Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

Radicalismo de conveniência

Banimento do X no Brasil fez emergir um nacionalismo e ódio de classe há muito desaparecido na esquerda brasileira

Prometemos voltar ao assunto tecnologia na semana que vem. Se bem que o tópico de hoje é relacionado ao tema, mas não trataremos diretamente da parte técnica. Precisamos falar sobre os bravos guerreiros do povo brasileiro que se levantaram em teclados e mouses contra a ingerência estrangeira de Elon Musk no País. E como são bravos!

Em nossa campanha em defesa das liberdades democráticas do povo brasileiro, do livre uso da rede social X – que com todos os seus defeitos e limitações, é a mais democrática dentre os monopólios norte-americanos -, encontramos argumentos “interessantes” em favor do seu banimento. Pode parecer uma ideia ultrapassada (como o marxismo, segundo alguns), mas, ao contrário de nossos opositores, nos daremos o trabalho de refutar seus argumentos ainda que evitem o tema em questão, o direito dos brasileiros de continuar a usar a rede social.

O primeiro deles, e talvez o mais cômico, é o da soberania nacional. “Ninguém está acima da lei”, nos informam. A decisão monocrática de Alexandre de Moraes, um juiz que não só não foi eleito como foi indicado por um presidente não eleito, Michel Temer, virou questão de orgulho nacional. Xandão desafiou um dos homens mais ricos do mundo, Elon Musk, numa afirmação do Brasil perante o interesse estrangeiro. Segundo a peça de Moraes, o X, sem representação formal no Brasil, deve se retirar e isso mostra que mesmo os mais ricos não estão acima de Vossa Majestade.

Acontece que o X ficou sem representação no país após ser intimado por nosso querido juiz a censurar deputados e senadores eleitos, decisão que não acataram sob risco de serem eles próprios, os funcionários da rede social, presos. Sem opção, dissolveram a representação local, o que levou ao banimento.

Ainda assim, tudo isso poderia ser em defesa da soberania nacional, como na China, Rússia, Irã e outros países que bloqueiam redes sociais norte-americanas como forma de conter a propaganda imperialista contra seus regimes políticos nacionalistas. Acontece que, para essa tese fazer sentido, as demais redes sociais norte-americanas, da plataforma Meta, por exemplo, teriam que ser banidas também. E, ao contrário da Venezuela, onde há um golpe de Estado em curso, no Brasil não há nenhum indício de atividade massiva nas redes sociais por parte de uma potência estrangeira. Quando houve, no passado, não fizeram nada.

Quanto ao banimento das demais redes, nos dão razão, ainda que saibam que não vai acontecer. “São todos farinha do mesmo saco [os bilionários]”. Somos obrigados a ouvir que o Partido da Causa Operária tem “bilionário de estimação”, isto é, teríamos predileção por Musk. Nesse ponto chegamos ao segundo argumento mais utilizado em favor do banimento: Musk é um bilionário e “militante da extrema-direita”, não teríamos porque nos solidarizar com ele.

Acontece que não nos solidarizamos. Novamente, apenas queremos usar o X, que, por contradições internas da burguesia imperialista, nos oferece uma brecha para que possamos nos comunicar com a nossa audiência, algo cada mais difícil nas plataformas da Meta e do Google. Por nós, tanto faz se Musk ganha ou não dinheiro no Brasil. A decisão por privá-lo desses lucros não pode envolver privar todos os brasileiros que utilizavam sua plataforma para se comunicar. No mais, os outros donos de grandes monopólios digitais não seriam também “militantes da extrema-direita”? Ah, sim, são todos “farinha do mesmo saco”.

Do mesmo saco, mas nem tanto, já que a diferença de liberdade no discurso era palpável entre as redes sociais. “O X era uma terra sem lei”, nos alertam. Na realidade, era a terra que mais se aproximava de ter lei dado que censurava muito menos as postagens de seus usuários, delegando a decisão, na maioria dos casos, para a Justiça brasileira. Ainda assim, insistem que o banimento do X logo antes das eleições seria fundamental para defender a democracia brasileira.

Engraçado, nos foi dito que a plataforma foi banida por uma tecnicalidade, por não ter representação no País. Agora é para defender a democracia? Talvez seja por isso que fomos proibidos de usar “subterfúgios tecnológicos” para contornar a decisão de Moraes.

É uma farsa completa, e muito irritante. Nossos bravos guerreiros patrióticos, mudos sobre a posição conivente do governo brasileiro com o golpe norte-americano na Venezuela, silenciosos sobre a privatização da Sabesp, sobre exercícios militares com tropas norte-americanas na Amazônia, etc… nunca foram patriotas. Inclusive atacam figuras genuinamente nacionalistas, como os militantes da Nova Resistência, como se fossem fascistas ou agentes do interesse russo no Brasil.

O ódio aos bilionários também, completamente seletivo. Se o PCO tem um “bilionário de estimação”, nossos críticos têm um “bilionário de desestimação”, porque Musk parece ser o único bilionário que os incomoda. Finalmente, Lula precisa trazer investimentos para o Brasil. Para isso, naturalmente, precisará manter os juros altos com sua mais nova indicação para o Banco Central.

Seria cômica se não fosse trágica essa vontade voraz de abdicar do direito democrático mais fundamental, o de expressar opinião. Moraes está com os dias contados. Editoriais nacionais e internacionais mostram que o juiz passou dos limites. Talvez fosse tudo parte do plano para enterrar o juiz megalomaníaco com seus apoiadores esquerdistas. O estrago político será sem tamanho.

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