Na última segunda-feira (18), ocorreu na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, entre 10h e 14h, um grando ato em solidariedade à Palestina, denunciando o genocídio cometido pela ditadura sionista de “Israel”. A manifestação reuniu caravanas vindas de diversas partes do Brasil, que enfrentaram uma verdadeira operação de guerra por parte da Polícia Militar e do aparato de repressão estatal, marcada por atos de sabotagem, intimidação e violência contra o direito de organização e manifestação política.
Entre os relatos de repressão, o mais emblemático é o de Francisco Muniz, jovem militante do Partido da Causa Operária, membro da direção do Partido e coordenador de um dos ônibus que saiu de São Paulo em direção ao ato. Ao Diário Causa Operária, Muniz destaca o “pesadelo” que foi o retorno a São Paulo da caravana por ele coordenada:
“Eu fiquei chocado, na verdade, foi um pesadelo. Estávamos em um ônibus, nos preparando para retornar a São Paulo, já havia terminado a manifestação em apoio à Palestina realizada no Rio de Janeiro e de repente, a PM começou a agir de uma forma completamente absurda, foram truculentos com os motoristas de ônibus e de repente, fizeram o nosso ônibus sair sem todos estarem dentro, o que gerou um caos. Uma companheira nossa tinha descido para procurar uma família que viera com a gente, mas que ainda não tinha embarcado e acabou ficando para trás. Achei aquilo surreal, mas imaginei que em algum momento, fosse conseguir voltar à Cinelândia e buscar os companheiros que ficaram. Ledo engano. O que aconteceu foi ainda mais surreal. A PM não só não nos impediu de fazer isso, como ainda ‘escoltou’ o ônibus para fora da cidade, baseados na própria cabeça deles. Essa expulsão acabou nos obrigando a parar em um posto na Dutra, já na rodovia que liga o Rio a São Paulo, uma coisa totalmente louca. Isso é um ataque frontal ao direito constitucional de ir e vir. A PM do Rio agiu como uma força auxiliar da ditadura sionista, controlando e perseguindo manifestantes sem nenhum respeito pelos direitos da população brasileira. Nunca vi nada assim. Foi um ataque claro e direto à liberdade de manifestação, além de uma demonstração de como o governo pode agir de forma criminosa, sem nenhum pudor em violar a Constituição de maneira escancarada.”
Desde o início da mobilização, a Polícia Militar do Rio de Janeiro, seguindo ordens da Polícia Federal, atuou para esvaziar e dificultar o acesso à manifestação. Estações de metrô foram fechadas, o entorno da Cinelândia foi cercado por grades, e um carro de som, indispensável para a organização do ato, foi interceptado a várias quadras do local e escoltado para fora. Além disso, policiais confiscaram equipamentos e intimidaram manifestantes por meio de revistas arbitrárias, numa clara tentativa de desmobilizar o protesto.
A decisão de expulsar os ônibus de manifestantes do Rio de Janeiro é um ponto culminante dessa política repressiva. O deslocamento forçado dos veículos, sem qualquer justificativa legal, viola frontalmente o direito constitucional de livre circulação.
A repressão do dia 18 não foi obra exclusiva da Polícia Militar do Rio. Testemunhas confirmaram ao Diário Causa Operária que a operação partiu de “uma ordem que veio do G20”, indicando que o próprio governo federal teria ordenado a repressão ao movimento.
Militante do PCO e integrante da equipe de convocação do evento, Thiago Assad também deu um depoimento, destacando as manobras criadas pela esquerda para desmobilizar o ato, percebidas por ele nos dias que antecederam a manifestação.
“Nos dias que antecederam o ato, ficou claro que a direção do PT, com o apoio de setores ligados à sua base, tentaria despolitizar o movimento com uma novidade: o G20 Social, uma versão diluída do evento, batizada ironicamente de ‘Janjapalooza’. Esse nome, que remete ao golpe tradicional da direita para atrair multidões sem um debate profundo, com apresentações musicais de artistas consagrados, uma tática muito reproduzida pelos setores mais conservadores dentro da esquerda. Entre os que se afastaram do ato, estavam pessoas próximas ao movimento de catadores, que preferiram permanecer no Rio de Janeiro até o domingo, voltando antes do evento marcado para a presença dos líderes do G20. Dois dias antes do ato, eu mesmo conversei com um grupo de estudantes de Curitiba que encontrei no bairro carioca da Lapa. Eles tinham adesivos e materiais do PCBR e foram bastante simpáticos ao serem abordados durante nossa panfletagem, mas informaram que sua caravana retornaria no domingo e, portanto, não poderiam participariam do ato. Tudo isso revela uma tentativa de desviar o foco do ato para algo mais institucional e menos combativo, quando, na realidade, precisamos de mobilização genuína e transformadora.”
A sabotagem ao ato do dia 18 expõe as contradições de um regime que, enquanto afirma respeitar a democracia, age como ferramenta de opressão para impedir qualquer mobilização popular. Os militantes que participaram do ato reafirmaram sua disposição de seguir na luta, mas a repressão orquestrada nesse dia não pode passar despercebida. Trata-se de uma afronta não apenas ao povo brasileiro, mas a todos que defendem os direitos legítimos do povo palestino.