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Quem são os institutos de pesquisa que tentam golpear Maduro

Monopólios como a Exxon Mobil e o banco JP Morgan estão por trás das pesquisas fraudulentas criadas para impulsionar a mobilização golpista no país vizinho

Um dos principais instrumentos de agitação política para a campanha golpista em marcha na Venezuela, as pesquisas de intenção de voto e de boca de urna apontaram uma vitória folgada da oposição pró-imperialista, sendo, agora, usadas para contestar a reeleição do presidente Nicolás Maduro. Desde 30 de maio, o think tank AS/COA publica pesquisas realizadas por três organizações que apresentam resultados que, no melhor dos casos, apontavam que Maduro teria 24,6% dos votos contra 59,1% do candidato do imperialismo, Edmundo González Urrutia, conforme o gráfico abaixo:

Os institutos usados para as pesquisas acima são o Instituto Delphos, ORC Consultores e Meganalisis. Além deles, uma empresa norte-americana chamada Edison Research publicou uma pesquisa de boca da urna no dia da eleição, indicando que Urrutia ganharia com 65% dos votos, contra apenas 31% líder bolivariano.

O obscuro Instituto Delphos é dirigido por Félix Seijas, que, em seu perfil no X (antigo Twitter), apresenta-se como estatístico e professor da Universidade Central da Venezuela (UCV), além de diretor da Delphos, C.A. Há tempos frequentando a agitação política da direita com suas “pesquisa”, em 2020, o órgão El Impulso usou o trabalho do professor para defender ninguém menos que o notório golpista Juan Guaidó, afirmando que, “de acordo com a mais recente sondagem, Nicolás Maduro tem apenas 20% de apoio ao seu governo, enquanto o presidente responsável pela Venezuela, Juan Guaidó [grifo nosso], tem atualmente mais de 40%”, escreveu o órgão, em publicação disponível no perfil do Instagram.

No último dia 25, Seijas também escreveu um artigo intitulado Venezuela’s Electoral Landscape Favors the Opposition antecipando que o chavismo “enfrenta uma possibilidade real de derrota nas urnas pela primeira vez em anos”.

“Os votos só têm importância se forem contados de forma justa, claro – uma perspectiva que permanece muito duvidosa num país onde o governo controla todas as alavancas do poder, incluindo a autoridade eleitoral CNE, que tem a tarefa de supervisionar a transparência das eleições e transmitir os resultados à nação e à comunidade internacional. Mesmo assim, os factores fundamentais, incluindo as sondagens e os relatórios de campanha no terreno, favorecem agora a oposição de tal forma que é possível uma vitória irreversível.
(…)
A oposição, por seu turno, alimentou a unidade desde as primárias de outubro e gerou um grande impulso. Depois de Maduro ter proibido a candidata María Corina Machado de participar nas eleições, a oposição unificou-se em torno de um ex-diplomata pouco conhecido, de fala mansa e relativamente não ideológico: Edmundo González Urrutia. O resultado tem sido uma campanha inebriante e cheia de energia, liderada por Machado. Atraiu multidões, mesmo em cidades pequenas, com eventos que conseguiram contornar a intensa censura dos meios de comunicação social do governo através da campanha presencial.“

Além da campanha aberta, chama atenção o órgão em que a propaganda anti-chavista de Seijas foi publicada: a revista norte-americana Americas Quartely (AQ). Tendo em seu conselho editorial figuras como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o banqueiro Armínio Fraga, a revista é editada também pelo AS/COA (Americas Society), responsável por difundir a pesquisa do instituto de Seijas.

Sobre o think tank que publicou tanto a pesquisa quanto o artigo de Seija, o Americas Society, uma consulta ao seu corpo de membros não deixa dúvidas de que se trata de uma organização profundamente imperialista. A lista de empresas responsáveis inclui nada menos que o maior monopólio petrolífero do planeta, a Exxon Mobil Corporation, bancos como JP Morgan, Citigroup, Bank of America, BlackRock, HSBC, bancos “brasileiros” como Safra National Bank of New York, Bradesco, BTG Pactual e uma dezena de monopólios imperialistas.

Como se não bastasse, o Americas Society foi fundado em 1965 por ninguém mais, ninguém menos que David Rockefeller, um dos maiores imperialistas da história.

Além do Instituto Delphos, a ORC Consultores é uma das empresas responsáveis pelas pesquisas que impulsionam as mobilizações golpistas. Seu fundador e presidente é Oswaldo Ramírez Colina, que, segundo o sítio da empresa, “é um proeminente consultor político que desenvolveu a sua atividade profissional durante os últimos 17 anos na Venezuela, no Caribe e em vários países da América Central nas áreas da consultoria estratégica, risco político e gestão de crises para diferentes empresas e corporações transnacionais e governos [grifo nosso]”.

O sítio da ORC informa ainda que Colina “completou a sua formação profissional […] na Universidade de Georgetown em terrorismo e contra-terrorismo”. Por fim, o sítio da empresa destaca que “os setores com os quais colaboramos são: Energia, Petróleo e Gás; Alimentação e Bebidas; Finanças, Banca e Seguros; Consumo Massivo; Fundos de Investimento; Logística e Segurança; Telecomunicações; Media; Sociedade; Saúde e Farmacêutica; Promoção do Investimento na Venezuela”.

Por meio de sua página no LikedIn, é possível encontrar qual foi, exatamente, o curso feito por Colina em Georgetown. Acessando a página da universidade, sediada em Washington, chega-se à seguinte descrição:

“Este curso sobre terrorismo explorará as nuances envolvidas na definição de terrorismo, a natureza da Al Qaeda, Hamas, Estado Islâmico e outros grupos importantes, a eficácia de diferentes ferramentas de contraterrorismo, como detenção e força militar, as ligações (ou a falta delas) entre terrorismo e religiões mundiais como o Islã, recrutamento de terroristas, contraterrorismo e o estado de direito, o contexto político no Sul da Ásia e no Oriente Médio, e o uso da tecnologia pelos terroristas.”

Por fim, temos a Meganalisis. Fundada e presidida pelo engenheiro Ruben Chirino Leañez, seu perfil verificado no X traz publicações como “é muito mais que uma fraude, é um golpe de Estado contra a soberania popular. As cartas estão lançadas!”, em comentário ao resultado das eleições. Seu perfil, inclusive, é recheado por publicações que não deixam dúvidas quanto às inclinações direitistas de Leañez, que se orgulha de ter publicado, em 2021, o artigo intitulado 5 puntos para captar la atención y ganar la confianza, de la mayoría de los venezolanos (The Freedom Post, 5/11/2021), trazendo pérolas como o trecho abaixo:

“Os venezuelanos (mais de 70%) responsabilizam o socialismo pela sua péssima qualidade de vida, pelos maus serviços públicos, pelo baixo poder de compra e pela dolorosa fragmentação familiar causada pela migração que afeta diretamente 64% dos agregados familiares do país. Para ganhar a confiança dos venezuelanos, é preciso ser aberta e veementemente antissocialista, confrontando ferozmente as ideias socialistas e de esquerda [grifo nosso], sem qualquer receio dos paradigmas concebidos na sociedade venezuelana.”

Por fim, o jornalista norte-americano Ben Norton destacou o caso da Edison Research, empresa sediada no estado norte-americano de Nova Jérsei, em reportagem dedicada a denunciar que “a oposição venezuelana e os meios de comunicação social norte-americanos afirmam que houve fraude nas eleições de 28 de julho, com base numa sondagem à boca da urna realizada pela empresa Edison Research, ligada ao governo dos EUA, que trabalha com órgãos de propaganda estatal norte-americanos ligados à CIA e que esteve ativa na Ucrânia, Geórgia e Iraque” (US gov’t-linked firm is source of exit poll claiming Venezuelan opposition won election, Geopolitical Economy Report, 29/7/2024).

Segundo o jornalista, “os principais clientes da Edison incluem os meios de propaganda do governo dos EUA ligados à CIA, a Voice of America, a Radio Free Europe/Radio Liberty e a Middle East Broadcasting Networks, todos eles operados pela US Agency for Global Media, um órgão sediado em Washington que é utilizado para difundir desinformação contra os adversários dos EUA”, informou, acrescentando também que “a Edison Research trabalhou igualmente com a BBC, um meio de comunicação social estatal do Reino Unido”.

O jornalista lembra, também, que a boca de urna da empresa norte-americana indicava que “Edmundo González Urrutia ganharia com 65% dos votos, contra apenas 31% para Maduro”, resultado amplamente citado “pelo líder da oposição de extrema direita da Venezuela, apoiado pelos EUA, Leopoldo López, bem como por meios de comunicação ocidentais como o Washington Post, o Wall Street Journal e a Reuters”.

As pesquisas que apontavam a derrota acachapante de Maduro não foram consequência de um engano inocente, como se vê, mas o resultado de uma política deliberada, feita por pessoas alinhadas aos interesses imperialistas e sem nenhum escrúpulo para subordinar a nação vizinha aos monopólios internacionais. São esses monopólios, Exxon Mobil Corporation, JP Morgan e afins, os responsáveis pela política que tem colocado a esquerda na defensiva quanto à necessidade de defender a Venezuela e a vitória de Maduro, o que precisa ser feito com a máxima energia e a clareza de que o Brasil será o próximo.

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