No artigo Maduro quer riscar o Brasil do BRICS, o colunista Alex Solnik se mostra escandalizado ao dizer que: “a Venezuela já tachou Lula de espião da CIA, de mentir sobre o acidente em que bateu a cabeça e agora Maduro disse que o B de BRICS não é de ‘Brasil’, e sim de ‘Bolívar’, cujo herdeiro, é claro, é ele mesmo”. O jornalista, então, continua, dizendo que “Maduro não precisava dizer mais nada para confirmar a suspeita de que o plano de Putin é elevar a Venezuela a líder da América Latina, e rebaixar o Brasil a coadjuvante, por um motivo geopolítico evidente: o Brasil não tem as reservas de petróleo da Venezuela, nem a Rússia tem joint-ventures com a Petrobras e sim com a PDVSA”.
Ora, e qual joint-venture tinham os russos com Petrobrás quando fundaram o BRICS com o Brasil ou quando apoiaram a ex-presidenta Dilma Rousseff para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do BRICS? O próprio argumento de que a Venezuela quer “rebaixar o Brasil a coadjuvante” no BRICS é um disparate com características cômicas, diante da total desproporcionalidade entre as dimensões venezuelanas e brasileiras. Solnik tenta convencer o público de que a Rússia, parceiro histórico do País, estaria por trás de um suposto plano para deslocar a república brasileira, preferindo aliar-se a um país “mergulhado na miséria” como a Venezuela. A realidade, no entanto, é que o BRICS sempre se fundamentou na cooperação, não na competição entre seus membros, sendo uma forma de enfrentar as tentativas do imperialismo de asfixiar os países atrasados.
Solnik se apressa em usar a Venezuela como espantalho, tentando pintar Maduro como uma ameaça ao “protagonismo brasileiro” no BRICS, ignorando que o bloco é, de fato, uma das poucas alianças que oferecem aos países atrasados a possibilidade de escapar do domínio asfixiante da ditadura imperialista. A obsessão em pintar o governo venezuelano como rival do Brasil soa como um velho truque para justificar que o governo Lula ataque o bolivarianismo, alinhando-se com a política de isolamento imposta pelos EUA. Esse jogo nada tem a ver com a “posição estratégica do Brasil” e tudo a ver com uma capitulação, empurrando o Brasil para longe de sua vocação histórica de liderar a integração regional.
Em outra passagem, Solnik ainda argumenta que é “mais fácil manter sob controle um país mergulhado na miséria (embora rico em petróleo e outros minérios) que sempre precisa da sua ajuda do que um país cujos indicadores econômicos têm melhorado desde a ascensão de Lula e tendem a continuar melhorando”. O que temos aqui é a mais deslavada falsificação, o que se reflete no fracasso retumbante da esquerda nas eleições, porém mais importante do que as toscas manipulações dos dados econômicos é questionar quem, de fato, busca “manter sob controle” países inteiros? Não é a Rússia ou a China, mas o próprio governo dos EUA, que Solnik sequer lembra que existe de tão comprometido que está.
Para ele, o Brasil deve “liderar” a região em nome de seus próprios interesses, mas, na prática, a política que ele defende não se dedica a liderança alguma, exceto no sentido de alinhar o País e o subcontinente aos caprichos da ditadura mundial. Sob pressão de figuras como Solnik, o governo Lula se vê cada vez mais distante dos aliados latino-americanos e próximo de um alinhamento nocivo com o imperialismo. Essa é a verdadeira ameaça ao protagonismo brasileiro: não a Venezuela ou a Rússia, mas a covardia de um governo que pressionado pelos EUA, ataca nações muito mais pobres e em dificuldades.
Solnik chega ao cúmulo de afirmar que o próprio BRICS favoreceria a Venezuela em detrimento do Brasil, ignorando o papel estratégico que essa aliança desempenha para todos os seus membros. Ele ataca com uma fúria quase cômica a possibilidade de que Maduro tenha algum protagonismo no BRICS, mas convenientemente esquece que o bloco surgiu justamente para criar uma alternativa ao poderio hegemônico dos EUA. A paranoia sobre um suposto “plano de Putin” para “submeter o Brasil” só demonstra o quanto a pressão para que o governo Lula rompa com a Venezuela e adote uma postura hostil ao bolivarianismo serve exclusivamente à direita — que Solnik, em última análise, defende.
No final das contas, quando Solnik afirma que a Venezuela “quer riscar o Brasil do BRICS”, o que ele realmente deseja é pavimentar o caminho para que o próprio Brasil, sob pressão de uma diplomacia submissa, abandone o bloco. Enquanto o governo brasileiro segue, em um esforço patético, para “provar” que é um parceiro confiável dos EUA, a direita torce para que qualquer vestígio de soberania brasileira seja eliminado.
É dessa forma que a posição de Solnik contribui para enfraquecer o BRICS e empurrar o Brasil para a órbita do imperialismo, usando o governo Lula como instrumento. O verdadeiro bolsonarismo da questão não está na legítima defesa de Maduro do seu país, mas na manutenção da política Ernesto Araújo, chanceler do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, no Palácio do Itamaraty (sede do Ministério das Relações Exteriores), não fez outra coisa além de seguir a política norte-americana, incluindo ataques gratuitos e fora de propósito contra a república bolivariana, um seguidismo que levou a diplomacia bolsonarista a ser alvo de críticas até mesmo, pasmem, de ninguém menos do entreguista ex-presidente Fernando Collor de Mello.