pois deixa de considerar justamente o fenômeno em si.

“A Revolução Russa é a experiência revolucionária mais acabada, não apenas da história da classe operária mundial, como da humanidade. O programa revolucionário dos dias de hoje é a assimilação da experiência da Revolução Russa.

A doutrina marxista, o socialismo cientifico, foi elaborado como sendo a doutrina da Revolução proletária. E a Revolução Russa é a materialização de toda essa doutrina. É a comprovação, em primeiro lugar.”

Chegando ao final da exposição, o presidente do PCO fez um breve sumário do que será abordado no curso. Salientando o papel do revolucionário da classe operária mais consciente que já existiu.

“[No curso] nós vamos mostrar qual foi a política de Lenin durante a Revolução Russa. E Vamos mostra que essa política tem um caráter universal.

A Revolução Rusa apresenta todos os problemas fundamentais da luta política em momentos revolucionários e também em momentos não revolucionários.”

Na conclusão, Pimenta menciona que o Partido Bolchevique, em 1917, já tinha uma grande experiência revolucionária, reforçando seu ponto sobre a relação entre teoria e prática.

“A Revolução Russa de 1905 foi o ensaio geral da Revolução e Lenin é quem mais tinha a capacidade de entender tudo o que tinha acontecido antes. […] Os que não souberam o que fazer, fracassaram.”

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