Uma reportagem da seção brasileira do órgão russo Sputnik trouxe à luz o fenômeno da empresa norte-americana CrowdStrike, fornecedora de sistemas de segurança digital, mas que há alguns anos vêm frequentando as manchetes de jornais em todo o mundo. A empresa está diretamente envolvida com o apagão global de computadores com o sistema operacional Windows, de propriedade da empresa monopolista Microsoft, ocorrido na última sexta-feira (19) e que afetou computadores pessoais e servidores usados pelas mais diversas empresas, “de companhias aéreas, ferrovias, bancos e até mesmo hospitais em todo o mundo”, diz a matéria de Sputnik (Da fraude de Hillary Clinton a servidor na Ucrânia: relembre o histórico obscuro da CrowdStrike, 20/7/2024). “Por trás da reputação da empresa”, continua a reportagem do sítio russo, “como um importante fornecedor de produtos de segurança de endpoint está o estranho costume de [ter] seu nome surgindo na política dos EUA”, informa Sputnik.
“Durante as eleições presidenciais dos EUA em 2016, a campanha de Clinton pediu ajuda a ninguém menos que a CrowdStrike para investigar o ataque hacker contra o Comitê Nacional Democrata – que revelou informações embaraçosas sobre os esforços do partido para fraudar o processo de nomeação a favor da candidata.”
Segundo o sítio da própria empresa, “o Comitê Nacional Democrata [“DNC” na sigla em inglês] entrou em contato com a CrowdStrike para responder a uma suspeita de ataque cibernético que afetou sua rede. O DNC foi alertado pela primeira vez sobre o hack pelo FBI em setembro de 2015. Conforme o testemunho do contratado de TI do DNC, Yared Tamene Wolde-Yohannes, o FBI atribuiu a violação ao governo russo em setembro de 2015”, diz a nota de esclarecimento da empresa (Setting the record straight, 5/6/2020).
A reportagem de Sputnik prossegue informando, contudo, que foi a intervenção da empresa que trouxe a suposta intervenção russa nas eleições norte-americanas de 2016.
“A investigação da CrowdStrike deu origem às primeiras alegações de que a Rússia estava por trás do hack do DNC, e a empresa forneceu suas ‘evidências e análises forenses’ ao FBI, dando início à teoria da conspiração Russiagate de que Donald Trump estava conspirando com a Rússia para ‘roubar’ a eleição.
O executivo da CrowdStrike, Shawn Henry, admitiu sob juramento em depoimento no Congresso dos EUA em 2017 que a empresa não tinha ‘evidências concretas’ para apoiar sua história de ‘hackers russos’, mas a essa altura já era tarde demais e Trump passou praticamente todo mandato perseguido pelas alegações de ‘conluio’.”
Na época (2016), o imperialismo norte-americano acusou a Rússia de conduzir uma campanha para influenciar o resultado da eleição do país em favor de Trump, por meio de várias manobras, incluindo a invasão e divulgação de e-mails do DNC e da campanha da então candidata democrata, Hillary Clinton.
Além disso, a investigação realizada pela CrowdStrike serviu para acusar a Rússia de espalhar desinformação e propaganda através de redes sociais durante o pleito presidencial, utilizando contas falsas e bots para amplificar mensagens polarizadoras e dividir o eleitorado americano. A investigação conduzida pelo conselheiro especial Robert Mueller (ex-diretor do FBI durante os governos Bush e Obama) foi divulgada em abril de 2019, concluindo que houve múltiplos contatos entre a campanha de Trump e indivíduos ligados ao governo russo, porém sem provas para apoiar uma acusação de conspiração criminal com a Rússia.
“O nome da CrowdStrike”, continua a reportagem de Sputnik, “também apareceu no infame telefonema de 2019 entre Trump e [o presidente ucraniano] Vladimir Zelensky, com o então presidente dos EUA pedindo a Zelensky que ‘nos fizesse um favor’ e ‘descobrisse o que aconteceu’ com o servidor da CrowdStrike, que Trump disse estar na Ucrânia.
A equipe de Trump estava convencida de que a CrowdStrike plantou provas no servidor do DNC para incriminar a Rússia, ao mesmo tempo que encobria os esforços da própria Ucrânia para “enfraquecer o movimento de Trump” durante a corrida eleitoral de 2016. Os políticos democratas e os meios de comunicação anti-Trump consideraram as suspeitas do presidente infundadas.”
O órgão russo lembra então, que a investigação promovida pelos trumpistas contra a empresa de TI resultaria um ensaio para um golpe de Estado contra o republicano, ainda em 2019. Diz Sputnik:
“O telefonema Trump-Zelensky, no qual ele também pediu a Kiev que investigasse o papel do então ex-vice-presidente Joe Biden na demissão de um promotor ucraniano que investigava as supostas atividades corruptas de seu filho Hunter Biden enquanto trabalhava para a empresa de energia ucraniana Burisma, acabou desencadeando o primeiro pedido de impeachment de Trump em 2019.”
Na época, Trump fora acusado de ter pressionado o presidente ucraniano a investigar Joe Biden e seu filho, Hunter Biden, por motivações eleitoreiras. A acusação sustentava que Trump condicionou a liberação de uma ajuda militar de quase US$400 milhões à Ucrânia e um encontro na Casa Branca [sede do governo norte-americano] à realização dessa investigação.
A Câmara dos Representantes aprovou o pedido para iniciar o processo de impeachment do presidente republicano no dia 18 de dezembro de 2019. No Senado, no entanto, Trump foi absolvido em janeiro de 2020.
Como se as informações levantadas pelo sítio russo não fossem o bastante para demonstrar o alinhamento da companhia com o imperialismo e em especial os democratas, a reportagem de Sputnik destaca que logo após a ascensão do democrata Joe Biden à Casa Branca, a empresa de TI voltou a ocupar as páginas políticas da imprensa, e novamente, em profunda sintonia com o imperialismo:
“A CrowdStrike também foi uma das poucas empresas contratadas pela Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura dos EUA (CISA) em 2021 para elaborar um plano de defesa cibernética para ‘toda a nação’. A iniciativa foi criticada como uma tentativa de fortalecer a inteligência dos EUA e os poderes de vigilância das Big Tech usando a segurança cibernética como cobertura.
No mesmo ano, o CEO da CrowdStrike, George Kurtz, culpou os hackers russos pelo ataque hacker da SolarWinds em 2020 ao governo federal dos EUA, mas curiosamente admitiu que a empresa não tinha informações próprias ‘para corroborar essa descoberta’.”