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Partido dos Trabalhadores

Repensar sem pensar, fazendo e refazendo os mesmos erros

Dirigente petista propõe corretamente uma avaliação do desempenho eleitoral de seu partido, mas sobre bases comprovadamente fracassadas

Em sua última edição, a revista Focus Brasil, organizada pela Fundação Perseu Abramo, do Partido dos Trabalhadores (PT), publicou texto de Jonas Paulo, ex-presidente do PT no estado da Bahia. O título, Repensar fazendo e refazendo, descontada a cafonice pequeno-burguesa, desperta no leitor uma esperança de crítica à atual postura petista e, um chamado à ação, a fazer. O conteúdo, por outro lado, vai no sentido completamente oposto. Vejamos.

O artigo se inicia apresentando a eleição municipal como uma espécie de referendo sobre a popularidade do atual governo, uma consideração acertada. Nossos acordos, praticamente, sem encerram neste primeiro parágrafo. Na sequência, Jonas Paulo nos remete às últimas duas eleições municipais, 2016 e 2020, e atribui as derrotas do PT à “situação de extrema dificuldade” e ao “isolamento político” causados pelo golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff e, posteriormente, a eleição ilegítima de Jair Bolsonaro advinda da prisão irregular de Lula em 2018. Certamente o PT atravessava um momento muito difícil, mas frente aos ataques da burguesia, suas bases estavam muito mais mobilizadas do que estão hoje e, se isso não se refletiu em prefeituras e câmaras municipais, foi devido a essas eleições serem as mais suscetíveis a manipulações por meio de currais eleitorais e compra de votos. Esse tipo de entrave político só pode ser vencido mediante uma mobilização ainda maior, da evolução da consciência política das massas a fim de se libertar do controle da burguesia.

Curiosamente, o PT foi derrotado novamente este ano, apesar estar de volta ao Poder Executivo. Jonas Paulo atribui a nova derrota não mais ao isolamento – finalmente o governo Lula aliou-se a praticamente todos os partidos burgueses com exceção do Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro -, mas ao aparelhamento bolsonarista da máquina estatal.

“Agora, na volta ao governo federal, o quadro permaneceu difícil e complexo, pois as heranças e os entulhos da passagem da direita no Governo estão muito presentes e são de difícil remoção, como, por exemplo, o Orçamento Secreto e as famigeradas Emendas Pix, que permaneceram fazendo do Congresso Nacional sócios do ordenamento de despesas do Orçamento Público Federal, com os parlamentares fazendo investimentos em obras diretamente nos municípios, o que é uma anomalia administrativa e uma inversão grotesca da lógica de governo, além de ser uma imoralidade.”

Como se a corrupção e o uso da máquina pública para fins eleitorais fossem uma invenção bolsonarista! Ainda que não com os nomes de “orçamento secreto” e “emendas pix” (que nem existia à época), será que não havia corrupção em 2016 e 2020? Apesar de apenas apontar a corrupção como justificativa para as derrotas petistas, Jonas Paulo reconhece que o desempenho eleitoral de seu partido “ficou muito aquém” de seu potencial político. Contra números, não há discussões. O dirigente petista lamenta que, em São Paulo, o PT tenha feito apenas três prefeitura, resultado similar ao do estado do Rio de Janeiro e do Paraná. Em Minas Gerais, aponta crescimento de 28 para 35 das 853 prefeituras do estado, mas lamenta novamente que o resultado fique longe do patamar histórico petista.

Após listar as amargas derrotas, Jonas Paulo recai sobre um dos principais mitos petistas: a “supremacia do Nordeste”. Talvez seja uma espécie de bairrismo do dirigente baiano, que se orgulha da hegemonia política de duas décadas em seu estado, no Ceará e no Piauí. Peguemos o exemplo baiano de hegemonia.

Recentemente, o ministro da Economia, Fernando Haddad, foi entrevistado pela jornalista Mônica Bergamo e, enquanto divagava sobre a diferença sutil entre o bolsonarismo e um partido de bandoleiros políticos como o Partido Social Democrático (PSD) de Gilberto Kassad, Haddad se orgulhou do PT ter praticamente ajudado a organizar o PSD na Bahia. O ministro queria explicar que o caráter do PSD muda de estado para estado brasileiro, mas foi enquadrado por pergunta da entrevistadora que nós mesmos gostaríamos de ter feito: “mas o PT Bahia é de esquerda?”

Mas o custo da dita supremacia num dos estados mais importantes do Brasil é uma aliança com os herdeiros de Antônio Carlos Magalhães. O candidato “petista” para a capital baiana era ninguém mais que Bruno Reis, do União Brasil, protegido político de ACM Neto. Ao PT propriamente dito restaram 49 prefeituras no estado, em cidades muito menores, de pouca importância. No primeiro turno, o PT só elegeu prefeitos em duas cidades com mais de 200 mil habitantes. Escrevemos este texto antes do resultado do segundo turno que apresenta uma pequena possibilidade de reverter esse quadro desastroso.

Tudo isso seria fruto do atual papel do governo Lula que, vindo de uma situação desfavorável, “representa a transição democrática necessária para isolar o neofascismo e consolidar o Estado de Direito Democrático”. Chegamos então ao “fazer” anunciado no título. O que fazer, segundo Jonas Paulo:
“Entendemos que, vencida esta etapa de reconstrução democrática, deveremos manter uma ampla frente política para viabilizar a sucessão do Presidente Lula e, em outra correlação de forças, buscar avançar mais na linha do projeto democrático e popular na nova gestão a ser conquistada pelo PT e seus aliados.”

Sem repensar nada e sem propor refazer coisas positivas de governos petistas anteriores, Jonas Paulo conclama que “o resultado eleitoral nos chama à reflexão sobre o papel do Partido como força política que dirige a coalizão de centro-esquerda que governa o País”. Seria centro-esquerda? Além disso, o PT seria o partido que realmente governa o país, que controla o Poder Executivo? Com toda essa liberdade de ministros como José Múcio e Mauro Vieira; com ataques à Venezuela, à Nicarágua e à resistência palestina; com adesão à política de teto de gastos e a desistência de combater os altos juros que estrangulam a economia nacional?

Nada foi repensado. Para esse dirigente petista, seu partido está no caminho correto para restaurar uma tal democracia, desconhecida do povo, que deveria ser seu mandante. O dirigente cego não escuta sequer suas bases que têm críticas ao que está sendo feito e que já repensaram inúmeras vezes os erros do atual governo. Mais do que isso, estão fazendo o possível para mudar de rumo antes que seja tarde demais.

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