No artigo Se não começarmos a agir, a internacional fascista vai nos engolir, publicado pelo Brasil 247, Fernando Castilho, que se apresenta como “arquiteto, professor e escritor”, afirma que o vazamento promovido pelo dono do X, Elon Musk, contra Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), teria comprovado a existência de uma “internacional fascista”.
A única coisa que ficou comprovada nessa crise é que a política do imperialismo de censurar pessoas, partidos, entidades, parlamentares e figuras públicas chegou a um impasse. E que órgãos como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo, que outrora defendiam a censura, agora criticam Moraes, expressando, assim, a mudança de política de seus patrões.
O movimento em si não é algo negativo. Se de fato a burguesia decidiu se livrar de Alexandre de Moraes, isso significaria que ela se viu obrigada a mudar de política – isto é, que a política de censura entrou em crise. É possível, portanto, que, nas próximas semanas, vejamos os inquéritos de Moraes serem anulados e algumas decisões suas sendo revertidas. Seria um progresso e um alívio, ainda que pequeno, para o conjunto da população, que já vive sob um regime muito repressivo.
Já quanto ao vazamento, não se pode haver dúvida de que é algo positivo. Independentemente de quem seja Elon Musk ou de quais são os seus interesses na América Latina, o fato de que os 215 milhões de brasileiros hoje podem ter acesso a várias informações sobre como as suas autoridades conspiram contra a população.
Além de a análise em si dos acontecimentos ser errada, Fernando Castilho também erra ao estabelecer a tal “internacional fascista”, como se a extrema direita fosse a única frente de ataque aos direitos democráticos da população. É fato que a extrema direita está crescendo no mundo todo, como pode se ver nos casos da França (Marine Le Pen), Argentina (Javier Milei), El Salvador (Nayib Bukele), Polônia (Andrzej Duda), Alemanha (AfD), Estados Unidos (Donald Trump), Portugal (Chega) e Espanha (Vox). E é mais que natural que essas figura se articulem entre si.
No entanto, o crescimento da extrema direita é o resultado direto da falência do “centro político” – isto é, daqueles partidos mais vinculados ao imperialismo. E, uma vez que o “centro político” tem como política a repressão e a ditadura, também é normal que parte da demagogia feita por essas figuras de extrema direita aconteça por meio de uma suposta defesa das liberdades democráticas.
Isso posto, não seria preciso dizer que as liberdades democráticas estariam sob ameaça no mundo inteiro, por exemplo, porque Donald Trump estaria prestes a vencer as eleições norte-americanas. O fato é que a política “oficial” do imperialismo tem sido a ditadura, de tal modo que o crescimento da extrema direita se deve, em grande medida, ao fato de que a esquerda falhou em canalizar a revolta contra a ditadura do Estado capitalista.
Essa incompreensão do autor é decisiva para que não saiba como lidar com o avanço da extrema direita. Ele mesmo se mostra desconfortável com o fato de que o bolsonarismo está cada vez mais à vontade no Brasil: “enquanto os indiciamentos não acontecem, as cabecinhas vão sendo colocadas para fora. Reparem que já não há mais o mínimo pudor entre os bolsonaristas“. Contudo, estabelece como política que:
“Se as instituições democráticas que verdadeiramente não querem o fascismo (tenho dúvidas da nossa grande mídia que vem atacando Moraes ultimamente) não começarem a cortar as asinhas assim que elas aparecem, essa internacional fascista crescerá e abocanhará o mundo.”
Não há dúvidas – é óbvio que a “grande mídia” é fascista. Toda a grande imprensa esteve diretamente envolvida no golpe de Estado de 2016. Toda ela faz campanha, dia e noite, para que o povo morra de fome em favor de meia dúzia de especuladores que sequer mora no Brasil. Mas o que chama a atenção é que, para frear a extrema direita, Castilho reza para as “instituições democráticas” – as mesmas que se juntaram à “grande mídia” no golpe de 2016!
E o problema não para por aí. Como já foi explicado, ao mesmo tempo em que as “instituições democráticas” são, elas próprias, fascistas, pois levam adiante uma ditadura contra a população, negando-lhe o direito à greve, negando-lhe a liberdade de expressão, negando-lhe o acesso aos serviços mais elementares, elas também são as responsáveis por fortalecer a extrema direita na medida que essa canaliza a revolta contra a ditadura do Estado capitalista.
Não bastasse tudo isso, o grande símbolo, hoje, das “instituições democráticas” que supostamente estão combatendo a extrema direita é Alexandre de Moraes. Mas, como já explicamos, ele está sendo descartado. E não apenas pela imprensa: pelo conjunto da burguesia.
Sem o apoio da burguesia, Moraes não é nada. Moraes não tem apoio algum do movimento popular, pois é um inimigo mortal deste. Moras se tornou, portanto, um peso morto. Se Fernando Castilho considera que o ministro careca do STF é a última barreira contra a “internacional fascista”, então estaremos todos fritos.