Que final de semana turbulento! No Brasil pouco se notou a falha generalizada causada por atualização do software de segurança Falcon, mas na Europa e nos Estados Unidos, máquinas bancárias de autoatendimento, estações de trem, portos e até mesmo aeroportos tiveram seus serviços interrompidos em uma das maiores falhas técnicas de todos os tempos envolvendo sistemas de informação. O Falcon é um programa desenvolvido pela norte-americana Crowstrike, empresa especializada em segurança, e roda exclusivamente na plataforma Windows, da Microsoft.
O título irônico de nossa coluna refere-se ao fato de que o software de segurança foi justamente o responsável pela falha que deveria prevenir. O Falcon supostamente protege as máquinas Windows que controlam esses serviços críticos para o funcionamento da sociedade e perigosos hackers russos, norte-coreanos, chineses ou iranianos. Quem diria que os hackers seriam o próprio “antivírus” da Crowdstrike.
Esse episódio é extremamente cômico porque tanto o uso de Windows, como a instalação do Falcon nesses computadores não são necessários, mas são imposições desses monopólios. A Microsoft cobra uma licença por seu sistema operacional para cada computador em que está instalado e os contratos impostos aos governos garantem uma receita exorbitante, sendo que uma simples distribuição Linux estaria mais do que apta para esses casos de uso simples e sem custo algum. É por isso que países atrasados que puderam optar pelo sistema aberto não sofreram com a paralisação dos serviços. Além disso, as restrições de segurança impostas artificialmente aos serviços públicos que exigem a instalação de “ferramentas” como o Falcon completaram o serviço.
Aliás, a Crowdstrike é uma empresa diretamente ligada aos serviços de inteligência norte-americanos, com ex-agentes do aparato repressivo global integrando a direção da empresa. Os supostos especialistas em segurança ainda estão envolvidos em “expor” a intervenção de hackers russos no vazamento de emails durante a campanha presidencial de Hillary Clinton em 2016, caso mais conhecido por Russiagate. A Crowdstrike serviu para dar um ar técnico à acusação sem nenhum fundamento de que o concorrente de Clinton, Donald Trump, teria colaborado com o governo russo para sabotar a campanha democrata.
A operação maléfica dos monopólios não é surpresa, mas somos frequentemente surpreendidos por sua franca decadência e ineficiência. Desde aviões da Boeing que não conseguem ficar com suas portas presas à carcaça da aeronave – recorrendo ao assassinato de ex-funcionários que denunciam as más práticas da empresa – a remédios que causam danos à saúde da população como o que houve com os opioides distribuídos a rodo pela Purdue nos Estados Unidos. Agora, o serviço de proteção contra hackers hackeou a infraestrutura dos principais países imperialistas e paralisou tudo por algumas horas. Desse jeito, quem precisa de inimigos sabotadores?