Em comunicado enviado à equipe deste Diário, a Rádio Folha, órgão vinculado ao jornal Folha de Pernambuco, admitiu ter imposto uma restrição de idade ao vídeo da sabatina do candidato Victor Assis, do Partido da Causa Operária (PCO). Candidato a prefeito da cidade do Recife, Assis foi entrevistado pela emissora no dia 26 de agosto, ao vivo, em transmissão simultânea pela plataforma YouTube e pelas antenas da Rádio Folha.
Assim que a sabatina foi realizada, o vídeo da entrevista foi publicado no canal da Folha de Pernambuco no YouTube, de modo que aqueles que não o assistiram ao vivo pudessem fazê-lo em outro momento. No entanto, segundo relatos, dois horas depois da publicação do vídeo, ele já não estava mais disponível.
O vídeo só foi ao ar novamente no final da manhã do dia seguinte. No entanto, com um aviso que não constava em nenhum outro vídeo das sabatinas promovidas pela Rádio Folha: o de que o usuário – isto é, a Folha de Pernambuco – havia solicitado ao YouTube para que colocasse uma restrição de idade na gravação.
Conforme diz a Google, que administra a plataforma YouTube, a restrição de idade dificulta o acesso ao vídeo, uma vez que é preciso “fazer login” para assisti-lo. Para parte do público, a necessidade de “fazer login” já dé um desestímulo para assistir ao vídeo. Além disso, vídeos com restrição não podem ser assistidos em grande parte dos sites de terceiros, o que acaba dificultando que ele seja encontrado elos mecanismos de busca normais.
Os vídeos com restrição de idade têm, portanto, o seu alcance reduzido em relação aos demais. É uma forma de censura, na medida em que acaba por fazer com que o seu conteúdo não seja visto.
Segundo o YouTube, os seguintes conteúdos devem receber a restrição de idade: violência, imagens perturbadoras, nudez, conteúdo sexualmente sugestivo ou representação de atividades perigosas. Não houve, no entanto, nada que pudesse se enquadrar em algum desses conteúdos.
No comunicado, a Rádio Folha afirmou que “precisa obedecer às orientações e regras próprias” do YouTube. E que uma dessas orientações é a de que “não podemos violar as regras que coíbem o incentivo ou a defesa de grupos que ameaçam a vida de outras pessoas”. Segundo a emissora, “o referido candidato usou um broche com a inscrição Hamas, grupo terrorista que está envolvido no conflito no Oriente Médio. Além disso, também declarou que incentiva o grupo [grifo nosso]”.
Ainda que a justificativa da Rádio Folha tenha sido a de que seria necessário cumprir com as diretrizes da plataforma para manter o seu canal no ar, a emissora se equivoca quando chama o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) de “grupo terrorista”. O Hamas não é reconhecido nem pelo governo brasileiro, nem mesmo pela Organização das Nações Unidas (ONU) como “terrorista”.
Em nenhum momento, o candidato do PCO defendeu qualquer ato que possa ser considerado violento – na verdade, denunciou, em várias oportunidades, a violência que o povo palestino sofre. Ao censurar o candidato do PCO, a Rádio Folha acabou censurando o único de todos os candidatos a prefeito do Recife que denunciou o genocídio em curso na Faixa de Gaza.
Em uma hora de entrevista, Victor Assis mencionou a palavra “Israel” cinco vezes e as palavras “Palestina” ou “povo palestino” oito vezes, contrastando com as tentativas de manter o debate político restrito a promessas de campanha, ignorando por completo o sofrimento de milhões de pessoas que vivem um processo de limpeza étnica.
Leia na íntegra a resposta da Rádio Folha: