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Rio Grande do Sul

RS: neoliberalismo destruiu sistema de contenção de enchentes

Depoimentos de ex-diretores expõem a destruição da estrutura de prevenção de enchentes

Enquanto o número oficial de mortos chega a 147 pessoas, e o de desaparecidos a 127, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul alerta para “novas inundações severas”. Com base em uma projeção do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o nível do Guaíba, que atingiu 5,35 metros no pior momento das enchentes, poderá atingir 5,60 metros.

Assim, o número de pessoas afetadas, que já ultrapassa 2.115.703, irá aumentar. Assim como o de mortos.

Conforme este Diário vem expondo, a catástrofe que ocorre no Rio Grande do Sul não é algo decorrente de “mudanças climáticas” ou “aquecimento global”. Não é um mero desastre ambiental. É um crime contra o povo gaúcho, resultado da política neoliberal do governo Eduardo Leite (PSDB), dos governos estaduais que o precederam e das prefeituras que, ano a ano, tiraram dinheiro dos órgãos de prevenção de enchentes e desastres para dar aos bancos.

O DCO recebeu declarações de um militante do Partido da Causa Operária (PCO) de Porto Alegre, que afirmou que “o depoimento de vários técnicos ligados ao DMAE, que são pessoas que conhecem profundamente essas questões de prevenção, dizem que existia uma estrutura [de prevenção], cuja construção foi iniciada logo depois da grande enchente de 1941, e que foi concluída nos anos 70, e que só não funcionou porque a administração pública praticou o que a gente pode chamar de desídia administrativa”.

Nesse sentido, é fundamental destacar as informações de Carlos Atílio Todeschini, ex-diretor de Conservação do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), ex-diretor do DEP e ex-diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) em Porto Alegre.

Segundo Todeschini, Porto Alegre “tem o melhor sistema de proteção contra cheias do Brasil. E este é composto por diques, casas de bombas, o Muro da Mauá, comportas de superfície e de gravidade e ainda a estrutura predial da usina do gasômetro. É um complexo que representa investimentos que ultrapassam um bilhão de dólares construídos em várias décadas, desde 1941“. Contudo, ele destaca que “o colapso acontece porque os serviços básicos de manutenção não foram feitos“.

Em outras palavras, o governo do Rio Grande do Sul e a prefeitura de Porto Alegre não investiram recursos para fazer a manutenção e atualizar a estrutura de contenção de enchentes e preservação de desastres. Ao contrário, o dinheiro foi para os bancos.

Todeschini ainda detalha o estado de destruição da estrutura: “corroídas, emperradas, sem graxa, pintura etc., a ponto de assistirmos a uma delas, da região central, sendo acionada pela tração motora de uma máquina retroescavadeira”.

Segundo o especialista, outro importante mecanismo na proteção contra as cheias são as chamadas comportas de gravidade, as quais ficam submersas nos poços das casas de bombas, não sendo “aparentes”. E qual a função delas? “Realizar o esgotamento por gravidade quando o nível do rio está mais baixo do que a cidade”, de forma que, se o nível do rio estiver mais alto que várias áreas da cidade, “essas comportas fecham com a pressão do rio e daí o escoamento é feito pela elevação da água pelo acionamento do sistema de bombeamento, conforme explica Todeschini.

Contudo, tendo em vista que várias matérias noticiaram as águas transbordarem pelos esgotos, o ex-diretor do DMAE e DEP constatou que as comportas de gravidade também não operaram por falta de manutenção. Segundo ele, “essa manutenção é cara, geralmente feita por serviços de mergulho contratados e altamente especializados”, acrescentando, ainda, que esse problema já tinha ocorrido na enchente de 2003.

Em outras palavras, trata-se de outra demonstração da destruição perpetrada pelo neoliberalismo, que sequer permite que o dinheiro público seja investido na prevenção de enchentes. E isto é constatado por Todeschini, ao afirmar que o DEP costumava ser uma Secretaria Municipal dedicada à drenagem e à prevenção de enchentes. Contudo, com a política neoliberal “foi sucateado e jogado para dentro do DMAE, como um departamento não importante”.

No mesmo sentido é o depoimento de Augusto Damiani, engenheiro aposentado da Prefeitura, ex-diretor geral do DEP, ex-diretor do DMAE. Segundo Damiani, após citar vários exemplos de negligência, em vídeo, afirma categoricamente que a “prefeitura [de Porto Alegre] foi negligente, deixou de atender as necessidades da cidade”. Veja o vídeo:

Um retrato da destruição do governo de Eduardo Leite, do PSDB, no Rio Grande do Sul (assim como dos governos direitistas anteriores e das prefeituras). Igualmente, é uma amostra do que os banqueiros, o capital financeiro, isto é, o imperialismo quer fazer em todo o Brasil.

Diante dessa destruição, o que o governo gaúcho faz? Conforme está sendo divulgado pelas redes sociais e aplicativos de mensagens, a Brigada Militar teria divulgado uma série de recomendações aos cidadãos diante da situação de calamidade. São 22 no total, dentre elas, vale destacar:

“Quem tiver condições de comprar um carro blindado, compre!

Sempre suspeitar de tudo e de todos. Ter uma postura defensiva é estar sempre atento.

Antes de entrar em algum estabelecimento sempre observe se as pessoas estão agindo com naturalidade, pessoas muito paradas sem se mexer podem estar sendo assaltadas.”

Não se sabe se a Brigada Militar de fato está divulgando essas recomendações. Contudo, até o fechamento desta edição, a instituição não havia desmentido o texto. Além disso, a imprensa burguesa noticia que o governo mobiliza a PM do estado (Brigada Militar) – e recebe efetivos de outros estados, como o Paraná – para combater o crime, especialmente os saques. 

E os casos de pessoas que passam fome e saqueiam supermercados? O governo Eduardo Leite destrói a estrutura pública, jogando o povo gaúcho debaixo d’água, e ainda manda a polícia reprimir se alguém estiver morrendo de fome.

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