O jornalista Moisés Mendes publicou em seu blogue, no último dia 17 de novembro, artigo intitulado Com esses comunistas, quem precisa de capitalistas? onde pretende criticar a posição do PCO sobre o que ele chama de PEC da jornada de trabalho, que é o movimento contra a jornada 6 por 1. Segundo o jornalista, “a campanha contra a PEC de Erika Hilton é liderada pelo Partido da Causa Operária”.
Se o PCO lidera uma campanha ou não, fica difícil de saber. O que sabemos, isso, sim, é que o PCO é um dos poucos que está analisando em profundidade o teor da PEC. E como comunista, o PCO precisa falar a verdade, ainda que doa aos ouvidos de pessoas sensíveis e tão facilmente manipuladas pelas manobras da burguesia.
Na propaganda de Mendes, segundo o PCO, a PEC seria uma “arapuca” e a “direita iria se apropriar da campanha, como aconteceu em 2013 com o movimento pelo passe livre e a redução no preço da passagem de ônibus, e as esquerdas não teriam o que fazer”. Daí, o jornalista conclui que, ainda segundo as críticas do PCO, “não se adere à luta por uma jornada de trabalho menos escravista porque a direita se adona da pauta e usa a própria proposta contra o governo Lula e contra o povo.”
Em primeiro lugar, o jornalista está equivocado sobre a posição do PCO. O Partido realmente acredita que haja algum risco de que a reivindicação pela PEC pode se transformar numa espécie de “revolução colorida”, ou, como o próprio Mendes diz, a PEC pode ser usada posteriormente para levar a direita às ruas como em 2013.
Esse, no entanto, seria apenas um efeito secundário do problema. Secundário não no sentido de menos importante, mas no sentido de que seria apenas uma consequência posterior do problema.
Por exemplo, se aparecesse uma reivindicação legítima como foi a luta pela diminuição da passagem em 2013, o PCO apoiaria mesmo correndo o risco de que isso pudesse, posteriormente, ser manipulado pela direita. Cabe à esquerda, orientar e esclarecer corretamente – coisa que em 2013 não foi feito – para que isso não acontece novamente. Mas nunca se deve deixar de apoiar uma reivindicação popular e legítima porque há um risco de manipulação pela direita.
O problema aqui não é esse. Mendes claramente não compreendeu a crítica do PCO à PEC, ou entendeu como melhor lhe conveio. O fundamento e o ponto central da crítica do PCO é que justamente não se trata de fato de uma luta pela melhora das condições de vida dos trabalhadores e nem mesmo da diminuição da jornada.
Ou seja, o problema aqui não é que a PEC é uma luta legítima e popular que pode ser usada pela direita. Ela já é foi introduzida pela direita em sua própria fonte.
Erika Hilton, do PSOL, adotou um abaixo assinado que conseguiu magicamente quase 2,5 milhões de assinaturas, proposto por um vereador recém eleito no Rio de Janeiro, Rick Azevedo, também do PSOL, que teria criado o movimento VAT (Vida Além do Trabalho). Para quem não participa da política pode não parecer, mas conseguir criar um movimento do aquém e do além, com tantas adesões, só tem duas explicações: ou foi muita sorte, ou foi impulsionado pela burguesia.
Acreditar em sorte é muito difícil, então tudo indica que a segunda hipótese é a mais correta. E fica ainda mais claro quando descobrirmos que a imprensa capitalista está elogiando o tal do movimento. As revistas voltadas ao mercado financeiro Exame e Época Negócios fizeram reportagens elogiosas. Para quem tem dúvidas, basta acessar: https://exame.com/carreira/escala-6×1-movimento-vat-vida-alem-do-trabalho/ ou https://exame.com/webstories/carreira/escala-6×1-conheca-o-movimento-vat-vida-alem-do-trabalho/ ou https://epocanegocios.globo.com/brasil/noticia/2024/11/tiktoker-ex-balconista-e-vereador-eleito-quem-e-rick-azevedo-idealizador-de-movimento-contra-a-escala-6×1.ghtml.
Teve também matérias em tom de propaganda na Folha de S. Paulo. Apenas para que não fique dúvida, a Época é uma revista do ilibado grupo Globo e a Exame já foi do igualmente ilibado grupo Abril, mas agora pertence aos especuladores da BTG Pactual.
Mendes tem todo o direito de criticar a posição do PCO, mas seria interessante se ele entrasse de fato no argumento. Por que os capitalistas estão promovendo essa movimento? Essa pergunta é obrigatória para qualquer pessoa.
A resposta está em que esse movimento não está trazendo reivindicações dos trabalhadores. Trata-se, na realidade, de um aprofundamento da reforma trabalhista e sindical que o governo Temer – e depois Bolsonaro – colocou em prática.
Basta uma análise da PEC para descobrir que ali o que há de fato é uma defesa da flexibilização da jornada de trabalho. Por trás de uma suposta luta para diminuir a jornada há, na realidade, uma luta para flexibilizar e, portanto, sucatear ainda mais as relações trabalhistas tão destruídos durante os governos golpistas.
Ao propor a jornada 4 por 3, o que esses capitalistas querem é poder contratar e recontratar pelo período que melhor condiz para a empresa. Na PEC não há nada sobre estabilidade na contratação, menos ainda sobre a garantia salarial depois da tal redução da jornada. É por isso que um setor dos capitalistas faz propaganda desse movimento.
Para uma ala dos empresários, essa diminuição da jornada, que como dissemos é, na verdade, uma flexibilização da relação de trabalho, é vantajosa, pois a empresa não tem uma produção constante durante o ano todo. Essa flexibilização é vantajosa também para empresas que terceirizam a mão de obra, já que a maioria das contratações nesse caso são temporárias, ou seja, não há um vínculo com a empresa.
Não é à toa que a terceirização, principalmente após a reforma trabalhista, tem tomado conta das empresas, o que explica também o apoio de um setor dos capitalistas ao chamado movimento VAT. Mendes e a esquerda que embarcou criticamente nesse movimento não se deram conta, mas estão defendendo o aprofundamento da reforma trabalhista, estão apoiando aquilo que a esquerda universitária chama de “precarização do trabalho”.
Lutar pela redução da jornada de trabalho, reivindicação histórica do movimento operário e que o PCO sempre defendeu e luta de maneira intransigente, não tem nada a ver com embarcar num movimento impulsionado por um setor dos capitalistas. O jornalista deveria conhecer a posição do Partido e se aprofundar na matéria sobre a qual está escrevendo. Se ele quiser mais informações, deixamos aqui a posição do PCO, analisada por este Diário: https://causaoperaria.org.br/2024/contra-a-escala-6×1-sim-movimento-vat-e-seu-projeto-nao/.
O tal do movimento VAT é, na verdade, uma cobertura esquerdista para um golpe contra os trabalhadores.
Para o PCO, trata-se da luta por 35 horas semanais, sem redução salarial. Além disso, defende o fim da terceirização. Essa luta é comunista e os capitalistas nunca fizeram questão de a apoiar ou fazer propaganda em sua imprensa.