A emissora libanesa Al Mayadeen publicou o artigo Bolsonaro’s downfall is a major blow to Zionism in Latin America (A queda de Bolsonaro é um golpe significativo contra o sionismo na América Latina, em tradução livre), assinado pelo jornalista brasileiro Yuri Ferreira. Em seu artigo, Ferreira afirma que a prisão iminente de Bolsonaro representará uma derrota histórica para o sionismo na região. Diz ele:
“Após a acusação formal, Bolsonaro reconheceu que seu provável destino será o encarceramento. Contudo, isso não é apenas uma perda política para ele: muitos de seus aliados perderão o mais proeminente e popular direitista do Brasil. Um grupo, em particular, terá dificuldade em encontrar um substituto para ele: os sionistas.”
A análise de Ferreira tropeça logo de início ao atribuir a um eventual encarceramento de Bolsonaro a caracterização de “derrota” significativa para os sionistas na América Latina. A realidade, porém, é que o sionismo vai muito além figuras individuais como Bolsonaro. Ele é parte integrante do projeto político e militar do imperialismo, cujas bases de sustentação incluem não apenas a direita tradicional, mas também elementos infiltrados em governos e instituições do regime.
A contradição é gritante: se a prisão de Bolsonaro será obra da Polícia Federal (PF), das forças judiciais e dos monopólios de comunicação, não seria exagero concluir que os maiores antissionistas do País seriam justamente o Mossad e a CIA, que influenciam direta e decisivamente essas instituições da “democracia” imperialista brasileira. Provas não faltam.
A PF já protagonizou episódios emblemáticos de repressão a apoiadores da Palestina no País, como a detenção arbitrária do ativista Thiago Ávila após retorno do militante do PSOL do Líbano e do brasileiro Lucas Passos, preso com base em acusações fabricadas pelo Mossad. Além disso, a própria PF impede regularmente a entrada de árabes e palestinos no Brasil com base em critérios políticos. Seria esse aparato realmente uma ferramenta de luta antissionista?
“Enquanto Lula emerge como um crítico proeminente das políticas sionistas, Bolsonaro continua a associar-se ao regime israelense. Lula, no entanto, não é um antissionista; ele está sob pressão de grupos pró-palestinos para cortar laços com Telavive e suspender exportações de petróleo brasileiro para empresas israelenses.”
Embora Ferreira reconheça a limitação da política de Lula, ele falha em identificar uma questão crucial: essa limitação se deve à pressão exercida sobre o presidente, que não vem apenas do imperialismo, mas, sobretudo, das forças sionistas infiltradas na esquerda. A política de frente ampla, que busca alianças a qualquer custo com setores conservadores, acaba neutralizando iniciativas mais audaciosas em defesa da Resistência Palestina e contra o sionismo. É nessa conjuntura que surgem as campanhas pela “defesa das instituições” e pela “democracia”, que, ironicamente, fortalecem a própria estrutura repressiva controlada pelo imperialismo.
A excitação em torno da nova possível prisão de Bolsonaro é um exemplo claro dessa manipulação feita pela direita. Ao aplaudir ações da justiça golpista, os esquerdistas não percebem que estão, de fato, endossando um programa que, a longo prazo, é utilizado contra ela mesma.
O combate ao sionismo no Brasil não se dará por meio de julgamentos promovidos por um Judiciário controlado por interesses imperialistas. Ao contrário disso, é preciso adotar uma estratégia inspirada na Resistência Palestina e árabe, que enfrenta diretamente o sionismo sem depender de intermediários ou da conivência de organismos internacionais como a ONU, apoiando-se em suas próprias bases sociais para tal.
A verdadeira derrota do sionismo no Brasil passa pela mobilização autônoma e independente dos trabalhadores, camponeses, estudantes e dos movimentos sociais. Só uma luta consciente contra o imperialismo e suas manifestações internas poderá minar as bases do sionismo no País.
Concretamente, isso significa enfrentar não apenas Bolsonaro, mas toda a direita e seus representantes no governo e das instituições que pressionam o bolsonarismo por um acordo, mas não querem prendê-lo de fato, como não querem atirar Netaniahu em uma masmorra em Haia, na Holanda, onde fica o Tribunal Penal Internacional. O que a Resistência árabe faz ao combater a ditadura sionista, seja com bandeiras de Israel ou dos EUA, deve ser replicado aqui. Essa é a única política capaz de trazer uma derrota real para o bolsonarismo e para o sionismo.