No artigo É hora de falar de política? Enchentes no RS e a estratégia da desinformação, assinado por Juliana Bimbi e publicado pelo portal Esquerda Online, o grupo Resistência, corrente interna do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), se apresenta como uma verdadeira tropa de choque dos prefeitos neoliberais do Rio Grande do Sul. Ao fazer um balanço da catástrofe que acometeu o povo gaúcho, o grupo se mostra completamente incapaz de dirigir uma única palavra de ordem contra os banqueiros. Não exige a suspensão do pagamento das dívidas, não exige um auxílio emergencial para o povo sob a água, não exige nem mesmo a saída do governo de Eduardo Leite (PSDB), o grande responsável pela tragédia. Trata-se, portanto, de mais um esforço para esconder os verdadeiros culpados pela crise.
Não é nenhuma novidade. Há pouco tempo, o mesmo grupo publicou um artigo culpando o “negaciosismo climático” pela catástrofe, e não os bancos. Mas tudo fica ainda pior.
No artigo de Bimbi, o Resistência/PSOL estabelece como grande prioridade o “combate às fake news“!
“Dito isso, a importância dos ativistas que estão auxiliando com as campanhas de solidariedade nesse momento, atuarem para identificar os responsáveis pela tragédia, não anula a prioridade do salvamento de vidas, pelo contrário, é parte dela. Para além da responsabilidade, é necessário também combater a desinformação que atinge em especial o debate das redes sociais sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. Esse fenômeno é geral, mas tem acontecido especialmente em relação às tragédias no RS.”
A campanha contra as “fake news” já é, em si, algo reacionário, pois é promovido pela grande imprensa para censurar os órgãos de comunicação independentes. No entanto, neste caso, trata-se de uma posição verdadeiramente criminosa. Afinal, a única preocupação social seria com a “solidariedade” – isto é, do ponto de vista do salvamento de pessoas, para o Resistência, quem deveria agir é a própria população, e não o Estado. A única coisa na qual o Estado deveria intervir seria para frear as “fake news”. Isto é, o orçamento público não deveria ser utilizado para resgatar pessoas e reparar as perdas materiais, mas sim para aumentar o aparato policial capaz de coibir as tais “fake news”.
Tudo fica ainda mais grotesco quando o Resistência afirma que:
“Áudios descrevendo bebês e corpos boiando na água, ou de que haveriam mais de 300 corpos empilhados na cidade de Canoas/RS, denúncias de fiscalização de barcos e jet skis que atuam em resgates estão sendo divulgados em redes sociais sem a devida averiguação e já foram desmentidos pela agência Lupa, criando uma situação de pânico nos usuários.”
Daqui, chama atenção duas coisas. Primeiro, a exaltação da agência Lupa, uma agência dos grandes monopólios da comunicação, do grande capital. Para o Resistência, são eles quem devem ter o monopólio da verdade!
O que é pior, no entanto, é que o grupo quer reprimir não mentiras sobre a atuação do governo federal – o que seria errado, mas mais compreensível. Ele quer reprimir denúncias que são reais e que podem muito bem partir da própria população. Afinal, em meio a centenas de prefeituras direitistas, o que é mais provável, que essas prefeituras escondam corpos boiando e os ataques à população ou que permitam que sejam divulgados?
No final das contas, o que o Resistência pede é que a podridão das prefeituras neoliberais não sejam expostas sob nenhuma hipótese.