Oriente Médio

Quem não apoia o Eixo da Resistência não é anti-imperialista

A esquerda pequeno burguesa não consegue compreender que o governo do Irã é um enorme aliado da luta dos palestinos e de todos os oprimidos

A esquerda pequeno-burguesa é incapaz de defender as organizações de luta do Oriente Médio. Uma parte usa o Islã como se fosse um motivo para não defender as organizações, outra afirma que a República Islâmica do Irã é um governo reacionário, outros invocam o “imperialismo russo”. Em última instância, caso a Palestina não fosse uma questão tradicional da esquerda, nem ela seria defendida. É o caso do portal Workers Voice, que publicou o texto O “Eixo da Resistência” vai ajudar a Palestina?.

O texto começa afirmando que os governos reacionários árabes não apoiam os palestinos. Então afirma: “as massas palestinas frequentemente invocam o ‘Eixo da Resistência’ como um aliado estratégico. Esta fórmula refere-se à constelação de várias forças políticas— a ditadura teocrática xiita no Irã, a milícia Hesbolá baseada no sul do Líbano, as milícias Hutii Zaydi-xiitas no Iêmen e, em menor grau, as milícias apoiadas pelo Irã operando no Iraque e na Síria”. A própria caracterização é pró-imperialista: o governo do Irã é uma “ditadura” e os partidos políticos são “milícias”.

A questão seria explicar porque o Eixo da Resistência, que está atacando “Israel” por todos os lados desde outubro de 2023, não estaria ajudando os palestinos. O texto argumenta que, “apesar de muitas declarações do regime iraniano sobre seu desejo de esmagar Israel e vingar o povo palestino, pouco ou nada tem havido em termos de um confronto militar direto. Até agora, todos os engajamentos militares têm sido indiretos e laterais. Embora essas ações tenham aumentado a necessidade de solidariedade militar regional, nenhuma conseguiu realmente deter a escalada de Israel e suas ações genocidas”.

Isso não é verdade. A organização não consegue compreender que a pressão imposta pelo Eixo da Resistência diminui a capacidade de “Israel” de massacrar os palestinos. O Hesbolá sozinho conseguiu ocupar entre um terço e metade das tropas sionistas no norte da Palestina ocupada. Assim, essas forças não conseguem se manter ocupando a Faixa de Gaza. O Irã, por exemplo, está envolvido no armamento de todo esse Eixo, exercendo uma pressão enorme em “Israel”. A prova maior disso é que o exército de “Israel” está em crise total, até os generais estão renunciando.

O texto ainda afirma que “os apoiadores acríticos do Eixo celebram o Irã como um centro de resistência antissionista desinteressada. Essa visão esconde os interesses regionais do Irã e de seus patrocinadores imperialistas na região, o que, em última análise, explica sua inação”. Aqui aparece a tese do “imperialismo russo e chinês”. Seria preciso explicar como os russos e os chineses são potências imperialistas que não conseguem nem dominar o seu quintal, Ucrânia e Taiuan. A tese é absurda. Rússia e China são países oprimidos que acumularam forças e agora, após muito esforço, conseguem auxiliar outras nações oprimidas.

O texto continua demonstrando que não compreende o que acontece no Irã: “desde o início da guerra renovada em Gaza, em outubro passado, o Irã tentou evitar a escalada militar por todos os meios necessários, enquanto intensificava uma ofensiva puramente retórica contra Israel — que, no entanto, alimenta cada vez mais a perigosa narrativa de um choque de civilizações e religiões. Em novembro de 2023, Khomeini, líder do Irã, disse ao Hamas: ‘Vocês não nos deram aviso sobre seu ataque de 7 de outubro a Israel, e nós não entraremos na guerra em seu nome.’ Isso foi evidente na resposta muito moderada do Irã ao ataque de Israel ao seu consulado em Damasco, em abril”.

Aqui a incompreensão é total. O Irã não pode atacar diretamente o Estado de “Israel” em quase nenhuma ocasião, isso ocasionaria uma guerra regional com o imperialismo em diversos países. A guerra regional é a política do sionismo. O Estado de “Israel” quer que os EUA lutem a sua guerra. O Eixo da Resistência tem uma política clara, cozinhar “Israel” sem a guerra sair do controle até que o governo, ou até o Estado, desabe. Essa é também a política do Hamas. Aqui há outro ponto: o Hamas faz parte do Eixo da Resistência. É ridículo ser contra o Eixo se os próprios palestinos os consideram aliados.

Então tentam culpar o “imperialismo russo”: “o imperialismo russo atualmente equilibra sua posição no conflito, defendendo verbalmente uma solução de dois estados enquanto apoia indiretamente Israel por meio de vendas de petróleo e apoia a normalização da entidade sionista na região. A Guerra da Ucrânia solidificou a parceria do Irã com a Rússia, com o Irã fornecendo apoio militar à Rússia em troca de tecnologia militar avançada. Assim, Putin visa impedir que o Irã se envolva em uma guerra desgastante no Oriente Médio que prejudicaria seus próprios esforços de guerra”.

Novamente uma tese absurda. Além de não existir imperialismo russo, a própria tese de que Putin apoia indiretamente “Israel” é absurda. O governo Putin desde o principio tem sido um enorme aliado dos palestinos. Ele é responsável por costurar o acordo histórico entre o Fatá e o Hamas que pode acabar com uma cissão de 17 anos criada pelo Estado de “Israel”. A Rússia estava prestes a enviar armas para o Iêmen, um país em guerra com “Israel”. Na ONU, a Rússia é o maior defensor do povo palestino.

A conclusão do texto é que a maior vitória dos oprimidos do Oriente Médio em décadas, que é a criação do Eixo da Resistência, não é uma vitória real. Ele afirma: “o movimento de libertação palestino tem muito a ganhar ao recusar subordinar o apoio às lutas de massa da região para manter alianças políticas com as classes dominantes da região e seus regimes. Esses regimes famintos e oprimem seu próprio povo, assim como os palestinos dentro de suas fronteiras”. A crítica final aqui é ao Irã, não às monarquias árabes.

No fim, a critica ao Eixo da Resistência se torna a clássica crítica imperialista à China, à Rússia e ao Irã. É a esquerda incapaz de entender que as nações oprimidas, em sua luta contra o imperialismo, devem ser apoiadas. A farsa se escancara pois o texto afirma defender a Palestina. Defender a Palestina contra o sionismo não é diferente de defender o Irã contra o imperialismo.

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