Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

Quem vigia os vigilantes?

Falha em atualização de software de segurança Falcon, desenvolvido exclusivamente para Windows, causou pane geral em milhões de dispositivos ao redor do mundo

Que final de semana turbulento! No Brasil pouco se notou a falha generalizada causada por atualização do software de segurança Falcon, mas na Europa e nos Estados Unidos, máquinas bancárias de autoatendimento, estações de trem, portos e até mesmo aeroportos tiveram seus serviços interrompidos em uma das maiores falhas técnicas de todos os tempos envolvendo sistemas de informação. O Falcon é um programa desenvolvido pela norte-americana Crowstrike, empresa especializada em segurança, e roda exclusivamente na plataforma Windows, da Microsoft.

O título irônico de nossa coluna refere-se ao fato de que o software de segurança foi justamente o responsável pela falha que deveria prevenir. O Falcon supostamente protege as máquinas Windows que controlam esses serviços críticos para o funcionamento da sociedade e perigosos hackers russos, norte-coreanos, chineses ou iranianos. Quem diria que os hackers seriam o próprio “antivírus” da Crowdstrike.

Esse episódio é extremamente cômico porque tanto o uso de Windows, como a instalação do Falcon nesses computadores não são necessários, mas são imposições desses monopólios. A Microsoft cobra uma licença por seu sistema operacional para cada computador em que está instalado e os contratos impostos aos governos garantem uma receita exorbitante, sendo que uma simples distribuição Linux estaria mais do que apta para esses casos de uso simples e sem custo algum. É por isso que países atrasados que puderam optar pelo sistema aberto não sofreram com a paralisação dos serviços. Além disso, as restrições de segurança impostas artificialmente aos serviços públicos que exigem a instalação de “ferramentas” como o Falcon completaram o serviço.

Aliás, a Crowdstrike é uma empresa diretamente ligada aos serviços de inteligência norte-americanos, com ex-agentes do aparato repressivo global integrando a direção da empresa. Os supostos especialistas em segurança ainda estão envolvidos em “expor” a intervenção de hackers russos no vazamento de emails durante a campanha presidencial de Hillary Clinton em 2016, caso mais conhecido por Russiagate. A Crowdstrike serviu para dar um ar técnico à acusação sem nenhum fundamento de que o concorrente de Clinton, Donald Trump, teria colaborado com o governo russo para sabotar a campanha democrata.

A operação maléfica dos monopólios não é surpresa, mas somos frequentemente surpreendidos por sua franca decadência e ineficiência. Desde aviões da Boeing que não conseguem ficar com suas portas presas à carcaça da aeronave – recorrendo ao assassinato de ex-funcionários que denunciam as más práticas da empresa – a remédios que causam danos à saúde da população como o que houve com os opioides distribuídos a rodo pela Purdue nos Estados Unidos. Agora, o serviço de proteção contra hackers hackeou a infraestrutura dos principais países imperialistas e paralisou tudo por algumas horas. Desse jeito, quem precisa de inimigos sabotadores?

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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