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Opera Mundi

‘Hamas é a força política mais revolucionária da atualidade’

Entrevistado por Breno Altman, Rui Costa Pimenta criticou a falsa luta entre "democracia" e ditadura, tratando também de outros assuntos

Na última quinta-feira (24), o jornalista Breno Altman, autor do livro Contra o Sionismo, criador do sítio Opera Mundi e dirigente do PT em São Paulo, entrevistou o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO) Rui Costa Pimenta, no canal do órgão, em uma entrevista que pode ser consultada aqui. Já no início, o dirigente falou sobre a visita a China e criticou os setores da esquerda que analisam a política sob a suposta contradição entre “democracia e ditadura”: “é uma contradição falsa porque o que estamos assistindo é uma crescente radicalização do imperialismo, justamente o dito ‘democrático’ que está colocando o mundo à beira de uma guerra mundial”, disse.

Pimenta criticou a postura do governo brasileiro em relação à Venezuela, acusando-o de agir como um braço do imperialismo ao vetar a entrada do país nos BRICS. “O veto do Brasil é uma submissão escandalosa ao imperialismo, qualquer que seja o motivo brasileiro”, destacou o presidente do PCO, admitindo que faz essa crítica “com pesar, pois apoiamos a candidatura do Lula e vimos o governo do PT como uma alternativa”. Em relação à capitulação do governo brasileiro, que também foi denunciada por Breno Altman, o dirigente marxista afirmou que “é uma tentativa de isolar a Venezuela, que está assediada política e militarmente pelos Estados Unidos.”

Ele também criticou, à luz do marxismo, grupos que se dizem de esquerda e que classificam a Rússia como imperialista, afirmando que o verdadeiro antagonismo é entre os povos oprimidos e o imperialismo, e não entre países. “A economia russa não tem nada a ver com o que Lênin expõe em Imperialismo, fase superior do capitalismo“, pontuou. “A Rússia é uma economia exportadora de matéria-prima. O imperialismo é a dominação mundial pelo capital financeiro e a Rússia está muito distante dessa realidade. A caracterização da Rússia como imperialista é absurda e sua função política é apoiar o imperialismo, pois, ao criar a falsa noção de um ‘imperialismo A e B’, justifica-se uma suposta neutralidade, que, na prática, apoia a força dominante”.

Pimenta defendeu o apoio à Rússia na guerra na Ucrânia, argumentando que o país é alvo do imperialismo e destacando a importância de resistir a essas forças. Ao discutir a China, ele elogiou o modelo chinês, mesmo reconhecendo suas contradições e o caráter capitalista da economia, mas apresentou o país como uma força anti-imperialista que articula um plano de cooperação econômica global, especialmente com a “Nova Rota da Seda”, caracterizando essa movimentação do governo chinês como revolucionária.

Sobre a política externa brasileira, Pimenta criticou o governo Lula por adotar uma postura subserviente ao imperialismo, defendendo que a solução para a crise política no Brasil deve surgir de uma articulação política “de baixo”, daqueles que lutam contra a ditadura mundial. Ele reiterou o apoio do PCO à causa palestina, indicando que o Hamas é a força política mais revolucionária da atualidade, pela sua resistência ativa contra o enclave imperialista e até mesmo potências como os EUA e o Reino Unido. Pimenta enfatizou a importância de apoiar a luta palestina como parte de uma resistência mais ampla.

Eu acho que do ponto de vista político, o Hamas, nesse momento da história, por essas contradições históricas que são muito ricas, é a força política mais revolucionária que existe no mundo, sem sombra de dúvida.”

Partindo para um debate sobre a ascensão do identitarismo e sua relação com o imperialismo, central nas discussões políticas atuais, o dirigente do partido trotskista criticou o papel das ONGs, que, financiadas pelo imperialismo, desviam o foco da luta de classes para questões específicas, enfraquecendo movimentos sociais mais amplos. Ele afirmou que as reivindicações das minorias sempre foram importantes para a esquerda, mas que o movimento identitário atual não tem nada em comum com as lutas socialistas revolucionárias, nem mesmo com correntes reformistas. Como exemplo, citou a luta das mulheres, que historicamente esteve ligada ao socialismo, mas foi corrompida pelos identitários.

Pimenta destacou que muitos movimentos sociais foram cooptados pelo imperialismo através do financiamento de ONGs, que impõem políticas de cancelamento e intimidação. Ele reforçou o posicionamento histórico do PCO e dos marxistas pela liberdade de expressão e contra a censura, condenando a chamada “cultura do cancelamento”. Além disso, criticou o confronto direto com valores religiosos profundamente enraizados na população. Ele citou a “Luta cultural” promovida por Bismarck contra a Igreja Católica na Alemanha como um exemplo histórico de fracasso em tentar erradicar crenças através de imposições. Para Pimenta, é essencial adotar uma política de tolerância, especialmente ao lidar com uma população conservadora.

Essa política identitária, segundo o presidente do PCO, é promovida como uma ferramenta de pressão funcional ao imperialismo. Ele mencionou como essas imposições podem ter o efeito contrário, citando o exemplo do vereador mais votado em São Paulo, cuja campanha se baseou em críticas à presença de mulheres trans em banheiros femininos.

No que diz respeito à política norte-americana, particularmente às eleições, o presidente da agremiação comunista defendeu a neutralidade em relação ao confronto entre Kamala Harris e Donald Trump, afirmando que ambos representam a ditadura mundial. Ele destacou que, dependendo do caso, seria viável apoiar um partido minoritário de esquerda, mas nunca elementos como os dois candidatos das distintas alas da burguesia norte-americana. Questionado se o PCO teria alguma preferência por Trump, esclareceu que critica ambos igualmente. “Não apoiamos nenhum dos dois. A vitória de Trump seria um problema para o dispositivo imperialista, mas não resolveria nada.”

Um ponto de divergência entre entrevistado e entrevistador surgiu em relação ao enfrentamento da extrema direita. Pimenta concorda que a extrema direita se aproveita dos direitos democráticos para “jogar sujo”, mas se opõe ao uso da justiça para silenciar essas vozes, argumentando que a censura em uma democracia burguesa sempre acabará por recair sobre os trabalhadores. Ele defendeu a necessidade de conquistar a consciência da população para a luta revolucionária e criticou o uso arbitrário do poder por figuras como o ministro Alexandre de Moraes, que, segundo ele, ajuda a reabilitar o bolsonarismo ao transformá-lo em vítima.

Pimenta, por sua vez, argumentou que a política de censura atual é impulsionada pelo imperialismo, que busca controlar a internet e a comunicação dos trabalhadores. Ele apontou para um ataque mais amplo contra a liberdade de expressão, destacando a repressão contra a Palestina e a Rússia como exemplos de restrições ainda maiores do que as impostas à direita brasileira. A repressão a jornalistas na Europa e a prisão de vozes opositoras indicam que essa política de censura vai além do combate à extrema direita, corroborando as posições do PCO.

Por fim, Pimenta vê o governo Lula como um campo de batalha, onde forças opostas disputam influência. Ele reconheceu que o presidente enfrenta uma guerra política interna, o que justifica algumas críticas ao governo. No entanto, o líder do PCO reiterou que essas críticas devem ser ponderadas, considerando o enfrentamento imperialista e as pressões sobre o governo, mas também sem repetir os erros do “Fora Todos”.

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