Em meio ao recrudescimento da violência dos “colonos” israelenses contra o povo palestino da Cisjordânia ocupada, os partidos revolucionários convocaram o povo árabe da região a empreender uma Intifada, palavra árabe que significa “insurreição” ou “revolução”. Segundo informações da rede de TV libanesa Al Mayadeen, “as organizações da Resistência Palestina concordaram unanimemente em confrontar os colonos que estão atacando cidadãos e suas propriedades em diferentes áreas da Cisjordânia há dois dias [desde o último dia 11]”.
O canal na rede social Telegram do órgão Resistance News Network (RRN) divulgou o chamado feito pelo principal partido da Resistência Palestina, o Movimento Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), que chamou uma mobilização revolucionária contra a “escalada de ataques frenéticos”:
“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
A escalada de ataques frenéticos realizados pelas milícias de colonos contra nosso povo inabalável nas cidades, vilarejos e povoados da Cisjordânia e os ataques selvagens aos cidadãos, suas terras, casas e propriedades – tudo isso sob a supervisão direta do governo fascista dos colonos, e com total proteção do exército de ocupação – são descritos como crimes de guerra cometidos pelo inimigo sionista, ao liberar seus rebanhos de colonos para causar estragos nas terras palestinas, em um esquema que visa a tomar as terras da Cisjordânia e expulsar e deslocar seu povo de lá.
Exortamos as massas de nosso povo e nossos heroicos combatentes, na Cisjordânia de Ayyash, Abi Hunood, Tawalbeh e Al-Karmi, a se levantarem em uma intifada contra esses esquemas, a intensificarem o movimento revolucionário e de resistência, a entrarem em confronto com o inimigo sionista e suas milícias criminosas de colonos, a enfrentarem esses ataques selvagens e a completarem a coesão heroica na batalha do Dilúvio de Al-Aqsa, com nosso povo na Faixa de Gaza e sua valente resistência.
Esses graves ataques, que têm como alvo nosso povo e sua existência em sua terra, exigem que a liderança da Autoridade [Palestina] e as Forças de Segurança [da AP] na Cisjordânia estejam alertas e exerçam o papel que lhes foi confiado, para proteger nosso povo que sofre com o peso das batidas e invasões diárias, operações de assassinatos e prisões e crimes diários dos colonos. É dever de todo membro livre e honrado de nosso povo correr para dissuadir esses criminosos de sua agressão e selvageria.
De fato, o inimigo sionista tem praticado contra os filhos do nosso povo palestino as formas mais brutais de terrorismo, por meio de massacres contínuos e um genocídio na Faixa de Gaza, bem como crimes e violações crescentes na Cisjordânia, de uma maneira que o mundo não observou nos regimes de apartheid mais hediondos, o que exige que o nosso povo palestino em todos os lugares se una em torno da escolha de resistir a essa ocupação fascista e que a comunidade internacional trabalhe seriamente para conter esse comportamento criminoso desonesto que se desvia de todas as leis e regulamentos internacionais.
Movimento de Resistência Islâmica – Hamas
Sábado: 04 Shawwal 1445H
Correspondente a: 13 de abril de 2024”
Ainda no mesmo órgão e corroborando o chamado do Hamas, o porta-voz militar das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa (antigo braço militar do partido Fatá, hoje, praticamente um partido dissidente), Abu Jihad, publicou uma mensagem estimulando a mobilização revolucionária do povo palestino no enclave:
“Ó heróis da Cisjordânia e de Al-Quds [Jerusalém] e de seu povo livre, ó nossos leais combatentes, unam-se contra a ocupação repugnante e seus colonos covardes e criem o pesadelo que há muito tempo assombra os sionistas, ou seja, entrem em confronto com eles e deflagrem a Intifada generalizada em todas as arenas e praças, fazendo-os pagar o preço pela usurpação de nossa terra.”
Conforme o último relatório do Ministério da Saúde, do dia 15, “desde a madrugada de sexta-feira, 12/4/2024, sete cidadãos foram martirizados pelos tiros das forças de ocupação e dos colonos na Cisjordânia, e um prisioneiro foi martirizado nas prisões da ocupação“.
“Mais de 75 cidadãos foram feridos”, continua o Ministério em seu informe, “a maioria por tiros das forças de ocupação e colonos, incluindo 14 feridos graves”. “O número de mártires na Cisjordânia desde o dia 7 de outubro passado chegou a 468, e mais de 4.800 cidadãos ficaram feridos”, conclui.
Atento à grave situação dos cidadãos palestinos na Cisjordânia, o chamado a uma revolução é acompanhado de uma denúncia do caráter criminoso da Autoridade Palestina. Na declaração emitida no último sábado (13) feita pelo partido Jiade Islâmica, a entidade foi responsabilizada pelo conjunto de organizações que compõem a Resistência como responsável pela escalada do massacre, decorrente também de “mais de 30 anos de uma política de coordenação de segurança com a ocupação israelense”:
“Jiade Islâmica Palestina:
Em nome de Alá, o Mais Compassivo, o Mais Misericordioso
As agressões criminosas cometidas pelos colonos sionistas, incitados pelo governo e protegidos pelo estabelecimento militar contra nosso povo na Cisjordânia ocupada, suas terras e seus lares fazem parte dos planos preparados pela entidade para deslocar nosso povo da Cisjordânia, e uma continuação da guerra de genocídio contra nosso povo resistente que se agarra à sua terra em Gaza.
As cenas dos colonos armados atacando nosso povo e cometendo crimes refletem a mentalidade de gangue sobre a qual a entidade foi fundada e seus esforços para arrastar a Cisjordânia para a fornalha da guerra de rua.
Ao reafirmarmos nossa aposta firme de que nosso povo na Cisjordânia enfrentará esta nova ofensiva terrorista e a frustrará, assim como nosso povo em Gaza frustrou todas as tentativas de subjugar e deslocá-los, afirmamos o seguinte:
Em primeiro lugar: As forças de resistência cumprirão seu dever em defesa de nosso povo por todos os meios e ferramentas à sua disposição.
Em segundo lugar: Responsabilizamos a Autoridade Palestina pela situação alcançada após mais de trinta anos de uma política de coordenação de segurança.
Em terceiro lugar: Responsabilizamos os regimes árabes que normalizaram com a entidade sionista, e a chamada comunidade internacional, pelos grupos de colonos descontrolados devido ao seu silêncio contínuo em relação a seus crimes e pela privação do povo palestino dos meios mais simples para defender sua terra, nação e as vidas de seus filhos.
Em quarto lugar: Chamamos a atenção das nações árabes e islâmicas para a profanação sistemática da Cisjordânia, visando estender o controle da entidade sobre a abençoada Mesquita de Al-Aqsa.
Em quinto lugar: Pedimos ao nosso povo em todos os lugares que enfrentem todos os ataques com toda a força, e pedimos a todos os árabes e muçulmanos que intensifiquem a pressão em todos os campos em defesa de nossas santidades e nossa terra, e para afirmar que defender a primeira Qibla é a causa de todos os muçulmanos e pessoas livres.
E, de fato, é uma jiade de vitória ou martírio.
Movimento Jiade Islâmica Palestina
Sábado, 13/4/2024”
Após o chamando, também no Telegram, o partido dissidente do Fatá reforçou o chamado à ação e anunciou ataques contra alvos militares israelenses, destacando que a mobilização “é uma revolução até a vitória”. No informe, o grupo guerrilheiro destacou ataques contra postos de controle e confrontos contra militares sionistas:
“Visar o posto de controle militar de Huwara em resposta aos crimes dos colonos contra nosso povo.
Em resposta aos crimes da ocupação e de seus colonos contra nosso povo inabalável, pela graça e pelo sucesso de Alá, na tarde deste sábado, 4 de Shawwal 1445 AH / correspondente a 13-04-2024 AD, nossos combatentes atacaram o posto de controle militar de Huwara, ao sul da cidade de Nablus, lançando pesadas barragens de balas e entrando em confronto com as forças de ocupação no posto de controle, causando ferimentos diretos entre eles.
Nossas operações continuam, e é uma revolução até a vitória.”
Outro participante da revolução, as Brigadas Al-Nasser Salah Al-Din anunciaram ter bombardeado “um grupo de veículos e soldados inimigos ao norte do campo de Nusseirat [cidade na Cisjordânia] com morteiros de alto calibre”. O número de baixas entre os palestinos ainda é grande, mas como demonstram os relatórios das organizações que compõem a Resistência Palestina, a reação já começou.
Atendendo ao chamado, dezenas de palestinos fecharam a entrada de Silwad, cidade localizada a nordeste de Ramalá, na Cisjordânia. Segundo a Al Mayadeen, os palestinos concentraram-se na ponte Yabrud, de onde atacaram carros de sionistas com pedras. Em outra ofensiva, a mobilização popular bloqueou o acesso à pequena cidade de Tarmusaya, atacando veículos também.
Segundo o sítio libanês, a convocação está especialmente concentrada nas universidades da Cisjordânia, com os estudantes protagonizando o confronto contra os colonos sionistas e organizando a formação de comitês de autodefesa para proteger as áreas atacadas pelos israelenses.